Por: Silvério da Costa Oliveira.
Estoicismo
Os Estoicos
O nome
estoicismo ou escola estoica provém do local onde se reuniam, debaixo de um
pórtico (Stoá) pintado (poikílé), fundada por volta de 300 a.C.. Por Zenão não
ser cidadão ateniense não podia comprar um imóvel na cidade, por tal motivo
ministrava suas aulas neste local público, o que também tornou a escola mais
acessível a todos.
Podemos dividir
o Estoicismo em três momentos históricos, com a defesa das mesmas teses básicas
da Escola. O estoicismo antigo, o médio e o novo ou romano. Temos a antiga Stoá:
Zenão de Cítio (335-263 a.C.), Aríston de Quio (século III a.C.), Cleantes de
Asso (304-233 a.C.), Crísipo de Solis (304-208 a.C.). A média Stoá: Panécio de
Rodes (180-119 a.C.), Possidônio (135-50 a.C.). O Estoicismo Romano: Sêneca (3
a.C. – 65 d.C.), Epicteto (50-125 d.C.), Marco Aurélio (121-180 d.C.).
Com inspiração no
Movimento Cínico, surge por volta de 300 a.C. e tem como fundador Zenão de
Cítio, da ilha de Chipre, que estava vivendo em Atenas desde um naufrágio do
qual conseguiu sobreviver. A tradição nos informa que Zenão teria escrito mais
de 700 livros.
Zenão era um
rico mercador da cidade de Cítio, no Chipre, após um naufrágio que lhe trouxe
grande prejuízo, foi até Atenas e ali conheceu diversos ramos de filosofia,
vindo também a fundar a sua. Tomou por base que além do mundo material que
conhecia e no qual atuava como comerciante, existia também um mundo não
material, governado pela razão.
Quando da
chegada a Atenas, por volta de 312 ou 313 a.C., e de seus estudos em filosofia,
havia várias escolas em atividade. Nesta época temos a Academia fundada por
Platão, tendo a frente, na época, Polemon, o Liceu fundado por Aristóteles, e
na época gerido por Teofrasto, o Epicurismo criado por Epicuro, as escolas
socráticas menores: os cínicos, cirenaicos e megáricos.
As questões
voltadas para a física e lógica foram desenvolvidas pelo antigo estoicismo, já
que tanto no médio, como também no novo, o interesse voltou-se quase que
exclusivamente para a ética. Tanto para o médio, como também para o novo,
entendia-se que se devia ser indiferente a todas as paixões, prazeres e dores,
mas que mesmo sendo indiferente, havia algumas coisas que eram indiferentes,
mas úteis, convenientes e preferíveis, e outras que eram inúteis, inconvenientes
e não preferíveis. Como exemplo das primeiras, temos a saúde e a riqueza.
O estoicismo
divide a filosofia em física, lógica e ética, mas há divergência entre os
estoicos quanto a ordem em que tais divisões se sucedem. Apesar de todos
concordarem que a culminância é a ética, alguns entendem que a ordem sucessiva
seria física, lógica e ética, enquanto outros defendem que seria lógica, física
e ética. Nas metáforas que temos para explicar esta divisão, algumas põe como o
início a física e outras a lógica.
Temos a metáfora
do jardim, no qual o muro que separa e divide o jardim é a lógica, as árvores
ali dentro, a física, e os frutos destas árvores a ética. Temos a metáfora do
ovo onde a lógica é a casca, a física a clara e a ética a gema. Temos a
metáfora do animal onde a lógica são os ossos, a física a carne e a ética a
alma. Todas estas colocando a ordem iniciando com a lógica e seguindo com a
física e a ética.
Temos também a metáfora
da árvore para explicar o que é a filosofia, onde a raíz representa a física
(physis), a realidade e o cosmos. O tronco representa a lógica que embasa nosso
pensamento. A copa representa a ética que apresenta o melhor modo de viver e de
como se comportar perante si-mesmo e a sociedade. Deste modo, física, lógica e
ética.
Não se aceitam
ideias inatas. A criança ao nascer é uma tábula rasa, uma folha de papel em
branco. Todo conhecimento é adquirido e provém do mundo externo. Não admitem a
existência do mundo das ideias de Platão. Só existe o individual e os objetos
particulares que são percebidos, não havendo o universal, como presente em
Aristóteles.
O estoicismo nos
traz uma filosofia com desenvolvimentos na física, lógica e ética, mas também
traz um modo de vida e um modo de conceber o mundo, uma visão de mundo ou
cosmovisão.
Para os estoicos
cada um de nós, humanos, é um microcosmos, reflexo do macrocosmos. Defendiam a
ideia de um direito natural, universalmente válido. O direito escrito é sempre
imperfeito diante do direito natural. Defendiam um monismo, onde não viam
diferença entre espírito (alma) e matéria, só haveria uma única natureza,
negando também o mundo das ideias de Platão com a sua dualidade. Assumiam uma
posição cosmopolita em relação às demais culturas e pessoas provenientes dos
mais distintos povos. Mantinham um interesse por política e tivemos dentre os
estoicos alguns estadistas e oradores famosos na Antiguidade, como podemos
citar, dentre outros: Marco Aurélio, Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca. Mas no
estoicismo novo ou romano também encontramos a figura de destaque de um ex-escravo,
Epicteto.
Segundo o
pensamento dos estoicos, nada ocorre por acaso, todos os processos naturais são
governados pela natureza, como é o caso das doenças e da morte. Cabe ao humano
aceitar o destino que lhe é reservado. Defendiam o ideal de se ter sempre uma
postura de tranquilidade diante do que a vida nos traz, sejam coisas boas ou
más, evitando ser dominado pelos sentimentos e paixões do momento.
Tanto no
Epicurismo, como no Estoicismo, temos pontos em comum a estas duas Escolas
filosóficas. Ambas eliminam de seu arcabouço teórico qualquer forma de dualismo
metafísico, assumindo um monismo materialista. Ambas combatem qualquer forma de
inatismo e colocam a origem do conhecimento nas sensações. Ambas subordinam a
investigação feita pela ciência e filosofia a um fim prático, a obtenção da
felicidade. No caso do Estoicismo, cabe ainda citar que a ciência ajuda a
proporcionar a obtenção da felicidade, bem como, a importância dada à virtude.
Esta Escola
filosófica entende que não possuímos qualquer conhecimento prévio à experiência
e que tudo que sabemos provém de nossas sensações. Entendem os estoicos que o
universo é um animal vivente e racional, possuindo em si-mesmo o princípio de
seu ser e de seu devir, sendo composto por uma alma (fogo, ar) que é o elemento
ativo, e um corpo (água, terra) que é o elemento passivo. A alma do mundo
possui uma natureza corpórea e penetra toda matéria existente. Deste modo,
temos que os estoicos adotam um deus imanente que proporciona harmonia e ordem
ao mundo, estamos diante de um tipo de panteísmo. Também adotam a tese do
grande ano, no qual, completado o ciclo, tudo se destrói para novamente
recomeçar. É a teoria do eterno retorno.
Cabe ao sábio
vencer todas as paixões e viver conforme a razão. Cabe ao sábio ter auto-domínio
a partir do uso de sua razão, entendendo que somente a virtude é o bem, e que o
vício é o mal. Deve viver de modo a não ser perturbado por qualquer
contingência externa e alheia ao seu controle. Tudo que acontece deve
acontecer, pois, faz parte da providência divina que assim seja. Cabe ao sábio
entender que tudo o que acontece é um bem, independente do que seja, deste
modo, o sábio deve querer o que acontece e não, que aconteça o que ele quer. É
isto que separa o sábio do louco. O louco é escravo de suas paixões e se
preocupa com as coisas das quais não possui controle ou poder para mudar,
buscando fugir de dores aparentes e buscar bens ilusórios. Há uma metáfora para
exemplificar esta relação com o destino, no qual o curso da vida é simbolizado
por um carro puxado por tração animal, que percorre uma estrada, e neste carro
temos um cão amarrado, este cão representa o humano. O cão deve seguir o carro,
pode até tentar ir contra a direção do carro, mas acabaria morrendo na
tentativa (infarto, cansaço extremo, etc.). No entanto, cabe algumas pequenas
variações no percurso e cabe também a decisão consciente de seguir junto ao
carro do destino.
Os estoicos são
contrários à escravidão, vendo-a como uma injustiça. Defendem a igualdade entre
todos os homens, pois todos possuem o mesmo logos. Deste modo, negam que haja
diferença entre gregos e outros povos ou entre senhores e escravos. Defendem
também que todos devem ser membros de um Estado sem fronteiras ou distinções
nacionais, apregoando um modo de cosmopolitismo. Cabe ao humano poder
realizar-se integralmente, sua virtude e perfeição por meio de sua razão e sem
o auxílio de algum deus ou divindade superior. Temos aqui um humano autônomo
que de posse de sua razão não possui qualquer dependência com deuses ou
religiões para o seu pleno desenvolvimento.
O Estoicismo põe
sua ênfase na ética e também em uma finalidade universal. Entende a filosofia
como exercício e estudo da virtude e considera o conhecimento como condição e
meio necessário para a realização do humano.
Segundo
Zenão, temos que a representação é a mão aberta, o assentimento a mão com os
dedos contraídos, a compreensão a mão fechada, a ciência a mão fechada (punho)
com a outra mão a enlaçando.
O mal encontra
seu lugar no universo, pois sem ele não haveria o bem, o mal é necessário à
harmonia universal, não haveria justiça se não houvesse a injustiça, não
haveria verdade se não houvesse a mentira, estes contrários estão ligados entre
si, de modo que não haveria um se não houvesse, também, o outro.
No tocante a
liberdade humana em um universo determinado, esta se dá por meio do
assentimento.
Cabe ao sábio
eliminar de si as paixões (apatia) e buscar a imperturbabilidade (ataraxia). As
paixões da alma são vícios e erros irracionais que devem ser evitados pelo
sábio.
Temos no
estoicismo uma postura cosmopolita que vislumbra um vínculo universal entre
todos os humanos e se mostra, também contrária a escravidão, pois, mesmo se
prevista em lei, é algo mal que deve ser combatido.
A perfeição
humana se vincula a ideia de que os humanos estão ligados à natureza, e a
virtude se dá pela subordinação à razão, devendo negar seus desejos e guiar sua
vontade pela razão, observando a natureza, e, deste modo se direcionar para a
felicidade. Sua ideia de uma providência veio posteriormente a influenciar o
desenvolvimento do conceito de providência dentro do cristianismo. Tanto no
estoicismo, como também no cristianismo, temos que tudo que existe obedece às
normas de uma razão universal (logos divino).
Dentre dos
princípios de sua doutrina, cabe destacar a ataraxia, autossuficiência, negação
de sentimentos externos e uso da razão na solução de todos os problemas e
situações da vida. Pode-se obter a felicidade por meio da ataraxia, ou seja,
evitando as perturbações e buscando a tranquilidade e serenidade na vida. Pela
autossuficiência busca-se alcançar a felicidade vivendo de acordo com a
natureza humana, mantendo responsabilidade diante de sua vida. Cabe evitar
sentimentos externos, tais como as paixões. Se render a tais sentimentos
equivale a ser imparcial e irracional, entregando-se ao vício e a todos os
males, prejudicando as decisões e o uso da razão. Tudo que ocorre em nossa vida
deve ser solucionado por meio da razão, com calma e tranquilidade.
Para os estoicos
o caminho da felicidade se dá por meio da virtude, considerada o único bem.
Para tal cabe negar qualquer sentimento externo e ser indiferente ao prazer e a
dor, entendendo que tudo é governado por uma razão universal. Os estoicos
adotam um estado de indiferença (apatheia) diante do que possa acontecer na
vida, e uma atitude cosmopolita.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa
Oliveira.
Site: www.doutorsilverio.com
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