Por: Silvério da Costa Oliveira.
John Wycliffe (Wiclif ou Wyclif)
John Wycliffe (1320 a 1328-1384), proveniente de família originária de Yorkshire, quando tinha em torno de seus 18 anos de idade foi encaminhado pela família para a universidade de Oxford, na Inglaterra, onde estudou Teologia, Filosofia e Legislação Canônica, mais tarde também atuou como professor na universidade de Oxford. Formou-se em Teólogo, bacharel (1365) e doutor (1372) em teologia. Foi ordenado sacerdote pela Igreja católica apostólica romana em 1361. Ele era pároco em Lutterworth, no condado de Yorkshire. Também foi nomeado reitor de Lutterworth, em Leicestershire, cargo este que manteve até seu falecimento. Às vezes John Wycliffe é mencionado como sendo a “Estrela da Manhã da Reforma”.
Também atuou como reformador religioso e é considerado um precursor da Reforma religiosa. Conhecido pela primeira tradução da Bíblia para o idioma inglês, que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe. Sua tradução da Bíblia foi feita a partir dos textos em latim e não dos originais em grego e hebraico.
O movimento político e religioso iniciado por Wycliffe e tendo ele como primeiro líder, com a participação de padres que viajavam por toda a Inglaterra para levar a mensagem das Sagradas Escrituras, foi conhecido como Lollardismo (lolardos ou clérigos pobres).
Desde o início de suas pregações e escritos, Wycliffe teve apoio da nobreza da Inglaterra e do parlamento, que viam em suas ideias um modo de se contrapor à influência do papa e de uma nação com a qual estavam em guerra, não pagando taxas. O parlamento inglês, via com bons olhos a defesa realizada por Wycliffe quanto a não enviar dinheiro para o papa. Durante sua vida, além dos nobres e do parlamento, também teve apoio popular.
Na época o papa encontrava-se na França, em Avignon, e estando a Inglaterra em guerra com a França (a guerra dos cem anos; 1337-1453), entendiam os ingleses que pagar qualquer tributo ao papa era idêntico a fornecer dinheiro para um país com o qual estavam em guerra.
Quando em 1381 eclodiram pela Inglaterra revoltas camponesas contra a servidão, Wycliffe demonstrou apoio a tais movimentos contrários à nobreza, o que fez com que este fosse obrigado a se retirar para uma paróquia mais afastada, em Leicestershire, onde morreu em 1384. Com o apoio demonstrado aos camponeses, se afastou um pouco da nobreza, mas mesmo assim, não foi preso ou hostilizado, fora seu afastamento.
Em filosofia, seu posicionamento com relação à questão dos universais o coloca em oposição aos nominalistas, pois, entende que os universais possuem uma realidade ontológica, podendo Wycliffe ser considerado um realista ou até mesmo um ultrarrealista. Entende Wyclife que os universais foram criados por Deus, mas são eternos uma vez que não podem ser destruídos, são indestrutíveis.
Defendeu enfaticamente os interesses da Inglaterra diante do papado. Entendia que a Igreja havia se afastado do que de fato deveria ser, defendendo reformas na Igreja. Segundo seu pensamento, as normas do clero estavam em oposição aos ensinamentos contidos na Bíblia sobre a vida de Jesus e seus apóstolos. Questionava as propriedades e a riqueza então presente no clero católico, buscando o ideal de pobreza presente na Igreja primitiva. Se opunha ao poder temporal da Igreja, pois, este não condizia com o ideal de pobreza necessário aos seguidores de Cristo. Entendia que as propriedades da Igreja deveriam ser apropriadas pelo Estado e que caberia ao Estado o sustento do clero. Defendia que nas questões materiais o rei deveria ter poder superior ao papa, devendo a Igreja renunciar ao poder temporal. O poder da Igreja deveria estar limitado unicamente a questões religiosas. Entende que o poder real também tem sua origem em Deus, sendo pecado opor-se ao poder do rei, devendo todos, mesmo o clero, pagar os tributos devidos ao rei. A Igreja deve se submeter às leis do Estado, cabendo ao rei o seu controle.
Contrário à soberania do papado e à existência das ordens monásticas, entendia que os escritos contidos na Bíblia tinham autoridade superior à tradição presente na Igreja. A única autoridade da Igreja encontra-se nos escritos sagrados.
Critica o tipo de vida então adotado pelo clero e o luxo reinante entre diversos religiosos. Segundo suas ideias, cabia ao governo do Estado assumir uma postura crítica e contrária aos abusos então presentes na Igreja Católica.
Critica a venda de indulgências. Entendia que a principal responsabilidade do sacerdote era pregar o evangelho, estando tudo o mais subjugado a esta responsabilidade. Entendia, também que cabia a cada paróquia, por meio de seus membros, indicar o sacerdote que ali iria atuar, discordando, portanto, que esta indicação fosse feita pela autoridade eclesiástica.
Segundo o pensamento de Wycliffe, a salvação se dá basicamente pela fé e não por meio da prática de boas obras. Em virtude de seu posicionamento sobre a importância e primazia da fé sobre as obras, entendia que para os sacramentos dados pela Igreja terem efeito não bastava unicamente a intermediação clerical, sendo necessário, também, a fé presente no crente.
Também questionou e criticou a doutrina da transubstanciação do pão e vinho durante a eucaristia, segundo seu pensamento, a hóstia não era Cristo e sim o símbolo de sua presença espiritual. Também apresentava um posicionamento favorável à ideia de predestinação.
Sua obra mais importante é “Summa Theologiae”, mas também cabe destaque para “De civili domínio” (1375-1376), “Tractatus De Officio Regis”, “Trialogus, Dialogus”, “Opus evangelicum”, “De sufficientia legis Christi”, “On Divine Domain” (1373-1374). Wycliffe escreveu 65 obras em inglês e 96 em latim, muitos sermões, além de traduzir a Bíblia do latim para o inglês, Antigo e Novo Testamento, com ajuda de auxiliares.
Em sua obra “De civili domínio”, ou em uma tradução livre “Sobre a Propriedade Privada”, amplia suas críticas ao papado, a venda de indulgências e ao modo de vida do clero de então. Nesta obra apresenta as suas famosas 18 teses, que se tornaram públicas em Oxford no ano de 1376. Defendia que todos os direitos provinham de Deus, incluindo nisto o direito à propriedade privada, e argumentava que todos os bens terrenos de posse da Igreja deveriam ser tomados pelo Estado, para que a Igreja pudesse se dedicar unicamente a questões espirituais. Segundo seu pensamento, o clero manter propriedades privadas era algo pecaminoso.
Wycliffe passou a gozar de grande e crescente popularidade, tanto junto ao povo, como também junto ao parlamento. O Parlamento inglês entendia que o clero em seu país poderia ser melhor controlado se ficassem livres de suas obrigações seculares. No entanto, a Igreja Católica não aprovava as ideias de Wycliffe e tentou exercer censura sobre as mesmas. Em fevereiro de 1377 ele é intimado a comparecer diante do bispo de Londres para explicar seus ensinamentos, nesta ocasião se apresenta conjuntamente com amigos influentes e uma multidão aglomerada na porta da Igreja lhe apoiando. A Igreja acusou Wycliffe de blasfêmia, orgulho e heresia. Mas a Igreja nada pode fazer contra Wycliffe na época.
Faleceu de morte natural em sua casa, mas 43 anos após sua morte, em 1427, teve a exumação e queima de seus restos mortais, que foram depois jogados no rio Swift, que banha Lutterworth. Isto ocorreu atendendo a uma determinação do Concílio de Constança (1414-1418), que em decreto datado do ano de 1415 considerou os escritos e a obra de Wycliffe heréticos, devendo ser queimados, bem como, que seus restos mortais fossem exumados e também queimados, e também, a uma ordem do então papa Martinho V (1369-1431), que fazia cumprir esta determinação do concílio.
Wycliffe faleceu em Lutterworth, Inglaterra, no dia 31 de dezembro de 1384, provavelmente em consequência de um derrame cerebral. Seu pensamento e obra há de influenciar as reformas nos séculos XV e XVI, tanto na Inglaterra de Henrique VIII, como na Boêmia de Jan Hus, ou na Alemanha de Lutero, dentre outros focos da Reforma religiosa.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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