Por: Silvério da Costa Oliveira.
A contra-Reforma religiosa
Deste o século XIV, com John Wycliffe na Inglaterra, o movimento de reforma religiosa ganhava os seus contornos, para por fim eclodir de modo a não poder mais ser contido no século XVI com Martinho Lutero. Vários nomes se destacaram antes e depois de Lutero, tais como: John Wycliffe, Jan Hus ou John Hus, Girolamo Savonarola, Thomás Müntzer, Ulrich Zwingli, João Calvino. Não foi um movimento de um só, mas sim de múltiplas individualidades. Se antes havia somente uma única Igreja na Europa, agora passamos a ter várias denominações distintas e todas cristãs, defendendo para si o direito da interpretação correta e verdadeira do cristianismo. É neste contexto que há de surgir a contrarreforma da Igreja Católica Apostólica Romana. Cabe lembrar, no entanto que no ano de 1054 d.C. já havia ocorrido o Grande Cisma do Oriente, criando uma separação entre duas denominações cristãs, a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, sendo a época da disputa e desentendimento, a primeira comandada pelo Papa em Roma e a segunda pelo patriarca em Constantinopla, que mutuamente se excomungaram.
A Contra-Reforma religiosa (século XVI), ou reforma católica, ocorre como uma reação à Reforma protestante e o crescimento das regiões que se convertiam a esta causa. O Papa Paulo III convocou o Concílio de Trento (O concílio durante sua atividade, foi presidido por três papas: Papa Paulo III, Papa Júlio III e Papa Pio IV), que se reuniu entre 1545 e 1563 (1545-1547, 1551-1552 e 1562-1563).
Nestes três encontros na cidade de Trento foram adotadas medidas visando fixar os princípios da religião cristã católica e de combater o avanço do protestantismo. Dentre as decisões ali tomadas, citemos: a proibição da venda de indulgências; a criação do index de livros (Index Librorum Prohibitorum), objetivando a proibição da circulação e leitura de determinados livros; afirma a infalibilidade do papa. Segundo as decisões obtidas pelo Concílio de Trento, os ensinamentos válidos na Igreja não constam somente na Bíblia e sim, também, na tradição da Igreja. Foi confirmado o livre arbítrio do humano diante do pecado original. Reforçou a importância e a manutenção dos sete sacramentos. Afirmou que as orações podem ajudar na salvação e no tempo de permanência do purgatório, aliás, afirma a existência do purgatório. Entendeu que o Papa e a Igreja têm o poder para perdoar. Afirma a importância dos concílios, do papa e da Igreja no tocante a correta interpretação da Bíblia. Decretou que o bispo deve morar na diocese pela qual é responsável, não podendo ser responsável por mais de uma diocese.
Dentre as resoluções importantes tomadas no Concílio de Trento, temos também: Afirmar a transubstanciação durante a eucaristia, ou seja, a transformação do corpo e sangue de Jesus Cristo no pão e no vinho; afirmar o celibato; afirmar a veneração dos santos e da virgem Maria; aprovar o estatuto da Companhia de Jesus; afirmar a tradução da Bíblia feita por Jerônimo para o latim como sendo a tradução oficial da Igreja; manter o latim como língua na missa e na Bíblia; organizou e disciplinou o clero, criando seminários para a formação de padres e estipulando uma idade mínima para ser padre (25 anos) e bispo (30 anos); afirma que o papa é o “pastor universal de toda a Igreja”, fortalecendo deste modo a hierarquia; foi também criado um novo catecismo para o ensino da fé cristã; além de outras medidas.
Além do Concílio de Trento, foi fundada em 1534 a Companhia de Jesus, os jesuítas (soldados de Cristo), por Inácio de Loyola, que se tornaram responsáveis por divulgar a Igreja católica por todo o mundo, em particular na recém descoberta América. Também foram criados seminários para aperfeiçoar a formação dos sacerdotes. E também tivemos a tentativa de silenciar o clamor das reivindicações protestantes por meio da Santa Inquisição, esta exerceu maior perseguição em regiões onde imperava ainda fortemente o catolicismo, tal o caso de Portugal, Espanha e da Itália.
As medidas adotadas pela Igreja Católica para se contrapor à Reforma protestante não foram obrigatoriamente no sentido de uma mudança e do reconhecimento das reivindicações propostas pela reforma, no lugar de tal, houve uma reafirmação de posicionamentos teológicos, adotando medidas para validá-los e defende-los. Estas decisões e propostas se ativeram basicamente a dois grupos: disciplina e doutrina. A afirmação de que a salvação se dá pela fé e também pelas obras.
A contra-Reforma foi uma nítida e forte manifestação de defesa da Igreja Católica Apostólica Romana contra a Reforma e a perda de territórios e crentes para as novas religiões cristãs reformadas. Houve aqui uma ênfase na disciplina e na doutrina da Igreja, visando a moralização da mesma e a mudança de hábitos contrários à prática cristã primitiva e que eram percebidos como corrupção por parte do clero, no entanto, anunciar mudanças e estas de fato ocorrerem são coisas bem diferentes. As mudanças morais no clero e na hierarquia da Igreja não ocorreram de modo imediato e comportamentos não condizentes com as práticas cristãs primitivas, bem como dignos da acusação de corrupção do clero feita pelas Igrejas Reformadas, continuavam presentes. As pessoas não mudam por um passe de mágica ou por decisões tomadas por um grupo e apresentadas por escrito em um papel timbrado, as mudanças comportamentais e sociais tendem a ocorrer lentamente e, por vezes, ocupando mais de uma geração.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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