Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

Sites na Internet – Doutor Silvério

1- Site: www.doutorsilverio.com

2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

3- Blog 2 “Comportamento Crítico”: http://www.doutorsilverio42.blogspot.com.br

4- Blog 3 “Uma boa idéia! Uma grande viagem!”: http://www.doutorsilverio51.blogspot.com.br

5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://livroograndesegredo.blogspot.com/

6- Perfil no Face Book “Silvério Oliveira”: https://www.facebook.com/silverio.oliveira.10?ref=tn_tnmn

7- Página no Face Book “Dr. Silvério”: https://www.facebook.com/drsilveriodacostaoliveira

8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://www.facebook.com/O-Grande-Segredo-A-hist%C3%B3ria-n%C3%A3o-contada-do-Brasil-343302726132310/?modal=admin_todo_tour

9- Página de compra dos livros de Silvério: http://www.clubedeautores.com.br/authors/82973

10- Página no You Tube: http://www.youtube.com/user/drsilverio

11- Currículo na plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8416787875430721

12- Email: doutorsilveriooliveira@gmail.com


E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!

terça-feira, 21 de junho de 2022

Estoicismo: Indiferença para com as paixões, prazeres e dores

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Estoicismo

 Os Estoicos

O nome estoicismo ou escola estoica provém do local onde se reuniam, debaixo de um pórtico (Stoá) pintado (poikílé), fundada por volta de 300 a.C.. Por Zenão não ser cidadão ateniense não podia comprar um imóvel na cidade, por tal motivo ministrava suas aulas neste local público, o que também tornou a escola mais acessível a todos.

Podemos dividir o Estoicismo em três momentos históricos, com a defesa das mesmas teses básicas da Escola. O estoicismo antigo, o médio e o novo ou romano. Temos a antiga Stoá: Zenão de Cítio (335-263 a.C.), Aríston de Quio (século III a.C.), Cleantes de Asso (304-233 a.C.), Crísipo de Solis (304-208 a.C.). A média Stoá: Panécio de Rodes (180-119 a.C.), Possidônio (135-50 a.C.). O Estoicismo Romano: Sêneca (3 a.C. – 65 d.C.), Epicteto (50-125 d.C.), Marco Aurélio (121-180 d.C.).

Com inspiração no Movimento Cínico, surge por volta de 300 a.C. e tem como fundador Zenão de Cítio, da ilha de Chipre, que estava vivendo em Atenas desde um naufrágio do qual conseguiu sobreviver. A tradição nos informa que Zenão teria escrito mais de 700 livros.


 

Zenão era um rico mercador da cidade de Cítio, no Chipre, após um naufrágio que lhe trouxe grande prejuízo, foi até Atenas e ali conheceu diversos ramos de filosofia, vindo também a fundar a sua. Tomou por base que além do mundo material que conhecia e no qual atuava como comerciante, existia também um mundo não material, governado pela razão.

Quando da chegada a Atenas, por volta de 312 ou 313 a.C., e de seus estudos em filosofia, havia várias escolas em atividade. Nesta época temos a Academia fundada por Platão, tendo a frente, na época, Polemon, o Liceu fundado por Aristóteles, e na época gerido por Teofrasto, o Epicurismo criado por Epicuro, as escolas socráticas menores: os cínicos, cirenaicos e megáricos.

As questões voltadas para a física e lógica foram desenvolvidas pelo antigo estoicismo, já que tanto no médio, como também no novo, o interesse voltou-se quase que exclusivamente para a ética. Tanto para o médio, como também para o novo, entendia-se que se devia ser indiferente a todas as paixões, prazeres e dores, mas que mesmo sendo indiferente, havia algumas coisas que eram indiferentes, mas úteis, convenientes e preferíveis, e outras que eram inúteis, inconvenientes e não preferíveis. Como exemplo das primeiras, temos a saúde e a riqueza.

O estoicismo divide a filosofia em física, lógica e ética, mas há divergência entre os estoicos quanto a ordem em que tais divisões se sucedem. Apesar de todos concordarem que a culminância é a ética, alguns entendem que a ordem sucessiva seria física, lógica e ética, enquanto outros defendem que seria lógica, física e ética. Nas metáforas que temos para explicar esta divisão, algumas põe como o início a física e outras a lógica.

Temos a metáfora do jardim, no qual o muro que separa e divide o jardim é a lógica, as árvores ali dentro, a física, e os frutos destas árvores a ética. Temos a metáfora do ovo onde a lógica é a casca, a física a clara e a ética a gema. Temos a metáfora do animal onde a lógica são os ossos, a física a carne e a ética a alma. Todas estas colocando a ordem iniciando com a lógica e seguindo com a física e a ética.

Temos também a metáfora da árvore para explicar o que é a filosofia, onde a raíz representa a física (physis), a realidade e o cosmos. O tronco representa a lógica que embasa nosso pensamento. A copa representa a ética que apresenta o melhor modo de viver e de como se comportar perante si-mesmo e a sociedade. Deste modo, física, lógica e ética.

Não se aceitam ideias inatas. A criança ao nascer é uma tábula rasa, uma folha de papel em branco. Todo conhecimento é adquirido e provém do mundo externo. Não admitem a existência do mundo das ideias de Platão. Só existe o individual e os objetos particulares que são percebidos, não havendo o universal, como presente em Aristóteles.

O estoicismo nos traz uma filosofia com desenvolvimentos na física, lógica e ética, mas também traz um modo de vida e um modo de conceber o mundo, uma visão de mundo ou cosmovisão.

Para os estoicos cada um de nós, humanos, é um microcosmos, reflexo do macrocosmos. Defendiam a ideia de um direito natural, universalmente válido. O direito escrito é sempre imperfeito diante do direito natural. Defendiam um monismo, onde não viam diferença entre espírito (alma) e matéria, só haveria uma única natureza, negando também o mundo das ideias de Platão com a sua dualidade. Assumiam uma posição cosmopolita em relação às demais culturas e pessoas provenientes dos mais distintos povos. Mantinham um interesse por política e tivemos dentre os estoicos alguns estadistas e oradores famosos na Antiguidade, como podemos citar, dentre outros: Marco Aurélio, Cícero (106-43 a.C.) e Sêneca. Mas no estoicismo novo ou romano também encontramos a figura de destaque de um ex-escravo, Epicteto.

Segundo o pensamento dos estoicos, nada ocorre por acaso, todos os processos naturais são governados pela natureza, como é o caso das doenças e da morte. Cabe ao humano aceitar o destino que lhe é reservado. Defendiam o ideal de se ter sempre uma postura de tranquilidade diante do que a vida nos traz, sejam coisas boas ou más, evitando ser dominado pelos sentimentos e paixões do momento.

Tanto no Epicurismo, como no Estoicismo, temos pontos em comum a estas duas Escolas filosóficas. Ambas eliminam de seu arcabouço teórico qualquer forma de dualismo metafísico, assumindo um monismo materialista. Ambas combatem qualquer forma de inatismo e colocam a origem do conhecimento nas sensações. Ambas subordinam a investigação feita pela ciência e filosofia a um fim prático, a obtenção da felicidade. No caso do Estoicismo, cabe ainda citar que a ciência ajuda a proporcionar a obtenção da felicidade, bem como, a importância dada à virtude.

Esta Escola filosófica entende que não possuímos qualquer conhecimento prévio à experiência e que tudo que sabemos provém de nossas sensações. Entendem os estoicos que o universo é um animal vivente e racional, possuindo em si-mesmo o princípio de seu ser e de seu devir, sendo composto por uma alma (fogo, ar) que é o elemento ativo, e um corpo (água, terra) que é o elemento passivo. A alma do mundo possui uma natureza corpórea e penetra toda matéria existente. Deste modo, temos que os estoicos adotam um deus imanente que proporciona harmonia e ordem ao mundo, estamos diante de um tipo de panteísmo. Também adotam a tese do grande ano, no qual, completado o ciclo, tudo se destrói para novamente recomeçar. É a teoria do eterno retorno.

Cabe ao sábio vencer todas as paixões e viver conforme a razão. Cabe ao sábio ter auto-domínio a partir do uso de sua razão, entendendo que somente a virtude é o bem, e que o vício é o mal. Deve viver de modo a não ser perturbado por qualquer contingência externa e alheia ao seu controle. Tudo que acontece deve acontecer, pois, faz parte da providência divina que assim seja. Cabe ao sábio entender que tudo o que acontece é um bem, independente do que seja, deste modo, o sábio deve querer o que acontece e não, que aconteça o que ele quer. É isto que separa o sábio do louco. O louco é escravo de suas paixões e se preocupa com as coisas das quais não possui controle ou poder para mudar, buscando fugir de dores aparentes e buscar bens ilusórios. Há uma metáfora para exemplificar esta relação com o destino, no qual o curso da vida é simbolizado por um carro puxado por tração animal, que percorre uma estrada, e neste carro temos um cão amarrado, este cão representa o humano. O cão deve seguir o carro, pode até tentar ir contra a direção do carro, mas acabaria morrendo na tentativa (infarto, cansaço extremo, etc.). No entanto, cabe algumas pequenas variações no percurso e cabe também a decisão consciente de seguir junto ao carro do destino.

Os estoicos são contrários à escravidão, vendo-a como uma injustiça. Defendem a igualdade entre todos os homens, pois todos possuem o mesmo logos. Deste modo, negam que haja diferença entre gregos e outros povos ou entre senhores e escravos. Defendem também que todos devem ser membros de um Estado sem fronteiras ou distinções nacionais, apregoando um modo de cosmopolitismo. Cabe ao humano poder realizar-se integralmente, sua virtude e perfeição por meio de sua razão e sem o auxílio de algum deus ou divindade superior. Temos aqui um humano autônomo que de posse de sua razão não possui qualquer dependência com deuses ou religiões para o seu pleno desenvolvimento.

O Estoicismo põe sua ênfase na ética e também em uma finalidade universal. Entende a filosofia como exercício e estudo da virtude e considera o conhecimento como condição e meio necessário para a realização do humano.

Segundo Zenão, temos que a representação é a mão aberta, o assentimento a mão com os dedos contraídos, a compreensão a mão fechada, a ciência a mão fechada (punho) com a outra mão a enlaçando.

O mal encontra seu lugar no universo, pois sem ele não haveria o bem, o mal é necessário à harmonia universal, não haveria justiça se não houvesse a injustiça, não haveria verdade se não houvesse a mentira, estes contrários estão ligados entre si, de modo que não haveria um se não houvesse, também, o outro.

No tocante a liberdade humana em um universo determinado, esta se dá por meio do assentimento.

Cabe ao sábio eliminar de si as paixões (apatia) e buscar a imperturbabilidade (ataraxia). As paixões da alma são vícios e erros irracionais que devem ser evitados pelo sábio.

Temos no estoicismo uma postura cosmopolita que vislumbra um vínculo universal entre todos os humanos e se mostra, também contrária a escravidão, pois, mesmo se prevista em lei, é algo mal que deve ser combatido.

A perfeição humana se vincula a ideia de que os humanos estão ligados à natureza, e a virtude se dá pela subordinação à razão, devendo negar seus desejos e guiar sua vontade pela razão, observando a natureza, e, deste modo se direcionar para a felicidade. Sua ideia de uma providência veio posteriormente a influenciar o desenvolvimento do conceito de providência dentro do cristianismo. Tanto no estoicismo, como também no cristianismo, temos que tudo que existe obedece às normas de uma razão universal (logos divino).

Dentre dos princípios de sua doutrina, cabe destacar a ataraxia, autossuficiência, negação de sentimentos externos e uso da razão na solução de todos os problemas e situações da vida. Pode-se obter a felicidade por meio da ataraxia, ou seja, evitando as perturbações e buscando a tranquilidade e serenidade na vida. Pela autossuficiência busca-se alcançar a felicidade vivendo de acordo com a natureza humana, mantendo responsabilidade diante de sua vida. Cabe evitar sentimentos externos, tais como as paixões. Se render a tais sentimentos equivale a ser imparcial e irracional, entregando-se ao vício e a todos os males, prejudicando as decisões e o uso da razão. Tudo que ocorre em nossa vida deve ser solucionado por meio da razão, com calma e tranquilidade.

Para os estoicos o caminho da felicidade se dá por meio da virtude, considerada o único bem. Para tal cabe negar qualquer sentimento externo e ser indiferente ao prazer e a dor, entendendo que tudo é governado por uma razão universal. Os estoicos adotam um estado de indiferença (apatheia) diante do que possa acontecer na vida, e uma atitude cosmopolita.

 Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Epicurismo (1) * O jardim de Epicuro

 


Vídeos novos toda semana.

Inscreva-se no canal para ser informado sobre novos vídeos.

 Você gostou do vídeo? Curta e compartilhe o vídeo.

Material de apoio (artigos, textos, vídeos) nos meus blogs “Ser Escritor” e “Comportamento Crítico”. Links no site. https://www.doutorsilverio.com

 Lucrécio, poeta latino que se destaca na divulgação do Epicurismo, é o autor de um poema intitulado “Sobre a natureza das coisas”, no qual expõe a doutrina epicurista. Esta Escola tem nas suas origens Aristipo, discípulo de Sócrates, que entendia que cabia ao humano por meio dos seus sentidos obter o máximo possível de satisfação. Enquanto nas Escolas Cínicas e Estoica, objetivava-se suportar a dor e o sofrimento, na Escola Epicurista o objetivo era afastar de si a dor e o sofrimento.

Coube a Epicuro de Samos fundar na cidade de Atenas uma Escola que adota para si os fundamentos propostos por Aristipo. Esta Escola pode ser chamada de Escola dos Epicureus e nela, Epicuro mesclou, também, a teoria do átomo proveniente de Leucipo e Demócrito. A tradição nos diz que havia uma inscrição no portal que dava acesso ao jardim, na qual se lia: “Forasteiro, aqui te sentirás bem. Aqui, o bem supremo é o prazer”.

Epicuro escreveu muito, mas de sua obra resta-nos somente três cartas e alguns fragmentos e aforismos. Cabe destaque a “carta a Meneceu”, que nos fala sobre a felicidade, a “carta a Heródoto”, que nos fala sobre a física e os átomos, e a “carta a Pítocles”, que nos fala sobre os meteoros. Basicamente o que conhecemos hoje provém dos escritos de Lucrécio e de Diógenes Laércio.

Em Atenas comprou uma casa com jardim onde ministrava suas aulas e recebia os amigos, por se reunirem em um jardim, esta Escola também ficou conhecida como “os filósofos do jardim”. Divide a filosofia em três partes: 1- canônica, 2- física, e 3- ética. A canônica é a lógica, que aborda os critérios para poder distinguir entre o verdadeiro e falso. Na canônica temos que a única fonte de conhecimento é proveniente das sensações. Esta teoria do conhecimento é inspirada na teoria atomista de Leucipo e Demócrito. A física tem como objetivo libertar os humanos do medo do destino, dos deuses e da morte, longe de uma finalidade especulativa, atém-se à realidade e está subordinada à ética. A ética trata dos meios próprios para se obter a felicidade.

Para se obter o prazer, deve-se medir as consequências de um ato em relação ao prazer que este possa proporcionar em dado momento e a possível dor que o mesmo poderá proporcionar em um momento subsequente, deste modo, comer em excesso pode ser prazeroso naquele momento, mas deve ser evitado para não se ter o desprazer resultante de complicações posteriores. O prazer não estaria unicamente vinculado aos sentidos corporais e incluiria outros objetivos, como, por exemplo, a amizade ou a contemplação de uma obra de arte. Torna-se muito importante neste contexto o autocontrole, a temperança e a serenidade, bem como, se libertar do medo da morte. Temos uma ênfase grande, dentro desta Escola, de se viver o momento presente, sem se preocupar com outros temas.

Diógenes Laércio, em sua biografia de Epicuro, resumiu os principais pontos de sua doutrina para viver uma vida feliz e equilibrada, no que ficou conhecido como os quatro remédios, o tetrafármaco, a saber: 1- Não tema a deus ou aos deuses, 2- Não tema a morte, 3- As necessidades básicas e naturais vinculadas à felicidade são fáceis de serem obtidas, 4- Pode-se suportar a dor e o sofrimento.

 Em meus blogs "Ser Escritor" e "Comportamento Crítico" você encontrará um artigo / texto de minha autoria que resume as ideias deste vídeo, apresentando o tema em toda a sua complexidade. Leia:

"Epicurismo: Afastar a dor e buscar o prazer com moderação".

 Links no site para página de compra de todos os livros do autor.

Links diretos para todos os livros, artigos, textos e vídeos em meu site: https://www.doutorsilverio.com

 Link para este vídeo no YouTube:  https://youtu.be/fwHYC9i9vf4

terça-feira, 14 de junho de 2022

Epicurismo: Afastar a dor e buscar o prazer com moderação

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Não há o que temer quanto aos deuses.

Não há nada a temer quanto à morte.

Pode-se alcançar a felicidade.

Pode-se suportar a dor.

(Tese de Epicuro)

 

Epicurismo

 Epicuro (341-270 a.C.) é o fundador da Escola, e Lucrécio (96-55 a.C.), poeta latino que se destaca na divulgação do Epicurismo. Lucrécio é o autor de um poema intitulado “De rerum natura” ou “Sobre a natureza das coisas”, no qual expõe a doutrina epicurista, esta obra é dividida em seis cantos ou seis partes (livros). Dentre as três divisões do Epicurismo, a canônica, a física e a ética, nesta obra Lucrécio desenvolve com detalhes somente a física, quanto a canônica não há uma abordagem mais completa, e quanto a ética, esta é exposta de modo mais esquemático.

Esta Escola tem nas suas origens Aristipo, discípulo de Sócrates, que entendia que cabia ao humano por meio dos seus sentidos obter o máximo possível de satisfação. Segundo ele, o prazer devia ser entendido como o bem máximo e a dor como o mal máximo, deste modo, o objetivo deveria ser afastar a dor e trazer o prazer para si.

Enquanto nas Escolas Cínicas e Estoica, objetivava-se suportar a dor e o sofrimento, na Escola Epicurista o objetivo era afastar de si a dor e o sofrimento.


 

Coube a Epicuro de Samos (341- 270 a.C.) fundar na cidade de Atenas, por volta do ano 306 ou 300 a.C., uma Escola que adota para si os fundamentos propostos por Aristipo. Esta Escola pode ser chamada de Escola dos Epicureus e nela, Epicuro mesclou, também, a teoria do átomo proveniente de Leucipo e Demócrito. A tradição nos diz que havia uma inscrição no portal que dava acesso ao jardim, na qual se lia: “Forasteiro, aqui te sentirás bem. Aqui, o bem supremo é o prazer”. Posteriormente se expande até o oriente e chega, também, a Roma, mantendo-se ativa por mais de seis séculos (em 529 d.C. todas as Escolas pertencentes ao mundo da cultura grega que ainda estavam ativas tiveram de encerrar suas atividades por ordem do imperador romano do oriente, Justiniano). Epicuro teria escrito muitas obras, mas só nos chegaram fragmentos e poucas cartas, além, claro está, da doxografia.

A tradição (por parte de Diógenes Laércio) nos diz que Epicuro escreveu mais de 300 obras em seu jardim, mas todas foram perdidas, restando-nos somente três cartas e alguns fragmentos e aforismos. Cabe destaque a “carta a Meneceu”, que nos fala sobre a felicidade, a “carta a Heródoto”, que nos fala sobre a física e os átomos, e a “carta a Pítocles”, que nos fala sobre os meteoros. Basicamente o que conhecemos hoje provém dos escritos de Lucrécio e de Diógenes Laércio.

Em Atenas comprou uma casa com jardim onde ministrava suas aulas e recebia os amigos, por se reunirem em um jardim, esta Escola também ficou conhecida como “os filósofos do jardim”. A matriz ontológica da filosofia proposta por Epicuro é materialista, pautada nas sensações, empirista e com forte influência do atomismo de Leucipo e Demócrito. Evita questões puramente especulativas e se afasta da matemática por não ser a mesma prática em termos de utilidade. Divide a filosofia em três partes: 1- canônica, 2- física, e 3- ética. A canônica é a lógica, que aborda os critérios para poder distinguir entre o verdadeiro e falso. Na canônica temos que a única fonte de conhecimento é proveniente das sensações. Esta teoria do conhecimento é inspirada na teoria atomista de Leucipo e Demócrito. A física tem como objetivo libertar os humanos do medo do destino, dos deuses e da morte, longe de uma finalidade especulativa, atém-se à realidade e está subordinada à ética. A ética trata dos meios próprios para se obter a felicidade.

Para afastar o temor do sobrenatural torna-se importante a existência de uma ciência da natureza que nos auxilia na busca de uma autonomia espiritual, fim este destinado à filosofia. Para obtermos tal ciência, precisamos primeiro comprovar sua validade. O fim a ser alcançado é a ética e o meio para tal ser atingido se dá pela física, antecedida da teoria do conhecimento (canônica). A teoria do conhecimento ou canônica proposta no epicurismo, afirma que a experiência sensível é a fonte de todo saber, propondo a evidência desta experiência como critério de verdade. Epicuro também se baseia no princípio lógico da não-contradição como prova do que seja verdadeiro, dando ênfase não somente à experiência dos sentidos, mas também à razão. Por sua vez, a teoria da sensação defendida por Epicuro provém de Leucipo e Demócrito e em seus conceitos sobre os átomos, o vazio e o movimento. Este atomismo proveniente da filosofia de Leucipo e Demócrito e presente em Epicuro, tende a excluir toda finalidade, ação divina ou sobrenatural, tudo se desenrola dentro de um rigoroso mecanicismo.

Segundo Epicuro, os átomos caem no espaço em movimento vertical e com a mesma velocidade, mas ocorre de modo natural e espontâneo um pequeno desvio (Lucrécio chamou a este desvio de “Clinâmen”) que irá proporcionar o início dos choques entre os átomos. Por sua vez, este desvio, por menor que seja, traz em parte o aleatório para dentro do mecanicismo presente na teoria dos átomos, de modo que seu rigoroso determinismo e necessidade há de dar lugar a uma certa contingência que permita a liberdade.

Para se obter o prazer, deve-se medir as consequências de um ato em relação ao prazer que este possa proporcionar em dado momento e a possível dor que o mesmo poderá proporcionar em um momento subsequente, deste modo, comer em excesso pode ser prazeroso naquele momento, mas deve ser evitado para não se ter o desprazer resultante de complicações posteriores. O prazer não estaria unicamente vinculado aos sentidos corporais e incluiria outros objetivos, como, por exemplo, a amizade ou a contemplação de uma obra de arte. Torna-se muito importante neste contexto o autocontrole, a temperança e a serenidade, bem como, se libertar do medo da morte. Temos uma ênfase grande, dentro desta Escola, de se viver o momento presente, sem se preocupar com outros temas.

Diferenciando-se da Escola Estoica, os epicuristas não nutriam qualquer interesse por política ou pela sociedade. Tanto no Epicurismo, como no Estoicismo, temos pontos em comum a estas duas Escolas filosóficas. Ambas eliminam de seu arcabouço teórico qualquer forma de dualismo metafísico, assumindo um monismo materialista. Ambas combatem qualquer forma de inatismo e colocam a origem do conhecimento nas sensações. Ambas subordinam a investigação feita pela ciência e filosofia a um fim prático, a obtenção da felicidade.

Cabe à filosofia a função de libertar o humano das perturbações e propiciar o encontro da liberdade, por meio da serenidade e autocontrole. Há quatro males que nos impedem de alcançar esta serenidade, que são: temor dos deuses, medo da morte, intenso desejo de obter prazeres, sentimento de tristeza por dores presentes em nossa vida.

Admite Epicuro a existência dos deuses, fato provado pelas visões que os humanos deles possuem, mas entende que não devemos temer aos deuses ou a morte. Cabe prestar, não um culto servil, mas um culto de admiração aos deuses. Não devemos ter medo da morte, pois esta não existe para nós enquanto vivemos e quando ela surge nós não mais existimos. Em verdade esta tese foi anteriormente apresentada pelo sofista Prodicus ou Pródico de Céos (465-395 a.C.).

Segundo Epicuro, os deuses existem, mas não se preocupam com nós, humanos, não são responsáveis por nosso destino, benção ou maldição. Por meio de nossas escolhas, temos a responsabilidade pela nossa felicidade ou sofrimento, e podemos ser responsabilizados por tudo de bom ou mau que aconteça em nossa vida.

Propõe uma vida serena, livre da busca por prazeres ou tristeza pelo sofrimento e dores. Não busca um prazer em movimento como presente nos cirenaicos e sim um prazer em repouso, estável, ausência de perturbação (ataraxia) e ausência de dor (aponia). Cabe moderar os desejos para evitar a dor e as frustrações. Entende ser a amizade o elemento mais importante para a felicidade e o que deve ser buscado pelo sábio. Entende que a prudência antecede a felicidade e a virtude e amplia os horizontes da vida individual para incluir as demais pessoas com quem convivemos e podemos travar amizade, as quais são relações tidas como úteis, mas que também proporcionam manifestações de altruísmo e de sacrifício.

O Epicurismo há de se diferenciar do mero hedonismo. Para o filósofo epicurista o prazer é passivo e encontrado na ausência de paixões, sofrimento, dor e medo. A ausência de dor é o maior prazer que podemos ter. O Epicurismo também defende uma vida simples e descarta os prazeres violentos ou muito intensos, pois podem trazer ao final, dor e sofrimento.

Apesar da importância dada à amizade para com outras pessoas, propõe o afastamento das questões de Estado e o não envolvimento na política da cidade, condição da serenidade do sábio.

Diógenes Laércio, em sua biografia de Epicuro, resumiu os principais pontos de sua doutrina para viver uma vida feliz e equilibrada, no que ficou conhecido como os quatro remédios, o tetrafármaco, a saber: 1- Não tema a deus ou aos deuses, 2- Não tema a morte, 3- As necessidades básicas e naturais vinculadas à felicidade são fáceis de serem obtidas, 4- Pode-se suportar a dor e o sofrimento.

Segundo o pensamento de Epicuro, podemos falar de três tipos de desejos: 1- os naturais, 2- os naturais, mas não necessários e, 3- os inúteis. Por desejos naturais e necessários devemos entender os que são básicos, como, por exemplo, comer, beber, dormir e ter amizades. A felicidade depende da satisfação destes desejos. Já por desejos naturais, mas não necessários, temos coisas que apesar de vinculadas a necessidades humanas, não são necessárias para nossa sobrevivência. Ou seja, precisamos de um abrigo ou casa para morar e nos proteger das intempéries do tempo, mas não de uma mansão. Precisamos comer para viver, mas não de um banquete. Precisamos beber para viver, mas podemos beber água e não vinho. Isto sem esquecer os excessos de tudo que for natural, pois os excessos levam posteriormente à dor e ao sofrimento. Quanto aos desejos inúteis, temos aqueles não vinculados a qualquer necessidade natural básica de nossa sobrevivência e sim a opiniões falsas sobre o que devemos buscar e possuir para sermos felizes, tal é o caso da fama, glória, dinheiro, poder, dentre outros.

A principal virtude para Epicuro é a prudência, com ela devemos nos afastar da dor e do sofrimento e buscar o prazer, sempre com moderação e ponderando o que ganhamos agora e o que obteremos depois, deste modo, é preferível aceitar uma dor ou sofrimento ou desprazer agora para obtermos um prazer maior depois, e da mesma forma, cabe às vezes deixar de aproveitar um prazer agora em virtude da dor ou desconforto que teremos depois. Suportar uma dor ou desconforto momentâneo, adiando o prazer, faz parte da vida do homem sábio e prudente, não se trata, portanto, de viver intensamente o aqui e agora esquecendo-se do que virá depois, e sim, viver de modo a termos um prazer estável e contínuo no decorrer do tempo.

Em linhas gerais bem resumidas, o Epicurismo é uma Escola filosófica que dentro da sua doutrina, busca a felicidade e o afastamento da dor, propondo obter isto por meio do autoconhecimento, da amizade e da prudência. Adota-se um modo de vida no qual são aceitos os prazeres moderados e evitados os prazeres exagerados, buscando por tal meio atingir a tranquilidade e libertação de qualquer dor ou sofrimento. Os desejos exacerbados são fonte de dor e perturbação, prejudicando o encontro da felicidade. A felicidade é decorrente do controle de nossos medos e desejos, de modo a obtermos um estado de prazer estável e equilibrado, conjuntamente com a tranquilidade e ausência de perturbação.

Epicuro, e sua filosofia, foi muito influente tanto em vida como após sua morte, nos séculos seguintes. Era comum as pessoas usarem a sua imagem reproduzida em anéis ou pequenas estatuetas e se tornou comum a frase “comporta-se como se Epicuro o estivesse observando”, de modo que a prática da doutrina epicurista deveria ocorrer sempre, seja em público ou no privado, sendo um modo de vida a ser adotado em todos os momentos e circunstâncias.

 Silvério da Costa Oliveira.

 



Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

quarta-feira, 8 de junho de 2022

Ceticismo (1) * A arte de não julgar. Pirro, Pirronismo e Sexto Empírico

 


Vídeos novos toda semana.

Inscreva-se no canal para ser informado sobre novos vídeos.

 Você gostou do vídeo? Curta e compartilhe o vídeo.

Material de apoio (artigos, textos, vídeos) nos meus blogs “Ser Escritor” e “Comportamento Crítico”. Links no site. https://www.doutorsilverio.com

 O ceticismo antigo pode ser dividido em três fases, a primeira com Pirro de Élis (365/360-275/270 a.C.), presente nos escritos de Timon de Flionte (320-241 a.C.), a segunda fase com a nova Academia, de Arcesilau de Pitane (315-241 a.C.) até Carnéades de Cirene (214-129 a.C.), cujas ideias e doutrinas foram escritas por Clitômaco (187-110 a.C.), a terceira fase com os assim chamados céticos posteriores, que vão de Enesidemo de Cnossos (século I) até Agripa e Sexto Empírico (séculos II e III d.C.).

A palavra ceticismo encontra sua origem no grego, “sképsis”, que significa “exame, investigação”. Para Pirro e os céticos, viver bem e feliz é viver sem emitir juízos, ou seja, na “epoché”. O fundador do ceticismo antigo foi Pirro de Élis, daí ser este movimento por vezes chamado de Pirronismo.

No Ceticismo há um retorno a argumentos anteriormente propostos pelo movimento sofista, deste modo, entendem que as sensações variam entre as pessoas e numa mesma pessoa, podendo um mesmo objeto proporcionar sensações distintas em pessoas diferentes ou mesmo na mesma pessoa. Também que por meio da razão podemos obter argumentos válidos pró e contra determinado assunto, anulando-se mutuamente.

O entendimento da Escola cética é que o sábio deve praticar a afasia, ou seja, não falar, abster-se de se pronunciar, também deve praticar a epoché, ou seja, abster-se de opinar, visando obter a ataraxia, ou seja, a ausência de preocupações. Há três perguntas propostas no ceticismo antigo, e uma resposta própria a cada uma delas.

1- Qual a natureza das coisas? Não tenho como saber, conheço apenas aparências

2- Como devo agir em relação a realidade? Suspensão do juízo (epoché) e não falar, não pronunciar-se, manter o silêncio (afasia).

3- Quais as consequências de minhas atitudes? Ausência de perturbações (ataraxia) e um estado de bem estar e felicidade (eudamonia).

Alguém que siga a doutrina de Pirro e Tímon não irá sequer afirmar que nada sabe e sim, no seu lugar, pôr em dúvida se sabe ou não sabe algo. Na vida prática deve-se agir de acordo com os costumes, as leis e as convenções sociais, reconhecendo, não obstante, nada saber com certeza, dando a tudo um valor relativo e convencional. Apesar do ceticismo tratar da teoria do conhecimento, gnoseologia, a ética e moral estão no princípio da elaboração do sistema cético e no seu resultado final.

 Em meus blogs "Ser Escritor" e "Comportamento Crítico" você encontrará um artigo / texto de minha autoria que resume as ideias deste vídeo, apresentando o tema em toda a sua complexidade. Leia:

"O Ceticismo antigo".

 Links no site para página de compra de todos os livros do autor.

Links diretos para todos os livros, artigos, textos e vídeos em meu site: https://www.doutorsilverio.com

 Link para este vídeo no YouTube:  https://youtu.be/K2ALe9oAMGA

terça-feira, 7 de junho de 2022

O Ceticismo antigo

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Ceticismo antigo – Pirro de Élis - Pirronismo

 Ceticismo

O ceticismo antigo pode ser dividido em três fases, a primeira com Pirro de Élis (365/360-275/270 a.C.), presente nos escritos de Timon de Flionte (320-241 a.C.), a segunda fase com a nova Academia, de Arcesilau de Pitane (315-241 a.C.) até Carnéades de Cirene (214-129 a.C.), cujas ideias e doutrinas foram escritas por Clitômaco (187-110 a.C.), a terceira fase com os assim chamados céticos posteriores, que vão de Enesidemo de Cnossos (século I) até Agripa e Sexto Empírico (séculos II e III d.C.).


 

Há quem divida o ceticismo, historicamente, em três momentos distintos e há outros que o dividem em quatro. A diferença é que para quem o divide em quatro, se acrescenta como segundo momento o ceticismo presente na Academia na época de Arcesilao e também Carnéades, quando a Academia combate o dogmatismo então presente nos estoicos.

O primeiro momento do ceticismo antigo se dá, portanto, com Pirro e Tímon, em seguida temos um segundo (ou terceiro) momento, onde encontramos a figura de Enesidemo (século I a.C.) e sua crítica à razão e à causalidade entre os corpos, negando a causalidade. Há um terceiro (ou quarto) e último período do ceticismo antigo, este vinculado a Sexto Empírico (século II d.C.). Sexto Empírico é hoje a principal fonte de conhecimento sobre o ceticismo.

A palavra ceticismo encontra sua origem no grego, “sképsis”, que significa “exame, investigação”. Para Pirro e os céticos, viver bem e feliz é viver sem emitir juízos, ou seja, na “epoché”.

O fundador do ceticismo antigo foi Pirro de Élis, daí ser este movimento por vezes chamado de Pirronismo. Há quem defenda não ser apropriado a sua própria natureza ser designado como uma Escola, estando mais correto os termos “movimento” ou “corrente de pensamento” ou mesmo uma atitude diante dos problemas e questões da vida.

Vários comentadores citam que Pirro seguiu conjuntamente com o exército de Alexandre, o grande, e esteve na Índia, onde conheceu os sábios locais, chamados de gimnosofistas (sábios nus, faquires), que, juntamente com filósofos pré-socráticos (Heráclito, Leucipo, Demócrito) e das escolas socráticas menores, bem como os sofistas gregos, teriam influído sobre a elaboração do ceticismo.

No Ceticismo há um retorno a argumentos anteriormente propostos pelo movimento sofista, deste modo, entendem que as sensações variam entre as pessoas e numa mesma pessoa, podendo um mesmo objeto proporcionar sensações distintas em pessoas diferentes ou mesmo na mesma pessoa. Também que por meio da razão podemos obter argumentos válidos pró e contra determinado assunto, anulando-se mutuamente.

No silogismo proposto pela lógica, na premissa inicial já se encontra a conclusão, de modo que não se avança no conhecimento nem se comprova a conclusão, havendo aqui um círculo vicioso (1- todos os homens são mortais, 2- Sócrates é homem, 3- Sócrates é mortal). Em virtude disto, entende que não há um critério de verdade e propõe a suspensão de todo e qualquer juízo.

Enesidemo (século I a.C.) organizou as teses dos céticos sobre o caráter passageiro e não confiável dos nossos juízos em virtude dos limites de nossa razão, apresentando dez tropos (caminhos) para a suspensão do juízo, motivadas por diferenças contidas ao ser analisado cada um destes caminhos em relação a obtenção do conhecimento. A saber:

1- as diferentes espécies existentes de seres animais;

2- as diferenças entre os homens;

3- os diferentes estados segundo o tempo; diferentes órgãos dos sentidos, proporcionando sensações provavelmente diferentes;

4- as condições orgânicas; circunstâncias e disposições humanas mutáveis;

5- as distintas posições que se pode adotar diante do objeto observado; posição e distância no espaço;

6- os diversos meios interpostos entre os sentidos humanos e os objetos;

7- os diferentes e mutáveis estados do próprio objeto;

8- as relações das coisas entre si e entre o sujeito e as coisas que ele julga;

9- a frequência / número de encontros entre o sujeito e os objetos que ele julga; e

10- os tipos de educação, costumes, leis, crenças e opiniões dogmáticas do sujeito.

 

Por sua vez, Sexto Empírico (e também Agrippa), que é nossa principal fonte de informação sobre o movimento cético, apresenta os argumentos céticos contra o dogmatismo divididos em cinco, a saber:

1- o caráter relativo das opiniões, gerando controvérsias entre as teorias;

2- a necessidade de uma regressão ao infinito para encontrar-se o primeiro princípio, no qual todos os outros se sustentam;

3- o caráter relativo das percepções;

4- toda demonstração se funda em princípios que não se demonstram, mas se admitem por convenção; e

5- a circularidade decorrente de que demonstrar algo, supõe no homem a faculdade de demonstrar e a validade da demonstração.

 

O entendimento da Escola cética é que o sábio deve praticar a afasia, ou seja, não falar, abster-se de se pronunciar, também deve praticar a epoché, ou seja, abster-se de opinar, visando obter a ataraxia, ou seja, a ausência de preocupações.

Para Pirro e Timon há três problemas básicos: 1- qual a natureza das coisas, 2- que atitude devemos assumir, e 3- o que devemos fazer. A primeira questão encontra resposta no relativismo, no qual só podemos conhecer o que sentimos por meio de nossas sensações. A segunda questão nos apresenta como resposta o reconhecimento do fenômeno que percebemos, mas com a suspensão do juízo sobre a coisa em si mesma. Iremos agir diante do fenômeno, assumindo uma atitude eminentemente prática que não corresponda a algum critério de verdade. A terceira questão tem como resposta que o sábio e cético há de renunciar a propor um juízo sobre as coisas.

Ou, dito de modo mais suscinto, temos que há três perguntas propostas no ceticismo antigo, e uma resposta própria a cada uma delas.

1- Qual a natureza das coisas? Não tenho como saber, conheço apenas aparências

2- Como devo agir em relação a realidade? Suspensão do juízo (epoché) e não falar, não pronunciar-se, manter o silêncio (afasia).

3- Quais as consequências de minhas atitudes? Ausência de perturbações (ataraxia) e um estado de bem estar e felicidade (eudamonia).

 

Alguém que siga a doutrina de Pirro e Tímon não irá sequer afirmar que nada sabe e sim, no seu lugar, pôr em dúvida se sabe ou não sabe algo. Na vida prática deve-se agir de acordo com os costumes, as leis e as convenções sociais, reconhecendo, não obstante, nada saber com certeza, dando a tudo um valor relativo e convencional. Apesar do ceticismo tratar da teoria do conhecimento, gnoseologia, a ética e moral estão no princípio da elaboração do sistema cético e no seu resultado final.

Não se trata de uma crítica ontológica feita à existência ou não da verdade na realidade, ou, de se entrar em contradição com o princípio de não contradição, proposto por Parmênides ao afirmar que o ser é e o não ser não é. A ênfase não está na realidade externa (objetiva) ao sujeito e sim na sua capacidade humana (subjetiva) de chegar ao conhecimento desta verdade. Conhecemos por meio de nossas sensações e percepções e somos influenciados por nossas crenças e convenções sociais, de modo que temos acesso não à coisa propriamente dita, mas somente a aparências. Nossos juízos sobre a realidade são baseados nas convenções e tem como base as nossas sensações, as quais são mutáveis.

No pirronismo temos a suspensão do juízo (epoché). Não se trata de afirmar ou negar algo, seja o que for, e sim se ausentar de o fazer, de assumir a atitude na qual diga: “Eu não sei”. E meu não saber, não afeta que este algo seja verdadeiro ou falso.

Cabe cuidado para distinguir a real ênfase dada pelos céticos a questão do conhecimento. O questionamento feito por Pirro e demais céticos era sobre a capacidade humana de se chegar à verdade e não sobre a existência da verdade. Se estes afirmassem não existir a verdade, entrariam em contradição. O que afirmam é a ausência de um juízo, ou seja, ao ser perguntado se sabe algo, o cético diria que não sabe se sabe ou se não sabe, sem afirmar ou negar.

Põe sua ênfase na busca da felicidade e a entende como a ausência de paixões (apatia) e ausência de perturbações (ataraxia). Lembramos que a busca da felicidade por meio da apatia e da ataraxia está presente nos estoicos e nos epicureus. No caso específico do Movimento Cético, isto se dá, não por meio de conceitos teóricos, e sim por meio de um estado individual que nos proporcione nada afirmar e nada negar, suspendendo o juízo. Para Pirro e seu discípulo Tímon, a verdade nos é inacessível e a verdadeira natureza das coisas não é manifesta, estando além das aparências fenomenais.

 Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)