Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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terça-feira, 23 de novembro de 2021

Tales de Mileto: O primeiro filósofo

 

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Tales de Mileto

 “A Filosofia grega parece começar com uma ideia absurda, com a proposição: a água é a origem e a matriz de todas as coisas. Será mesmo necessário determo-nos nela e levá-la a sério? Sim, e por três razões: em primeiro lugar, porque essa proposição enuncia algo sobre a origem das coisas; em segundo lugar, porque o faz sem imagem e fabulação; e, enfim, em terceiro lugar, porque nela, embora apenas em estado latente, está contido o pensamento: “Tudo é Um”. A razão citada em primeiro lugar deixa Tales ainda em comunidade com os religiosos e supersticiosos, a segunda o tira dessa sociedade e o mostra como investigador da natureza, mas, em virtude da terceira, Tales se torna o primeiro filósofo grego”. Nietzsche, Friedrich A Filosofia na Idade Trágica dos Gregos.

 

Tales de Mileto (640/639 ou 624/623-548/545 a.C.) é o primeiro filósofo, cabe a ele demarcar o surgimento da filosofia em solo grego. Personagem quase mitológico, pouco ou quase nada se sabe ao certo sobre sua vida. A data de seu nascimento e morte foi obtida por conjecturas e varia de comentador para comentador, o que ele fez, onde foi, com quem estudou, tudo são conjecturas baseadas na doxografia. Mesmo os pensadores mais antigos, como Platão, Aristóteles, Heródoto e Diógenes Laércio, dentre outros, quando falam sobre Tales não o fazem com fontes primárias.


 

Na Grécia antiga, quando fizeram a primeira lista dos sete homens mais sábios, coube, segundo Diógenes Laércio, que Tales a encabeçasse. Segundo alguns, nasceu e viveu em Mileto, mas há divergências. Heródoto afirma que sua origem é fenícia. Foi legislador da cidade de Mileto, matemático e astrônomo. Dentre seus enormes feitos, a tradição nos diz que este previu um eclipse solar, o que poderia ter ocorrido na data de 28 de maio de 585 a.C., ocorre que com o que sabemos hoje sobre o conhecimento que os gregos possuíam nesta época, a previsão correta de um eclipse solar soa como algo fantástico e não possível. Se escreveu alguma coisa não sabemos, mas nada que possa ter escrito chegou aos nossos dias, não havendo sequer fragmentos de suas possíveis obras citadas por autores historicamente próximos. Algumas obras que no passado foram dadas como sendo de sua autoria, hoje entende-se que não foi ele quem as escreveu. Há quem defenda que Tales nada escreveu.

Nasceu na cidade de Mileto, na região da Jônia, localizada na Ásia Menor, pertencente à assim chamada Escola Jônica. A tradição nos diz que era comerciante e que viajou por várias cidades, conhecendo outros povos, dentre os quais o Egito e o Oriente Médio, o que lhe proporcionou o contato com a matemática e a engenharia egípcias, bem como com a astronomia babilônica.

A tradição atribui a Tales as seguintes formulações e descobertas da matemática e geometria:

  • Na matemática e geometria, por meio de demonstrações dedutivas, formulou teorias sobre: a semelhança dos triângulos e as relações sobre seus ângulos, as retas paralelas, as propriedades da circunferência.
  • A demonstração de que os ângulos da base de dois triângulos isósceles são iguais.
  • A demonstração do teorema: se dois triângulos têm dois ângulos e um lado respectivamente iguais, então são iguais.
  • A demonstração de que todo diâmetro divide um círculo em duas partes iguais. A demonstração de que ao unir-se qualquer ponto de uma circunferência aos extremos de um diâmetro AB obtém-se um triângulo retângulo em C.

·        Hoje também é lembrado pelo teorema que leva seu nome, teorema de Tales, pelo qual pode-se calcular a altura a partir do comprimento de retas paralelas e de retas transversais a construção. Por meio de tal teorema teria Tales calculado a altura de uma pirâmide (Quéops) no Egito. Também é conferida a ele a descoberta do triângulo isósceles.

·        Quanto ao teorema de Tales, temos que este estabelece que se A, B e C são pontos em um círculo, onde a linha AC é o diâmetro do círculo, então o angulo ABC é um angulo reto.

·        Já quanto ao teorema da Intersecção, temos que este estabelece que, se duas retas transversais cortarem um feixe de retas paralelas, teremos medidas proporcionais nos segmentos delimitados nas transversais.

 

Também coube a Tales se debruçar sobre o problema das enchentes do rio Nilo, no Egito, e propor uma teoria para explicar as mesmas e sua periodicidade. A prosperidade do Egito antigo deveu-se a fertilidade do solo ocasionado pelas cheias do Nilo.

É atribuído a ele ter durante uma visita ao Egito, medido a altura das pirâmides utilizando-se da sombra projetada pelo sol em uma vareta fincada no chão. A ele é atribuído pela tradição o cálculo da altura da pirâmide de Quéops, que pode ser feito por dois modos, sendo o mais simples fincar uma vareta no chão e medir a altura da pirâmide quando a altura da vareta for igual a sua sombra, pois, deste modo e neste momento, a altura da pirâmide também será igual a sua sombra, cabendo, no entanto, somar a distância que vai da base da pirâmide até a sua metade. Também lhe é atribuído outro cálculo, o da distância da terra até navios no mar, por meio do uso da triangulação.

Também lhe foi atribuído o assim chamado teorema de Tales. O teorema de Tales pode ser assim enunciado: “Um feixe de retas paralelas determina sobre duas retas transversais segmentos proporcionais”.

Ele também atuou como engenheiro civil, um precursor nesta área, realizando a proeza de desviar as águas do rio Hilas para que o rei Creso passasse com seu exército.

A tradição também nos fala que participou ativamente da política de sua cidade e consta que defendeu a federação das cidades jônicas da região do Egeu e impediu uma aliança formal com Creso, último rei da Lídia (560-546 a. C.).

A tradição nos fala que certa vez caminhava olhando os céus e não viu a sua frente um enorme buraco, caindo dentro do mesmo e ao ser ajudado por uma mulher do povo (uma escrava Trácia), esta o ridicularizou dizendo “Tanto olha para o céu que não percebe o que tem debaixo dos pés”.

Também se diz que certa vez previu uma abundante colheita de azeitonas e na sequência adquiriu (comprou ou arrendou) todas as máquinas de prensa usadas para prensar as azeitonas e deste modo produzir o azeite. Como todos precisavam das máquinas e Tales era o único que as possuía, ficou rico com a empreitada somente para provar que “a filosofia não era uma coisa inútil”.

Tales era conhecido como sábio e por exercer atividade de astrônomo e geômetra. Sua previsão do eclipse, se real, provavelmente baseou-se em informações obtidas junto as observações e registros efetuadas pelos babilônios e egípcios. Além de sua teoria de que tudo seria formado pela água, enquanto arché, primeiro princípio ou princípio único, cabe também mencionar que este entendia que a Terra flutuava sobre as águas, teoria esta que pode ter sua origem nos mitos cosmogônicos oriundos do Oriente. Mas jamais devemos esquecer que por mais que Tales tenha sofrido influência na formação de suas ideias sobre o papel da água, nos mitos, sua visão de mundo rompe com tudo isto ao firmar sua explicação por meio do uso da razão.

Podemos deduzir pelo que nos chegou pela tradição sobre sua vida e obra, que Tales seria um observador inquieto, atento a tudo e buscando por meio do uso de sua razão e descartando soluções que envolvam o sobrenatural ou divino, solucionar problemas ou propor soluções mais corretas para situações de seu tempo, esta curiosidade intelectual e a busca de soluções por meio da razão irão dar origem a filosofia, bem como, ao estudo sistemático da matemática.

Desde os primórdios da história da humanidade, diante das incertezas e do medo perante o desconhecido, buscou-se explicações diversas para fenômenos da natureza e para questões tais como a vida e a morte ou a origem e fim de tudo. Explicações de cunho mítico e religioso abundaram em todos os povos e culturas no decorrer dos tempos, mas coube a Tales, da cidade de Mileto, ser o primeiro a buscar uma explicação por meio do uso da razão e baseada em um princípio único (arché), a unidade na pluralidade.

Este filósofo propõe que tudo tem a origem nesta substância, a água, e a ela retornará. Estamos diante da originalidade de se afirmar um elemento ou princípio único e primeiro de tudo que exista, elemento este que será entendido por Tales como sendo a água ou o húmido. Isto é fantástico, pois, trata-se de um ponto de ruptura com toda a tradição mítica e religiosa anterior. Agora o saber não é pautado na crença em alguma coisa qualquer e sim na investigação racional. Aliás, já que há um único princípio ou elemento material que em tudo está presente, passa a ser correta a afirmação de que “todas as coisas estão cheias de deuses”, pois todas as coisas são formadas por este princípio ou elemento, no caso, a água.

Por entender haver um princípio único, arché, que tudo formaria e que estaria presente em tudo e que este princípio é vivo, pois capaz de criar, organizar e ordenar a matéria de tudo que há, temos nele a presença do hilozoísmo, do grego, “hyle” igual a “matéria” e “zoe” igual a “vida”, segundo o qual toda a matéria ou natureza, mesmo uma pedra ou qualquer outra coisa inerte, é animada por um princípio ativo.

Podemos entender que há três teses presentes ao pensamento de Tales. 1- Que tudo é formado pela água, sendo este o elemento primordial; 2- Como a água forma tudo, então é a responsável pelas leis e pelas regras de tudo na natureza; 3- A água tem alguma coisa de divino. Não se trata aqui de ser a água divina e por este motivo ela tudo criar e organizar, não, é justamente o oposto. A água é divina pelo fato dela tudo criar e organizar. Como tudo é formado pela água, todas as coisas são divinas, o cosmos é divino, todas as coisas estão cheias de deuses. Temos aqui que deus está nas coisas, que ele é imanente e não transcendente. O divino se irradia de tudo, temos um panteísmo.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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