Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

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domingo, 18 de julho de 2021

Agostinho de Hipona: A história, vida e filosofia de santo Agostinho

 Agostinho de Hipona

 Por: Silvério da Costa Oliveira.

 Agostinho de Hipona (354-430), também conhecido por Aulerius Augustinus ou Aurélio Agostinho ou Santo Agostinho, considerado santo conjuntamente com sua mãe (Mônica), pela Igreja Católica Apostólica Romana. A cidade de Hipona também é conhecida por Hippo Regius, em latim. É conhecido por Agostinho de Hipona por ter sido bispo desta cidade e nela falecido, e não por ter nascido nela. Nasceu no Império Romano, em Tagaste, província romana da Numídia (hoje Argélia). Nasce em 13 de novembro de 354 e falece em 28 de agosto de 430, aos 75 anos de idade. Durante o final de sua vida a cidade de Hipona foi sitiada pelos Vândalos, cujo líder era Genserico, tendo o cerco durado 14 meses e a cidade sido ocupada pouco depois da morte de Agostinho, em 431.


 

Suas principais obras, dentre uma vasta coleção de livros, cartas e sermões, são: “A cidade de Deus” (De civitate Dei), “Confissões”, “Sobre a trindade”, “Livre arbítrio” (De libero arbítrio), “Sobre a doutrina cristã”. É um autor profícuo, não sendo possível listar aqui todas as suas obras, muitas das quais mais voltadas para a religião e longe do escopo de um trabalho de filosofia, mas interessantes para quem se interessa pelo tema e quer aprofundar seus conhecimentos religiosos dialogando com um dos padres fundadores da discussão filosófica cristã. Seu pensamento influenciou profundamente a primeira metade da Idade Média, no que entendemos por Patrística, uma Escola de Filosofia Medieval. Alguns entendem a Patrística não como uma Escola de Filosofia e sim como uma vertente religiosa cristã e deste modo põe o seu surgimento junto aos primeiros padres, no século I d.C. e não com o começo da Idade Média.

Agostinho apresenta influências em sua juventude de estudos e participação em movimentos anteriores a sua conversão ao cristianismo, deste modo temos nele influência do maniqueísmo, neoplatonismo (em particular de Plotino), do hedonismo, do ceticismo (Nova Academia), do estoicismo.

Sua conversão ao cristianismo se dá no ano de 387 e, posteriormente, se torna bispo de Hipona, localizada na África, sendo uma província na época do Império Romano. Em 391 foi ordenado sacerdote em Hipona e em 395 bispo.

Podemos considerar Agostinho de Hipona como sendo teólogo e filósofo, se bem que ele próprio não teria esta percepção, pois, não distinguiria em sua atividade diferença entre filosofia e teologia. Agostinho condenava o aborto e se mostrava contrário à prática da astrologia, considerando-a um embuste. Defensor da graça de Deus diante do livre arbítrio e da presença em todos do pecado original.

Com certeza Agostinho é o principal responsável pela união entre o pensamento greco-romano e o cristianismo. Cabe a ele trazer o filósofo Platão para o mundo cristão, adaptando as ideias deste filósofo às concepções cristãs.

Agostinho cristianizou Platão e este irá platonizar o cristianismo do mesmo modo que mais tarde Tomás de Aquino fará com Aristóteles. Como veremos mais a frente em prosseguimento a este curso, Tomás de Aquino cristianizará Aristóteles e este por sua vez irá aristotelizar o cristianismo.

Há algumas doutrinas filosóficas e religiosas com as quais Agostinho terá contato e que irá, no decorrer de sua vida, desenvolver embates e escrever sobre as mesmas, demonstrando o erro e defendendo uma outra postura, coerente com o cristianismo e a universalidade da Igreja em formação. Lembramos do Maniqueísmo (século III ao IV), do Donatismo (século IV ao VII) e do Pelagismo (século V).


 

O Maniqueísmo tem como fundador Mani ou Manes ou Maniqueu e defende um dualismo onde há duas entidades com mesmo status ontológico, uma relacionada ao Bem e outra ao Mal. Traz um sincretismo com o cristianismo e diversas doutrinas orientais. A matéria é entendida como sendo má e o espírito como sendo bom. Deste modo, temos um princípio do Bem e outro do Mal. Traz elementos do gnosticismo, bem como das culturas da Babilônia e da Pérsia, presente no século III. Mani, considerado profeta Persa, efetuou uma união de elementos presentes anteriormente no zoroastrismo, no hinduísmo, no budismo, no judaísmo e no cristianismo, igualando Zoroastro, Buda e Jesus Cristo. Apesar de no início e antes da conversão ao cristianismo, Agostinho ter participado do maniqueísmo, após a conversão se mantém ferrenho opositor da ideia de duas divindades, uma do Bem e outra do Mal. Para os seguidores do profeta Mani, Bem e Mal existiriam por si mesmo e em igualdade, mas para Agostinho só temos a existência ontológica do Bem, sendo o Mal a ausência do Bem ou a decorrência de escolhas erradas feitas a partir do livre arbítrio de cada um.

Uma versão atualizada e de inspiração no maniqueísmo pode ser encontrada em uma obra de ficção contemporânea, refiro-me a saga “Guerra nas estrelas”, na qual temos os Jedi que buscam a proximidade com a força do Bem e os Sith que buscam o lado sombrio da força. Fica claro a existência de dois princípios no universo, um do Bem e outro do Mal.

O Donatismo tem como fundador a Donato de Casa Nigra, que foi bispo no norte da África, na Numídia e em Cartago. A doutrina proposta pelo Donatismo entende que a Igreja não deve perdoar ou admitir pecadores em suas fileiras, deste modo, os sacramentos feitos por religiosos que no passado negaram sua fé durante perseguições aos cristãos, não teriam valor ou validade. Faz uma clara referência as perseguições ocorridas durante o governo de Diocleciano, entre 303 e 305 d.C. Agostinho defendia que os sacerdotes que retornaram à Igreja poderiam ministrar os sacramentos normalmente, pois não era a pessoa que realizava o sacramento e sim Deus que ali atuava, como no exemplo do sacramento do batismo

No donatismo, Donato defende a pureza dos sacerdotes e que aqueles que não tiveram um comportamento correto e exemplar não podem prestar os sacramentos da Igreja, pois os mesmos não teriam valor, nisto inclui em particular os Bispos que entregaram textos sagrados aos soldados romanos durante uma perseguição aos cristãos, negando sua missão e fé.

O Pelagismo tem como fundador Pelágio da Bretanha.  Negava que o pecado original tivesse algum efeito sobre as demais pessoas e que estas eram livres para escolher e buscar a salvação, sem necessidade de intervenção da graça de Deus. Cabe ao humano a responsabilidade pela sua própria salvação, não dependendo da intervenção da graça de Deus. Já Agostinho defendia a herança por parte de todos os humanos do pecado original, nós já nasceríamos com este pecado. Segundo Agostinho, sem a graça de Deus não podemos evitar de pecar e a graça é importante para a nossa salvação, não sendo possível escolher e seguir o caminho da salvação sem a ajuda da graça de Deus.

Segundo Agostinho alma e corpo são duas substâncias distintas e interligadas, sendo a alma superior ao corpo. Agostinho divide todas as coisas em três grupos pela ordem hierárquica de importância, a saber: as coisas que somente existem e nada mais, as coisas que existem e vivem, as coisas que existem, vivem e possuem inteligência ou uso da razão.

Agostinho entende que o humano dispõe de livre arbítrio, ou seja, pensamento autônomo para tomada de decisões em sua vida, mas por ser inconstante e sujeito ao erro, necessita de iluminação divina para manter-se junto a verdade eterna dada pela revelação e fé, isto se dá pela graça de Deus.

No livro “A cidade de Deus”, Agostinho argumenta que há uma cidade de Deus e uma cidade dos homens. A cidade de Deus é fundada por Abel e a cidade dos homens é fundada por Caim, fazendo uma referência ao fratricídio. Estas duas cidades convivem entre nós, pois, há aqueles que se dedicam a Deus e que irão após o fim dos dias formar a cidade de Deus e há aqueles que se dedicam às coisas do mundo e se afastam de Deus. Estas cidades estão dentro de cada pessoa, não são um lugar e sim o interior de cada um, que escolhe em qual cidade irá viver.

Apesar de defender a adoção pelos cristãos de uma postura pacifista, entendia que a guerra podia ser justa e uma medida a ser tomada quando diante de uma injustiça que não pudesse ser impedida por outro meio. Neste tocante entra a autodefesa e também a defesa de terceiros. A guerra justa para se opor à grave injustiça que não possa ser impedida senão por meios violentos está incluída na busca de paz, pois a esta cabe sempre a opção pela luta para preserva-la e não o fazer seria um pecado. Temos, portanto, uma justificação da guerra de defesa.

Segundo Agostinho, temos que o mal metafísico é carência de “ser”, carência de perfeição. Deus é perfeição, portanto, o mal metafísico é carência de Deus. O mal moral também é carência de Bem. O mal moral surge a partir do livre arbítrio, ou seja, da escolha errada. Podendo escolher o certo, o humano tem a liberdade de escolher o errado, daí o mal moral, culpa dos humanos e não de Deus. Deus é perfeito, o “ser” de Deus é superior ao “ser” do mundo, pois Deus é o criador e o mundo é a criatura. O livre arbítrio é uma teoria que clama pela responsabilidade humana. O mal moral é culpa do humano e não de Deus em virtude de sua liberdade que lhe permite escolher entre o Bem e o Mal, podendo escolher o certo ou o errado.

Entende Agostinho que o Mal não tem existência ontológica própria, sendo a ausência ou afastamento do Bem. Deus é o criador de tudo, mas por ser sumamente bom, não criou o mal e este não existe em si ontologicamente, em verdade, o mal é a ausência do Bem, o afastamento de Deus. O mal cabe aos humanos a partir do seu direito de escolha provindo de seu livre arbítrio, apesar de conhecer o Bem, o humano pode escolher o Mal.

Agostinho também se debruça sobre o problema do Mal, em parte a partir do seu convívio com os maniqueístas, antes de sua conversão, e da necessidade de explicar como um Deus totalmente bom, cria ou permite o Mal no mundo. Segundo Agostinho, o Mal não existe ontologicamente, sendo a ausência do Bem que se dá em diversos graus. A culpa ou responsabilidade do que entendemos por Mal moral é do humano. É pelo livre arbítrio que o humano pode escolher o Mal e não o Bem.

Já o Mal físico deve ser visto dentro de um contexto mais amplo, cósmico, onde pode fazer sentido. Além do mais, após o pecado original esta vida que vivemos aqui equivale a uma prisão, somos prisioneiros cumprindo uma pena. O Mal é um Bem menor ou uma privação do Bem.

Agostinho defende a Trindade. Segundo ele, Deus é “três” em “um”. Três figuras distintas, mas com a mesma essência. O “Pai” representa a própria existência. Ser é existir. Já o “Filho” representa o “logos”, a “palavra” na revelação, a “palavra” racional. Por sua vez, o “Espírito Santo” é o “amor” que une o “pai” ao “filho”.

Agostinho dedicou vários anos ao estudo do mistério da Trindade, mas não conseguiu ir muito além do exposto acima, afinal, trata-se de um dogma e nem sempre se consegue uma explicação racional coerente para um dogma religioso. Se aceita, ou não, um dogma por fé e não pela razão. Nisto há uma história, ou melhor, um conto popular sobre o tema, que claro está, não é fato real e sim uma interpretação alegórica da realidade. Conta-se, portanto, que um dia estava santo Agostinho caminhando na praia e encontrou durante o seu passeio um menino que pegava com um pequeno balde de madeira a água do mar e a jogava em um buraco que fizera na areia, repetidas vezes. De modo que santo Agostinho perguntou ao menino o que este estava fazendo e este lhe respondeu que tencionava retirar toda a água do mar para pô-la naquele buraco. Santo Agostinho questionou que tal tarefa era impossível e o menino lhe respondeu que impossível era decifrar o mistério da Trindade, ou como se costuma narrar: “É mais fácil colocar toda água do oceano neste pequeno buraco de areia do que a inteligência humana compreender os mistérios de Deus”. Depois disto se transformou em um anjo e foi embora.

Na Antiguidade, nas diversas doutrinas religiosas ou filosóficas, o tempo era visto como cíclico ou circular. Provavelmente a partir da observação das estações climáticas no decorrer do ano, ou do ciclo da vida animal e vegetal, onde temos o nascimento, crescimento, envelhecimento e morte, sempre em uma sucessão constante, deste modo, alguém morre e outro alguém nasce. Na filosofia grega se fala em um demiurgo que organiza algo, em verdade ele não cria o universo do nada e sim a partir de algo que já encontra e organiza. Temos até a célebre frase: “do nada, nada se cria”, que o leitor talvez já tenha escutado ou lido. Mas nisto tudo o cristianismo é diferente, pois, a religião judaico-cristã entende que há um Deus criador e que este tudo cria a partir do nada. Isto é muito importante e mesmo revolucionário, pois, trocamos um círculo por uma linha reta. Se antes o tempo era cíclico, igual as estações do ano, agora há um ponto de início onde temos a criação e um ponto final onde temos o dia do juízo final. A ideia do tempo cristão não é algo simples e não esteve com a humanidade todo o tempo, trata-se de uma contribuição nova dada pelo cristianismo. Vejamos como Agostinho entende, portanto, esta importante noção do tempo.

Outra temática importante trabalhada por Agostinho é o “tempo”. Agostinho nos apresenta um estudo no qual destaca o aspecto psicológico e mental do tempo. O tempo existe em nossas mentes. O passado é uma recordação de algo que já vivemos, mas o passado não existe mais, somente a recordação que dele temos. O futuro é somente a expectativa do que possa acontecer e existe e é formulado em nossa mente, não existindo em outro lugar, pois não passa de uma expectativa. Já o presente é a tensão existente entre de um lado o passado e do outro o futuro, mas também não existe, pois, tão logo chega, concretizando ou não a expectativa que tínhamos dele enquanto ainda era futuro, já se torna passado, uma recordação apenas. O passado não existe mais. O futuro não existe ainda. O presente é uma porta aberta para dois nadas, um de cada lado da porta. O tempo, portanto, só existe em nossa mente, como uma realidade mental.

Segundo Agostinho, posso falar também em um tempo cósmico que surge com a criação. Deus é atemporal e antecede a tudo que ele vem a criar. Antes da criação do cosmos não há tempo ou espaço. O tempo é linear, pois tem um início com a criação e terá um fim no dia do julgamento final. Um ponto inicial e um ponto final estão presentes no tempo cristão. Deus não está contido no tempo ou no espaço que formam o cosmos que ele criou. A história tem início com a criação e segue em uma linha reta até seu final com o juízo final, mas em algum ponto intermediário entre o ponto inicial e o final, temos algo que dá sentido e significado a toda a história, que é o advento de Jesus Cristo. Jesus Cristo é o Deus encarnado, Deus filho, e seu sacrifício dá sentido a história. Deste modo, ao pensarmos em um tempo cósmico cristão, temos de imaginar uma reta com três pontos, um inicial, a criação, um intermediário, Jesus Cristo, e um final, o fim dos dias e juízo final. É pelo sacrifício do Filho de Deus, Jesus Cristo, o Deus encarnado, que a história ganha sentido.

Uma frase que caracteriza a relação entre fé e razão presente em Agostinho, é: “É preciso compreender para crer, e crer para compreender”. Também importante o entendimento de Agostinho no qual a fé precede a razão. Agostinho entende que a filosofia é importante para justificar e explicar os fundamentos da fé cristã, se bem que a fé era por ele vista como fundamental e que a razão estaria subordinada a revelação. A razão também teria um papel importante na conversão dos descrentes. Em Agostinho, fé e razão são complementares.

Silvério da Costa Oliveira.

 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

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