Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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quinta-feira, 29 de junho de 2023

Giambattista Vico: A filosofia da história presente em Ciência Nova

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

G. B. Vico

Giovan Battista Vico

Giambattista Vico

 

Giambattista Vico (1668-1744) nasce em Nápoles, Itália. Se dedicou a estudar a Escolástica e o Direito, atuou como professor de retórica, filósofo, historiador, pedagogo, poeta, orador e jurista. Sofre influência do cristianismo, de Platão, de santo Agostinho e de Bossuet. Sua principal obra é “Principi di una scienza nuova d’intorno ala commune nature delle razioni, 1725 (muitas vezes abreviado na tradução como “Ciência nova”. A última versão atualizada pelo autor é datada de 1744). Seus estudos e formação foi quase totalmente autodidata. Dentro do período do Iluminismo, tende a se opor ao mesmo (anti-iluminismo ou contrailuminismo).

Entre os anos de 1686 e 1695 Vico atuou como preceptor do filho do marquês Dominico Rocca, em Vatolla (Cilento), sul de Salerno, Itália. Durante este período teve acesso a vasta biblioteca do palácio, contendo muitas obras clássicas que ele pode estudar e simultaneamente, aperfeiçoar o seu grego e latim. No ano de 1699 casa-se com Teresa Destito, amiga de infância, com quem teve três filhos, e assumiu a cadeira de retórica na Universidade de Nápoles. Em 1734 foi nomeado historiador real pelo rei Charles III, de Nápoles, que lhe proporcionou um salário maior do que o que recebia como professor de retórica, mas mesmo assim manteve a cadeira de retórica até que os problemas de saúde o obrigaram a se afastar, isto em 1741.


 

Faz uma crítica ao pensamento de Descartes sobre a aplicabilidade das ideias claras e distintas a todo o conhecimento humano, segundo Vico, tal método estaria mais adequado às matemáticas e a física, sendo em sua concepção, um método abreviado e limitado de filosofar. Uma ideia clara é uma ideia finita, e para muitas coisas humanas não é aplicável, como no caso do sofrimento, do qual não é possível captar a forma ou o limite, proporcionando a pessoa que sofre uma percepção infinita deste sofrimento. Entende que esta infinitude testemunha a grandeza da natureza humana.

Enquanto as ciências naturais e as matemáticas ganhavam destaque e importância diante do pensamento de René Descartes, bem como do movimento Iluminista, coube a Vico destacar que a imaginação, a linguagem e a história também possuem um status digno para a obtenção de conhecimento, pois, tais campos eram negligenciados pelas correntes racionalistas de seu tempo como não passíveis de produzirem um conhecimento pautado em ideias simples, claras e distintas, bem como, verdadeiro.

Segundo o pensamento de Vico, há presente na humanidade uma unidade outra que não é a razão. Esta identidade é semelhante a um senso comum, um juízo de reflexão, aceito e sentido por todo um grupo, povo ou nação, ou mesmo, por todo o gênero humano. Ideias uniformes surgem em povos distintos, sem contato entre si. Deduz que possam existir leis uniformes, independentes da razão, presentes na formação das diversas nações mundo a fora.

Segundo o pensamento de Vico, o movimento da história é cíclico, e está estruturado a partir de três idades. Vico divide a evolução dos governos na história da humanidade em três: 1- Idade dos deuses, onde temos a teocracia, 2- idade dos heróis, onde temos a aristocracia, 3- idade dos homens, onde temos um governo humano, a monarquia constitucional (ou a república constitucional), pois, o monarca garante a igualdade dos direitos. Na primeira idade temos o direito religioso, no qual tudo é propriedade dos deuses, na segunda idade temos o direito heroico onde temos uma mediação entre força e religião, na terceira idade temos o direito humano, com leis pautadas na razão. A primeira é semelhante a infância, a segunda à adolescência e a terceira ao humano adulto. Na primeira idade temos a sensibilidade, na segunda a fantasia e na terceira a razão.

A separação da barbárie para o início da civilização ocorre após o dilúvio de Noé, descrito na Bíblia, e o surgimento da sociedade humana é marcado por três elementos: 1- a religião (a crença na existência de Deus, na imortalidade da alma, na Providência divina), 2- o casamento ou matrimônio (proporcionando a criação da família onde os filhos serão educados), 3- os rituais fúnebres (enterro, cremação, culto aos mortos, etc.).

Em “Ciência nova” temos que a única verdadeira ciência é a história, mas aqui trata-se de uma história inclusiva, pois, abarca toda a produção humana (linguagem, literatura, economia, arte, ciência, filosofia, tecnologia, antropologia, etc.), se contrapondo à filosofia científica então dominante em sua época, que tende a proporcionar o status de ciência exclusivamente para as ciências da natureza, excluindo a história.

Em sua obra, busca determinar as leis naturais da história. O problema específico abordado e estudado por Vico é o problema da história, daí ser sua doutrina associada ao historicismo e também a uma antropologia. A história humana e natural é um reflexo de um mundo transcendente, de uma realidade ideal. Vico elaborou uma teoria cíclica da história e da cultura.

Com a ideia de curso e recurso Vico nos apresenta a ideia de uma histórica cíclica, mas não se trata do eterno retorno ou de uma história circular e sim algo mais próximo de uma espiral. A história retorna, mas não exatamente do mesmo modo, havendo uma evolução gradativa.

Pelo critério de verdade adotado por Vico, tem ciência plena das coisas aquele que as produziu (princípio verum-factum – verum = verdade, factum = o que é feito), já que Vico é cristão, então Deus, que criou a tudo, tem ciência de tudo, logo, a absoluta verdade é Deus. Tudo que é real, humano e físico, obtém sua clareza e inteligibilidade em Deus, ao humano enquanto ser inteligente, cabe possuir a verdade somente enquanto Deus o faz partícipe da mesma. A Providência surge na teoria de Vico como elemento essencial de sua antropologia. Em Deus está o sentido do humano. A verdade coincide com o fato construído, e a conhece aquele que participa da criação destes fatos.

Conhece a verdade sobre algo aquele que constrói ou participa da construção deste algo. Deus criou a natureza, e não o humano, portanto, cabe a Deus conhecer a natureza, sua criação. O humano criou muitas coisas no transcurso da história e estas coisas ele é capaz de entender. O artífice que cria algo conhece as causas do mesmo, vai das causas para seus efeitos, já quem não cria, conhece somente os efeitos e para conhecer as causas precisa de um procedimento indireto de ir dos efeitos até as causas. Este procedimento indireto não garante a plena veracidade de suas conclusões sobre as reais causas envolvidas. A realidade histórica é um produto do humano, logo, este conhece as causas daquilo que de fato produziu. Mesmo as matemáticas são criação humana e portanto passíveis de um conhecimento verdadeiro. Mas existe uma história ideal eterna, presente na Providência divina, trata-se de um projeto de Deus.

 Para Vico a história passa a ser entendida como um processo vivido e criado pelos humanos. É no decorrer da história que os humanos criam seus sistemas de linguagem, seus costumes variando em cada região, as leis, os mitos, as instituições. Também no decorrer da história temos a criação de organizações militares e civis vinculadas a Estados e povos diversos. As pessoas expressam no transcurso da história os seus sentimentos, sejam de esperança ou de medo. Mas Vico também aceita que conjuntamente com esta criação humana da história haja a presença de um plano maior presente na Providência Divina.

Cada qual conhece aquilo que faz, que cria. O campo próprio da ciência humana não pode, portanto, ser referente a criação de Deus e sim a criação humana. A natureza é criação de Deus, então, o campo da ciência humana não pode ser ela, e sim aquilo que foi criado por humanos, a saber: a história, a sociedade, a linguagem, a literatura, as leis, a política. Só podemos conhecer realmente aquilo que fazemos, que criamos.

Em Vico temos uma filosofia da história e, por tal conceito, entendemos uma filosofia que propõe que a história possui um sentido, uma força condutora, um destino que a fará chegar a um determinado lugar. Vico é considerado por alguns comentadores como o primeiro grande filósofo da história. A história é o produto das próprias ações do humano. Há uma história ideal eterna que se comporta como análoga a uma fôrma ou esqueleto na qual as diversas histórias reais se acomodam as linhas gerais desta em direção a um fim proposto.

Há, segundo o pensamento de Vico, uma diferença fundamental entre o certo e o verdadeiro. A física nos proporciona certezas, mas não verdades, já as matemáticas nos proporcionam verdades, mas não certezas. Somente é verdadeiro aquilo que é produzido pelo próprio, como no caso das matemáticas, produção humana, mas não no caso da física, pois esta não é produzida pelos humanos e sim por Deus, podendo ser pelos humanos somente constatada como certa. A certeza se diferencia da verdade porque a verdade nos proporciona o conhecimento das causas até seus efeitos, enquanto a certeza parte dos efeitos para obter as causas. A certeza fica no campo da verossimilhança, da probabilidade.

Somente Deus pode compreender todo o mundo, pois, foi Ele quem o fez, mas o humano pode compreender a história, pois, é sua realidade e criação. As histórias particulares se vinculam e participam de uma história eterna e ideal, em decorrência da intervenção da providência divina. A história transcorre no tempo, mas participa do eterno.

Para Vico, Homero, autor grego, nunca existiu, trata-se de um universal fantástico. A Ilíada foi escrita pelo Homero jovem, ou seja, pelos gregos em todas as suas cidades quando sua civilização estava começando. A Odisseia foi escrita por Homero velho, mas este Homero em idade avançada é na verdade todas as cidades Estado gregas em um momento posterior de sua evolução histórica. Homero é um produto coletivo dos gregos, um universal fantástico.

Vico é um autor isolado no seu tempo histórico, pois, vivendo em pleno século do Iluminismo, se contrapõe ao mesmo, por um lado se mostra presente em interesses filosóficos que o levam ao Renascimento e Humanismo, com a redescoberta de Platão e o neoplatonismo, por outro lado, se apresenta como um anunciador dos temas e problemas enfrentados pelo Romantismo e Barroco. Apresenta Vico uma filosofia da história que eleva esta disciplina a categoria de ciência, detentora da verdade por ser produto construído pelos humanos, uma história que se realiza de modo cíclico, por etapas (três) e determinista. Nele temos presente o cristianismo e a ideia da existência do Deus cristão, da imortalidade da alma e da Providência Divina.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

 


Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

terça-feira, 27 de junho de 2023

Francis Hutcheson: Liberalismo, natureza humana e interno senso moral

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Francis Hutcheson

 

That action is best, which procures the greatest Happiness for the greatest

numbers; and that worst, which, in like manner, occasions misery.

"An Inquiry into the Original of our Ideas of Beauty and Virtue", 1725.

A melhor ação é aquela que proporciona a maior felicidade para o maior

número; e a pior, que, da mesma maneira, ocasiona a miséria.

Francis Hutcheson

 

Francis Hutcheson (1694-1746) nasce no norte da Irlanda proveniente de família de origem escocesa. Seu pai atuava como pastor presbiteriano. Hutcheson estudou teologia e também atuou como pastor presbiteriano. Estudou na Universidade de Glasgow e desde 1727 ate sua morte, ele foi professor de filosofa moral nesta universidade. Antes desta data, de 1720-1722 até 1727 atuou como professor em uma escola presbiteriana em Dublin. Seus trabalhos influenciaram, dentre outros, a David Hume, Thomas Reid e Adam Smith.

Dentre suas obras mais conhecidas, podemos citar: "Investigação sobre a beleza, ordem, harmonia e desígnio", 1725; "Introdução quanto ao bem moral e o mal", 1725; "Ensaio sobre a Natureza e conduta das paixões e afecções", 1728; "Ilustrações sobre o senso moral", 1728.


 

Cabe destaque à obra "System of Moral Philosophy", 1737-1738 (mas publicada postumamente em 1755), seu trabalho mais longo e com a explicação mais completa sobre seu método e ideias. Aborda de modo amplo a questão da moralidade, traz uma discussão sobre a natureza humana, bem como sobre os deveres que as pessoas têm para com Deus, para com outras pessoas e para si mesmas; argumenta sobre o Bem supremo, a liberdade civil, direitos, contratos, casamento, direitos e deveres dos pais, sobre as leis presentes em tempos de paz e de guerra. Nesta obra se posiciona contra a instituição da escravidão.

Defende a justiça e necessidade social da existência da propriedade privada. Os direitos sobre a propriedade privada atuam como uma instituição essencial para que as pessoas tenham um real motivo e habilidade para aplicar seus conhecimentos, habilidades e esforço para melhorar o modo como vivem e deste modo, indiretamente, melhoram também as condições de vida de todos os demais dentro da sociedade.

É o principal representante da assim conhecida Escola do sentido moral. Segundo o pensamento de Hutcheson, o sentido moral e a origem e fonte de nossa consciência moral, sendo por meio de tal sentido que podemos perceber a diferença entre ações que sejam moralmente boas ou más, nos direcionando no sentido de praticarmos boas ações. Entende a moral como uma ciência baseada em fatos. A benevolência e igualada a virtude e está vinculada as ações que nós aprovamos, nos impelindo em direção ao Bem e a promover a maior felicidade de todos.

O sentido moral faz parte da natureza humana, mas não se trata da presença de ideias inatas. Somente o sentido moral é inato, a percepção que temos das qualidades morais, as nossas ideias morais, não são inatas e sim adquiridas por meio da experiência. O sentido moral neste caso mais se aproxima da vista humana, cujo sentido nos permite ver, sendo a origem de nossos estímulos visuais, os quais, no entanto, todos provêm do exterior.

Nossos conhecimentos provêm de nossas faculdades naturais e não nos são dados diretamente por Deus. Todos nossos conhecimentos são provenientes da sensação e da reflexão.

Desvincula a moral da religião. Entende que Deus e o princípio primeiro de todas as coisas. A melhor ação que podemos fazer é aquela que tende a proporcionar maior felicidade a um número maior de pessoas.

Para Hutcheson a sociedade não e formada por uma luta política de todos contra todos e sim pela cooperação em direção a um progresso comum, pois, o bem estar de todos é também o meu bem estar. Para alcançar o nível mais alto de felicidade, devo atuar para que outros possam também alcançar uma situação de bem estar.

Hutcheson pode ser entendido como um dos primeiros pensadores liberais, pois, entende que é possível uma sociedade livre, onde a maior presença de liberdades individuais favoreça o surgimento da felicidade de todos.

Para os que estudam história e política, o maior interesse sobre a obra de Hutcheson recai sobre as teorias sobre economia e liberalismo, já para quem estuda filosofia e psicologia, o maior interesse pela obra deste autor se centra em sua teoria sobre a natureza humana e o interno senso moral.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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sexta-feira, 23 de junho de 2023

Bernard Fontenelle: Iluminista e divulgador da ciência e filosofia

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Bernard Fontenelle

 Bernard le Bovier (ou Bouyer) de Fontenelle (1657-1757) nasce (11 de fevereiro de 1657) em Rouen (noroeste da França) e falece (9 de janeiro de 1757) em Paris, França, aos 99 anos de idade e faltando apenas 1 mês para completar os 100. É Sobrinho (sua mãe, Marthe Corneille, era irmã) dos acadêmicos e dramaturgos franceses Pierre e Thomas Corneille. Seu pai François le Bovier de Fontenelle era advogado e atuava na província de Rouen. Fontenelle faz parte do movimento do Iluminismo na França.


 

Estudou em um colégio jesuíta e foi secretário perpétuo da Academia de Ciências (Académie des Sciences). Em 1691 ingressou na Academia Francesa e a partir de 1697 passou a secretário permanente da ciência. Bernard Fontenelle é um cientista francês e homem de Letras. Seus interesses o fazem dramaturgo, poeta, filósofo, matemático, advogado, astrônomo e estudioso da religião. Foi membro da Royal Society.

Em 1680 publicou a tragédia “Aspar”, cuja representação foi um fracasso de crítica e público. Escreveu poemas, óperas e tragédias. Autor de várias obras, destaque, no entanto, deve ser dado a “Nouveaux dialogues des morts” (Novos diálogos dos mortos), 1683-1684; “Entretiens sur la pluralité des mondes” (Diálogos sobre a pluralidade dos mundos), 1686; “Histoire des oracles” (História dos oráculos), 1687. São de sua autoria “Gallant Letters”, 1683, com edição expandida em 1685; “Relation de l’île de Bornéo”, 1686; “Micromégas”, 1752; “De l’origine des fables”, 1724; dentre outros.

Sofre influência e adota para si a filosofia de Descartes, em particular quanto a física e a astronomia, preferindo-a no lugar da de Newton. Se aproxima do Empirismo e de uma teoria do conhecimento fundada nos sentidos. Na questão dos universais, assume uma atitude Nominalista.

Assume uma posição contrária a todas as religiões positivas, mas não uma atitude de ateísmo, pois, admite a existência de um Deus criador, a semelhança de um grande arquiteto do universo que tem o poder de tudo ordenar. Mais próximo do deísmo, e contrário as religiões positivas e também do ateísmo.

No ensaio “Histoire des oracles”, questiona as crenças e superstições, analisa a história dos oráculos e põe em dúvida se haveriam realmente aspectos sobrenaturais. Faz uma análise dos comportamentos humanos irracionais baseados meramente na crença e critica o cristianismo por meio de suas reflexões sobre o tema.

Em “De l'origine des fables” Fontenelle faz uma comparação entre as fábulas, mitos, dos gregos antigos com os nativos americanos, chegando a conclusão de que haveria uma predisposição universal dos humanos para a criação dos mitos. Ele entende os mitos como algo absurdo, mas argumenta que os mesmos teriam surgido em sociedades primitivas.

Em sua “Digressão sobre os antigos e modernos”, de 1688, Fontenelle defende a tese de que a questão em pauta deve incluir o progresso da humanidade no decorrer do tempo histórico e a consequente acumulação de conhecimento, bem como a organização e disseminação do conhecimento científico, de modo que, defende a superioridade dos modernos sobre os antigos.

Em seus trabalhos contrapõe explicações fundadas nas leis naturais e em discussões filosóficas e teológicas, com, na época, os dogmas da fé cristã. Também faz divulgação dos trabalhos de pesquisa científica então presentes, tornando-os em uma linguagem mais acessível ao leitor em geral.

Fontenelle atuou de modo a poder transmitir as mais distintas ideias provindas da ciência e da filosofia de seu tempo para a grande maioria das pessoas, tornando a linguagem científica e erudita bem mais compreensível, de modo a melhor divulgar tais ideias. Isto resultou na maior popularidade da filosofia e das ciências na França por parte das pessoas em sociedade e também estimulou vocações. O papel exercido por Fontenelle de divulgador das ideias de seu tempo, tornou as mesmas mais acessíveis para não cientistas e não filósofos, para amadores nestas artes e para o público em geral.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

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terça-feira, 20 de junho de 2023

Pierre Bayle: A filosofia não é serva da teologia

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Pierre Bayle

 

Que não me digam mais então que a teologia é uma rainha da qual a filosofia é somente a serva. Pierre Bayle

(Comentário filosófico, primeira parte, cap. I)

 

Pierre Bayle (1647-1706) filósofo, teólogo, professor e escritor, nasce em Carla-le-Comte, hoje Carla-Bayle, uma pequena vila no sul da França, e falece em Roterdã, Países Baixos. Seu pai era pastor calvinista, iniciou seus estudos na Academia Protestante de Puylaures e também estudou Filosofia no colégio jesuíta de Toulouse. Se converteu ao catolicismo, mas após algum tempo (18 meses) retornou ao protestantismo de vertente calvinista, chamado na França de Huguenote. A partir de 1661 sai da França com receio das perseguições religiosas, retornando em 1673, mas em 1680 deixa novamente a França e se retira para Roterdã. Bayle pode ser categorizado como um pensador anti-sistemático e cético.


 

Em 1682 escreve “Critique Générale de L’historie du Calvinisme de M. Maimbourg”, livro no qual faz a defesa do protestantismo praticado na França. O livro foi condenado pelas autoridades católicas e queimado na Praça de Grève, Paris. Editou a revista “Nouvelles de la République des Lettres” (Notícias da Republica das Letras) entre os anos de 1684 e 1687, na qual tratava de literatura e filosofia e que teve aceitação e influência na sua época. Após a revogação do Édito de Nantes escreve “Commentaire Philosophique”, 1686. Cabe mencionar também “Avix aux réfugiés”, 1690. Em 1681 escreve “Pensées diverses sur la comète” (Pensamentos diversos sobre o Cometa) publicado em 1694-1704, livro no qual realiza uma sutil análise sobre a superstição popular. Posteriormente publica “Continuation des pensées diverses”, 1704.

Atuou como professor de filosofia e história. Adota uma atitude cética com base em Montaigne e Pirro, entendendo que o melhor a fazer é nunca afirmar ou negar coisa alguma. Assume uma atitude de total repulsa e oposição a todo absolutismo e dogmatismo. Defendeu a tolerância religiosa e é conhecido por ser autor de uma obra muito influente nos séculos XVII e XVIII, o “Dicionário histórico e crítico”, 1696 e 1697, considerada por alguns comentadores como sua principal obra.

Em uma época de conflitos entre católicos e protestantes, Bayle procura se manter em uma posição equidistante destas controvérsias. Na opinião de Bayle, nenhuma das religiões positivas apresenta provas convincentes a razão de suas convicções, de suas verdades. Estas religiões se baseiam na credulidade humana, a qual, por sua vez, tem sua origem no respeito cego pela autoridade e pela tradição. Bayle separa a religião da razão e da moral. Pois, se a razão não prova a existência dos mistérios afirmados pela religião, por sua vez, também temos pessoas de comportamento moral sem religião, e outras religiosas cujo comportamento moral deixa muito a desejar. A experiência nos diz que a vida moral não depende das convicções religiosas.

Afirma a contradição entre razão e fé e a inutilidade das controvérsias religiosas então comuns à sua época. No lugar dos debates teológicos, é preferível adotar uma atitude que caminhe da contradição para a dúvida e desta para a indiferença, chegando, por fim, a tolerância para com todos.

Bayle defende a tolerância para com todas as crenças religiosas, combate a intolerância religiosa e considera inúteis as disputas religiosas, bem como, defende e anuncia a completa tolerância religiosa civil. Bayle entende que a violência se origina não da tolerância dos governantes, mas sim da intolerância dos religiosos.

Defensor da tolerância, Bayle entende que a verdade tida por uma dada religião não pode ser imposta a força, cabe somente ser oferecida as pessoas, pois, somente por adesão dada em liberdade esta teria valor. Bayle assume uma atitude filosófica pela qual estabelece os fundamentos racionais da tolerância. Religiões e correntes religiosas tendem a imputar a uma pessoa ou grupo, o “erro” diante da suposta verdade, entendendo este “erro” como defeito moral, nas Bayle discorda disto. Para Bayle o “erro” não é um defeito moral que possa ser imputado a quem quer que seja, estando a pessoa de boa-fé, com o “erro” se afirma e defende o direito da consciência mesmo que errônea.

Bayle entende que o ateísmo possa estar ligado à virtude, abordando o ateísmo de modo prático. Pensa no ateu como aquele que vive como se Deus não existisse, mas com uma constante disposição para manter um comportamento moral na vida prática, tal é o caso da justiça, honestidade, coragem, amizade, e outros mais. Deste modo defende a não necessidade da crença na existência de Deus para ter um comportamento socialmente adequado e virtuoso.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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