Por: Silvério da Costa Oliveira.
Vamos atentar que o nome “Idade Média” não era conhecido das pessoas deste período histórico que claro está, não se consideravam medievais. Foi o período subsequente que assim o rotulou. Os renascentistas e posteriormente os iluministas tinham uma visão positiva sobre a Antiguidade clássica e um conceito negativo sobre o período que se encontrava no meio, entre a Antiguidade e a eles próprios. Neste momento histórico buscava-se romper com as tradições e retornar à Antiguidade, daí eles se considerarem os “modernos” e o período histórico entre a Antiguidade e a época Moderna ser um período intermediário, o meio entre duas coisas importantes, deste modo temos o desenvolvimento da expressão “Idade Média”. Na própria elaboração do nome está presente um conceito negativo vinculado a uma era de pragas, ignorância e superstição, uma noite de mil anos da qual agora se acordava. A crítica dos pensadores da era Moderna não é de todo descabida e eles tem, de fato, os seus motivos para tal. A idade Média pode ser vista, também, como uma era de cerceamento de liberdade e domínio do dogma religioso como queriam os renascentistas e iluministas, mas por mais que tais críticas possam ter sua veracidade, há coisas positivas neste período e desde o Romantismo começou-se um resgate e valorização do mesmo.
Para falarmos sobre a filosofia medieval é necessário primeiramente definir quando inicia e termina o período histórico correspondente, neste caso, a Idade Média. Também é importante definir o local onde tal ocorre, digo isto porque só é correto falarmos em Idade Média na Europa Ocidental, não ocorrendo no restante do planeta. A Idade Média vai do século V ao XV, tendo seu início com a queda do império romano do ocidente em 476 d.C. e seu final com a queda do império romano do oriente e a tomada do poder pelo Império Turco-Otomano, em 1453 d.C. quando tem início a Idade Moderna.
Podemos falar em uma alta Idade Média e uma baixa Idade Média. A alta Idade Média vai do século V ao X e a baixa Idade Média vai do século XI ao XV. Por via de regra os historiadores de línguas românicas (ou latinas) dividem a Idade Média em duas (alta e baixa) e os anglo-saxônicos em três períodos (Early Middle Ages - 476 a 1000; High Midle Ages – 1000 a 1300; Late Middle Ages – 1300 a 1500).
É neste período de 10 séculos, 1.000 anos, tendo como local a Europa ocidental, que se desenrolará o que designamos como filosofia medieval. Claro está que alguns filósofos importantes e com características medievais podem não estar contidos dentro desta divisão temporal, tal é o caso, por exemplo, de santo Agostinho (354-430) que se encontra na divisa entre os séculos IV e V, vindo a falecer antes da queda do império romano do ocidente, marco do início da Idade Média, mas com certeza um filósofo com características medievais e que vai marcar profundamente a alta Idade Média.
Este pensamento medieval traz aspectos filosóficos mesclados com outros provindos da religião, da teologia, do cristianismo e também aspectos coerentes com o então sistema econômico vigente, o feudalismo.
Em verdade, a temática filosófica deste período começa a ganhar força e relevo mesmo antes da Idade Média, pois, após o advento histórico de Jesus Cristo e o começo do movimento cristão, coube a tarefa aos eruditos que foram cristianizados fornecer um discurso coerente com a tradição filosófica anterior. Trata-se da filosofia cristã, onde a religião cristã se funde com a tradição filosófica greco-romana e por meio desta tradição filosófica busca-se explicar e afirmar os dogmas religiosos cristãos. Portanto, já no século I d.C podemos falar em um início do que mais tarde será a filosofia medieval. Este início estará primeiramente junto aos apóstolos da nova religião e posteriormente aos padres da Igreja em formação, mas será, com certeza, a partir de santo Agostinho que este pensamento começará a ganhar um corpo filosófico robusto. Há quem chame a estes de padres apostólicos e depois de padres apologistas, criando assim mais duas subdivisões anteriores ao século V d.C, mas a verdade é que não há um grande interesse e sim talvez mesmo um desprezo pela filosofia clássica que é vista como algo a ser combatido ou pelo menos substituída pela revelação. Somente a partir de santo Agostinho é que podemos falar realmente de um espaço para a filosofia, mesmo que mesclada à religião cristã.
Que fique claro, no entanto, que a expressão “filosofia medieval” faz referência específica a um período histórico e equivale, portanto, a dizermos “filosofia na Idade Média”, ou seja, não cabe utilizar o termo para se referir a algo que ocorreu na Antiguidade, antes da queda do império romano do ocidente. Posso falar em antecedentes desde a Antiguidade para a filosofia e desde o século I d.C para a religião cristã. Posso dizer que a filosofia praticada durante a Idade Média é uma “filosofia cristã” (se bem que alguns entenderam esta expressão como contraditória em si), mas não posso falar na existência de uma filosofia medieval entre os séculos I a IV d.C, pois neste período simplesmente não há Idade Média.
Neste período a grande preocupação é a religião cristã que se expande por toda a Europa e cabe a filosofia pensar de modo sincrético esta relação com a religião. Não há como isolar a filosofia medieval da religião cristã.
Deste modo, as principais características da filosofia medieval encontram-se na inspiração na filosofia greco-romana, numa tentativa de unir a fé com a razão, de utilizar conceitos provenientes da filosofia grega dentro do cristianismo, e de buscar a verdade revelada e divina.
Boa parte dos ditos filósofos medievais possuíam algum tipo de vínculo direto com a Igreja, sendo, por vezes, membros ativos e religiosos pertencentes ao clero. Por tal motivo, os principais problemas filosóficos estavam atrelados a questões religiosas e dogmáticas, como, por exemplo: a existência de Deus, a relação da fé com a razão, a imortalidade da alma, a salvação, o pecado, a encarnação de Deus em Jesus, o livre-arbítrio, a revelação contida nas escrituras sagradas, o propósito da teologia e da metafísica, o problema do conhecimento, a questão dos universais, a individuação e outros mais. Como tendência da filosofia medieval, a discussão por meio da razão não poderia contrariar a revelação, a razão se subordina ao dogma religioso.
A cultura desenvolvida durante o período medieval é fortemente teocêntrica, de modo que vemos esta ênfase também se expressar na filosofia, onde Deus é sempre colocado no centro das discussões e a filosofia e razão não deve se opor a fé e revelação. Há uma defesa de que os dogmas da Igreja não podem ser subordinados a razão e sim esta deva ser subornada a verdade revelada.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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