Professor Doutor Silvério

Blog: "Comportamento Crítico"

Professor Doutor Silvério

Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.

(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)

Sites na Internet – Doutor Silvério

1- Site: www.doutorsilverio.com

2- Blog 1 “Ser Escritor”: http://www.doutorsilverio.blogspot.com.br

3- Blog 2 “Comportamento Crítico”: http://www.doutorsilverio42.blogspot.com.br

4- Blog 3 “Uma boa idéia! Uma grande viagem!”: http://www.doutorsilverio51.blogspot.com.br

5- Blog 4 “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://livroograndesegredo.blogspot.com/

6- Perfil no Face Book “Silvério Oliveira”: https://www.facebook.com/silverio.oliveira.10?ref=tn_tnmn

7- Página no Face Book “Dr. Silvério”: https://www.facebook.com/drsilveriodacostaoliveira

8- Página no Face Book “O grande segredo: A história não contada do Brasil”

https://www.facebook.com/O-Grande-Segredo-A-hist%C3%B3ria-n%C3%A3o-contada-do-Brasil-343302726132310/?modal=admin_todo_tour

9- Página de compra dos livros de Silvério: http://www.clubedeautores.com.br/authors/82973

10- Página no You Tube: http://www.youtube.com/user/drsilverio

11- Currículo na plataforma Lattes: http://lattes.cnpq.br/8416787875430721

12- Email: doutorsilveriooliveira@gmail.com


E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Karl Marx

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Marx

 

“Proletários de todos os países, uni-vos!". Marx, Karl. Manifesto comunista, 1948.

“Os filósofos apenas interpretaram o mundo de várias maneiras, enquanto que o objetivo é mudá-lo.” Marx, Karl. Teses sobre Feuerbach, 1845.

“A religião é o suspiro da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, assim como é o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo.” Marx, Karl. Crítica da filosofia do direito de Hegel, 1843.

“Um fantasma ronda a Europa: O fantasma do comunismo”. Marx, Karl. Manifesto comunista, 1848.  

 

Karl Marx (1818-1883), nasce em Trier (Treveris), Alemanha, e falece em Londres, Inglaterra, aos 64 anos de idade. Marx é proveniente de uma família judaica, sendo o terceiro de um total de nove filhos do casal. Sua família pertencia à classe média-alta judaica convertida ao cristianismo. Seu pai, Heinrich Marx (1777-1838), era um advogado respeitado que precisou se converter ao cristianismo para continuar advogando, e sua mãe, Henriette Marx (1788-1863 – estes dois anos são datas aproximadas), era de origem holandesa. Marx começou a estudar Direito, mas trocou por Filosofia. Marx obteve o título de Doutor em Filosofia pela Universidade de Jena em 1841. Sua tese de doutorado foi sobre as diferenças entre as filosofias da natureza de Demócrito e Epicuro, cuja escolha de autores já denota sua preferência pelo materialismo, enfoque que iria marcar toda a sua futura obra.

No decorrer de sua vida, Marx residiu em diversas cidades e Estados. Esteve no Reino da Prússia, atual Alemanha (Trier ou Treveris, 1818-1835; Bonn, 1835-1836; Berlim, 1836-1843, Colônia, 1842/3), França (Paris, 1843-1845), Bélgica (Bruxelas, 1845-1848), Inglaterra (Londres, 1849-1883).


 

Em junho de 1843 casa-se Jenny von Westphalen (1814-1881), com quem já noivara em segredo das famílias fazia alguns anos. Teve 7 filhos com sua esposa e um (Frederick Demuth) com sua empregada alemã de nome Helene Demuth (1820-1890), mas que era chamada por Lenchen, cuja paternidade inicialmente Engels assumiu. Este filho com a empregada foi dado para a adoção. Dos filhos que teve com sua esposa e também com sua empregada, somente três meninas e um menino chegaram a idade adulta: Jenny Caroline Marx, Jenny Laura Marx, Jenny Julia Eleanor Marx, Frederick Demuth. Apesar de todas as três filhas do casal terem como primeiro nome o mesmo nome da mãe, “Jenny”, frequentemente eram chamadas pelo segundo nome ou por um apelido para as diferenciar.

Os filhos de Marx foram, respectivamente: 1- Jenny Caroline Marx (1844-1883), 2- Jenny Laura Marx (1845-1911), 3- Edgar Marx (1847–1855), 4- Henry Edward Guy ("Guido") Marx (1849–1850), 5- Franziska Marx (1851–1852), 6- Frederick Demuth (1851-1929), 7- Jenny Julia Eleanor Marx (1855-1898), 8- criança sem nome (nascido e morto em 1857).

Dos filhos sobreviventes até a idade adulta, Jenny Caroline, conhecida como "Jennychen", morreu de câncer na bexiga; Laura Marx e seu marido, Paul Lafargue (1842-1911), cometeram suicídio juntos ingerindo uma dose letal de ácido cianídrico e deixando uma carta alegando que não queriam viver a velhice; Eleanor Marx, conhecida como "Tussy", cometeu suicídio ingerindo ácido prússico (cianeto), ao que parece, estava em depressão pela separação de seu parceiro, Edward Aveling (1849-1898), que secretamente havia se casado com outra mulher, mas há motivos para desconfiança sobre as reais causas de sua morte e há quem fale em assassinato; Frederick Demuth viveu uma vida relativamente discreta e morreu de causas naturais, mas as circunstâncias específicas de sua morte não são bem documentadas.

Pode-se dizer que Marx foi filósofo, economista, historiador, sociólogo, teórico político, jornalista, e também revolucionário socialista / comunista. Teve forte influência de Hegel, se bem que se convencionou afirmar que a teoria que Marx desenvolveu conjuntamente com Engels é o Hegel invertido. Também sofre influência de Kant, Idealismo Alemão, Romantismo, socialismo utópico (Saint-Simon, Robert Owen, Louis Blanc e Proudhon), os economistas britânicos (Adam Smith, David Ricardo), utilitarismo radical na economia (Jeremy Bentham). Também cabe notar que Marx fez parte dos hegelianos de esquerda.

Em termos de desenvolvimento do pensamento, há quem fale em um “jovem Marx”, ou “primeiro Marx”, ou ainda, “Marxismo humanista”, que vai até a publicação de “Manuscritos econômicos e filosóficos”, em 1844, ainda com forte influência de Hegel e Feuerbach. E do “Marx maduro”, ou “Marx economista e sociólogo”, que surge com a “Crítica da economia política”, 1859, e “O capital”, 1867 (vol. 1). Há, no entanto, quem não veja dois Marx distintos, e sim uma continuação e evolução natural de seu pensamento.

Karl Marx trabalhou na Gazeta Renana (Rheinische Zeitung) de 15 de outubro de 1842 a 31 de março de 1843. Ele inicialmente começou como colaborador e logo se tornou o editor-chefe do jornal. Neste período de tempo, inferior a seis meses (cerca de 5 meses e 15 dias), temos o único emprego remunerado e formal exercido por Marx. Fora isto, foi primeiramente sustentado, quando criança e jovem, por seu pai, após a morte deste foi sustentado pela sua mãe e quando esta morreu por uma herança dela recebida, além disto, foi sustentado por Engels e outros amigos. Não sabemos ao certo quanto Marx recebeu nos seis meses incompletos nos quais trabalhou na Gazeta Renana, pois a documentação sobre este tema é escassa. Mas o jornal enfrentava dificuldades financeiras e era vigiado e censurado pelo governo, que por fim o fechou, já que expunha opiniões deveras radicais contra o governo da Prússia. Provavelmente Marx recebeu muito pouco ou quase nada no período em que atuou a frente da Gazeta Renana como editor chefe. O que vem a reforçar a ideia de que não possuiu um emprego estável e remunerado que lhe garantisse seu próprio sustento e o da sua família no transcurso de sua inteira vida.

Entre 1851 e 1862 colabora com o jornal norte-americano, New York Daily Tribune, com artigos que na verdade foram escritos por Engels e assinados por Marx, pois, este não dominava bem o inglês. Estas contribuições com a publicação destes artigos, também gerou alguma renda, se bem que pequena e não suficiente para a manutenção de si próprio e de sua família.

Conhece Engels em Colônia, 1842, em rápido encontro, mas em setembro de 1844, na cidade de Paris, durante uma estada de Engels de 10 dias na cidade, puderam desenvolver a amizade que duraria até o final da vida de Marx, tendo Engels em muito ajudado financeiramente a Marx e, após a sua morte, traduzido a sua difícil escrita, organizado e publicado suas obras, incluindo o segundo e terceiro volumes de “O Capital”.

No ano de 1864 participa ativamente da fundação da “Primeira Internacional dos Trabalhadores”, a “Associação Internacional dos Trabalhadores”, na cidade de Londres, que dura até 1876, quando é oficialmente dissolvida.

Numa leitura da obra de Marx, feita por vários marxistas, podemos ver uma luta de classes, na qual temos de um lado os proletários, enquanto explorados e oprimidos, e do outro lado a burguesia, enquanto opressores e exploradores.

Na sociedade capitalista, o trabalhador (proletário) é explorado pelo proprietário dos meios de produção (burguesia industrial e comercial). O proletário é aquele que trabalhando na indústria, só possui a sua força de trabalho e nada mais, enquanto o capital pertence à burguesia. Há um conflito dialético e luta de classes, sendo a classe proletária aquela que possui o potencial revolucionário para mudança social.

O termo “proletário” tem sua origem na Roma antiga, do latim "proletarius", fazendo alusão a “prole”. Os "proletarii" (do latim) eram indivíduos que não possuíam propriedades significativas além de seus filhos ("proles", no latim) e, portanto, sua única contribuição para a sociedade romana era o fornecimento de mão-de-obra, ou seja, ter filhos para trabalhar. Dentro da teoria marxista, o proletário é aquele que nada possui além de sua força de trabalho, que vende em troca de salários para sua sobrevivência e de sua família.

Marx defende que a evolução histórica da sociedade capitalista caminha para o surgimento de uma sociedade comunista, onde não haja classes sociais, onde não haja explorados e exploradores, somente deste modo e nesta nova sociedade teremos o humano realmente livre. Nesta nova sociedade o Estado opressor também se extinguirá. Há aqui um determinismo social, provavelmente inspirado na leitura de Charles Darwin e na teoria da evolução das espécies. A sociedade caminha inexoravelmente para o comunismo, o qual se apresenta como uma evolução natural da sociedade capitalista conforme esta for atingindo o ápice de seu maior desenvolvimento industrial, já que tal desenvolvimento resultaria cada vez mais na diminuição da classe burguesa e no aumento da classe proletária, bem como, do cada vez maior enriquecimento da burguesia e empobrecimento do proletariado. Se entendermos nos moldes de uma leitura da filosofia de Hegel, a burguesia como sendo a tese, o proletariado deve ser entendido como sendo a antítese, havendo uma contradição e oposição entre ambas as classes, só que diferente do pensamento de Hegel, não teremos uma síntese, uma união do melhor presente na tese e na antítese, e sim, a substituição da tese pela antítese, ou seja, a substituição da burguesia pelo proletariado enquanto classe dominante.

No pensamento de Marx, a sociedade capitalista, pautada na livre concorrência e na competição, conjuntamente com o avanço da tecnologia resultante da revolução industrial ainda em curso, tende a precisar cada vez de menor mão de obra proletária, ao mesmo tempo em que aumenta a quantidade de produtos produzidos nas fábricas para abastecer o mercado. Deste modo, temos um aumento da população desempregada e que, consequentemente, não possuem recursos financeiros para comprar os produtos que estão em abundância no mercado, gerando sucessivas crises no sistema capitalista, nas quais empresas quebram e aumenta-se o monopólio sobre a produção. Estas crises cíclicas iriam levar a uma crise final, na qual teríamos a derrubada do sistema capitalista e a revolução comunista com a tomada do poder pelo proletariado e a instauração da ditadura do proletariado.

Em uma sociedade capitalista altamente industrializada, passamos a ter a troca do homem do campo, o camponês, pelo homem da cidade que trabalha em uma fábrica vendendo sua força de trabalho, o proletariado. Conforme a sociedade avança no futuro, há a tendência da diminuição dos capitalistas e aumento dos proletariados, proporcionando as condições para ocorrer uma revolução comunista. Na primeira fase desta revolução teremos a ditadura do proletariado, na qual os proletários tomam o poder e reorganizam os meios de produção, mas ainda temos classes e contradições no interior desta mesma sociedade. Com o passar do tempo, da ditadura do proletariado se avança para a sociedade sem classes e mesmo sem Estado, do comunismo.

Segundo a concepção marxista, o trabalhador, na medida em que emprega a sua força de trabalho para a construção do capital pertencente à burguesia, torna-se cada vez mais pobre, pois seus salários são reduzidos para aumentar a lucratividade da empresa. Deste modo, o proletariado fica mais pobre ao mesmo tempo em que ajuda na criação de maior riqueza com o aumento da produção. O trabalhador é entendido como mais uma mercadoria dentro do mercado. O seu objeto de produção torna-se distante, opondo-se ao mesmo, o trabalhador torna-se alienado em relação a sua própria produção laboral.

Marx entende que o valor de uma mercadoria depende do trabalho necessário para faze-la. A diferença entre o valor de venda desta mercadoria e o valor pago aos empregados, o lucro do capitalista, é o que Marx irá chamar pelo conceito de “mais valia”, denotando a exploração do trabalhador. A mais valia, simplificadamente, apresenta-se como o resultante da diferença entre o valor do que o trabalhador produz e aquilo que ele realmente ganha.

O materialismo dialético e o materialismo histórico presentes na evolução do marxismo, encontram sua origem respectivamente em Hegel e em Darwin. Em Hegel temos o desenvolvimento de sua lógica com 1- tese, 2- antítese e 3- síntese (terminologia esta não presente em Hegel, mas usada para fins didáticos), que no marxismo ganham nova roupagem, sendo designadas estas três fases como sendo 1- afirmação, 2- negação e 3- negação da negação. Já de Darwin temos a evolução das espécies, priorizando a natureza, o mundo material, por sobre a consciência, o pensamento ou mesmo a metafísica. Em última instância tudo se reporta em suas origens à matéria, mesmo o pensamento e a consciência, originários do cérebro. A vida espiritual de uma pessoa ou comunidade é um reflexo de sua vida corporal, física, material.

As relações de trabalho e os modos de produção presentes em uma dada sociedade, sua infraestrutura, hão de determinar a superestrutura ideológica, formada esta pelas crenças, religião, moral, filosofia, ciências, e principais ideias tidas como verdadeiras na comunidade.

Em Marx a sociedade é construída a partir da economia, onde temos os modos de produção e as relações de trabalho. Em cima disto é colocado tudo o mais: as ideologias, as crenças, as religiões, etc. Para mudar o que está em cima da economia, basta mudar os modos de produção e as relações de trabalho, logo, tudo o que vemos acima da economia é fruto do capitalismo presente na nossa sociedade e se mudar para o comunismo, tudo acima mudará. Há dois termos usados para designar tais estágios: Infraestrutura (a economia, os modos de produção, as relações de trabalho) e superestrutura (a ideologias, as crenças, as religiões, etc.). Marx não quer mudar a superestrutura, pois, entende que esta é fruto da infraestrutura e que mudando a infraestrutura, a superestrutura há de mudar também.

Dentro do marxismo há três expressões que aparecem intercambiáveis para definir o mesmo conceito: “infraestrutura”, “estrutura” e “base”. Por trás destes três nomes a ideia é a mesma, mesmo conceito. Os termos “infraestrutura” e “estrutura” são mais modernos, já Marx preferia usar em alemão a expressão “basis”, que pode ser traduzida por “base”, a base econômica. A base refere-se às forças produtivas (tecnologia, meios de produção) e às relações de produção (relações econômicas e sociais que surgem a partir da produção). Em outras palavras, a base é a fundação econômica da sociedade. Já para o outro conceito, Marx fazia uso do termo alemão “Überbau” que pode ser traduzido como “superestrutura”. A superestrutura inclui todas as outras instituições e formas de consciência social derivadas da base, como a cultura, instituições políticas, sistema jurídico, religião e ideologias. Logo, se nos basearmos na literatura mais atual, encontramos os termos “infraestrutura” e “estrutura” como sendo análogos e se referindo ao que Marx chamava de “base”. Enquanto o termo “base” tende a se mostrar mais fiel aos escritos originais de Marx, “infraestrutura” mostra-se um termo mais técnico e preciso no uso atual. Os três termos, no entanto, são aceitos hoje e considerados corretos para designar este conceito.

Segundo Marx, o sistema capitalista de trabalho gera a alienação do trabalhador em relação ao seu trabalho, em 4 instâncias, temos a alienação em relação a: 1- o produto de seu trabalho, 2- a sua específica atividade laboral, 3- a sua própria essência, 4- ao próximo, ou seja, a outra pessoa.

O conceito de alienação é muito importante dentro da teoria elaborada por Marx e Engels, trata-se do modo como o trabalho efetuado dentro de uma sociedade capitalista atua de tal forma a alienar o trabalhador em relação ao trabalho, ao produto deste trabalho e de si-mesmo. As principais formas de alienação encontram-se: 1- na alienação do trabalho, que é quando o trabalhador é alienado em relação ao próprio ato de trabalhar, tornando este ato em si uma atividade externa ao trabalhador e forçada. 2- na alienação do produto, que é o que ocorre quando o produto do trabalho do trabalhador é propriedade não deste, mas sim do capitalista, criando uma desconexão entre o trabalhador e o fruto de seu trabalho. 3- na alienação de si-mesmo, que ocorre quando os trabalhadores passam a ser alienados em relação a si-mesmo, de sua verdadeira natureza humana, ao desempenhar um trabalho também alienado.

Com relação a moral, o sistema marxista enxerga em todo código moral a representação dos interesses de uma classe social em luta com as demais em seu respectivo tempo histórico, como tal é o caso da moral cristã e da moral burguesa. Toda moral de classe tem como objetivo último manter a exploração de uma classe sobre outra e por tal motivo deve ser combatida. Já a moral proletária se mostra diferente, pois, cabe ao proletariado a tarefa histórica de fazer a revolução comunista. Podemos falar de uma norma geral e válida para o que possa ser esta moral proletária: Tudo que possa favorecer a tarefa revolucionária empreendida pelo proletariado contra a burguesia, visando a implantação de uma sociedade sem classes com a derrubada do atual sistema político e econômico se apresenta como moralmente bom, já tudo que possa tornar mais lento o trabalho revolucionário ou sirva para perpetuar o atual sistema capitalista se apresenta como moralmente mal.

Marx especificou a existência de cinco distintas épocas no desenvolvimento histórico da humanidade, cada época tendo uma respectiva fase de relação de produção, como mais tarde o marxismo adotará e desenvolverá. Temos: 1- a época asiática, com um modo de produção primitivo, fazendo uso de instrumentos de pedra, arco e flechas. 2- a época antiga, onde encontramos a escravidão e a idade do metal. 3- a época do feudalismo, onde encontramos o uso do arado e do telar. 4- a época do capitalismo, onde encontramos o desenvolvimento da indústria e o surgimento da burguesia dialeticamente em oposição ao proletariado, classe revolucionária. 5- a época do comunismo, a sociedade sem classes e sem as oposições e antagonismos decorrentes da luta de classes.

 

PRINCIPAIS OBRAS DE KARL MARX

 

1- Crítica da Filosofia do Direito de Hegel ("Kritik des Hegelschen Staatsrechts"), 1844.

Marx critica a filosofia política de Hegel, argumentando que a realidade política deve ser entendida a partir das condições materiais da sociedade. Esta obra marca um passo significativo na evolução do materialismo histórico de Marx.

2- Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 ("Ökonomisch-philosophische Manuskripte aus dem Jahre 1844"). Ano da Primeira Publicação: 1932 (escritos em 1844).

Nesta série de manuscritos, Marx elabora sua crítica da economia política e introduz conceitos como alienação e exploração do trabalhador no sistema capitalista. Estes escritos são fundamentais para entender o desenvolvimento inicial do pensamento de Marx.

3- A Ideologia Alemã ("Die deutsche Ideologie"). Ano da Primeira Publicação: 1932 (escrito em 1846).

Escrito em colaboração com Engels, esta obra critica as ideias dos jovens hegelianos e desenvolve a teoria do materialismo histórico. Marx e Engels argumentam que as condições materiais e econômicas são a base da estrutura social e política, e que a história é impulsionada pela luta de classes.

4- Miséria da Filosofia ("Misère de la Philosophie"), 1847.

Marx critica as ideias do economista francês Pierre-Joseph Proudhon, defendendo a superioridade da economia política científica. Marx argumenta que a economia política deve ser baseada na análise das relações materiais e econômicas, não em abstrações filosóficas.

5- O Manifesto Comunista ("Manifest der Kommunistischen Partei"), 1848.

Escrito em colaboração com Friedrich Engels, este manifesto é um documento fundamental do movimento comunista. Ele delineia a teoria da luta de classes, a necessidade de uma revolução proletária, e o papel do comunismo na transformação da sociedade. É uma das obras mais influentes da literatura política e um marco na teoria socialista.

6- O 18 de Brumário de Luís Bonaparte ("Der 18te Brumaire des Louis Napoleon"), 1852.

Marx analisa o golpe de estado de Luís Bonaparte em 1851 e a subsequente ascensão do Segundo Império Francês. Ele utiliza o evento para ilustrar a luta de classes e o papel das forças econômicas e sociais na política.

7- Grundrisse: Esboços da Crítica da Economia Política ("Grundrisse der Kritik der Politischen Ökonomie"). Ano da Primeira Publicação: 1939-1941 (escritos em 1857-1858).

Esta coleção de manuscritos traz o desenvolvimento das ideias de Marx sobre a economia política. Os Grundrisse são um prelúdio para "O Capital" e contêm discussões detalhadas sobre temas como valor, trabalho e produção.

8- Para a Crítica da Economia Política ("Zur Kritik der Politischen Ökonomie"), 1859.

Neste trabalho, Marx explora as leis da economia política e critica as teorias dos economistas clássicos. A obra é uma preparação teórica para "O Capital" e introduz conceitos chave como a teoria do valor-trabalho.

9a- O Capital, Volume I: O Processo de Produção do Capital ("Das Kapital, Band I: Der Produktionsprozeß des Kapitals"), 1867.

Marx analisa o funcionamento do sistema capitalista, focando no processo de produção e na exploração do trabalho. Aborda as bases teóricas do capitalismo e introduz conceitos como mais-valia, a teoria do valor, capital constante e capital variável, e trata da acumulação do capital no sistema capitalista.

O livro “O capital” possui 4 volumes, sendo, no entanto, aceito pelos comentadores, que são 3 volumes, somados a um anexo ou suplemento. Destes, somente o primeiro foi escrito e publicado em vida por Marx. O segundo e terceiro foram escritos a partir das anotações de Marx, editado e publicado por Engels. O quarto e último foi publicado também tendo como base os escritos manuscritos de Marx, mas após a morte de Engels e tendo este ensinado como ler e traduzir a difícil caligrafia de Marx. Durante sua vida, aparentemente somente sua esposa, e mais tarde o seu amigo Engels, conseguiam ler e entender sua caligrafia.

9b- O Capital, Volume II: O Processo de Circulação do Capital ("Das Kapital, Band II: Der Zirkulationsprozeß des Kapitals"), 1885.

Exame do processo de circulação do capital, detalhando como o capital se movimenta através das várias fases da produção e da troca, discutindo temas como a realização do valor, a rotatividade do capital, e o papel da moeda e do crédito na economia capitalista.

9c- O Capital, Volume III: O Processo Global da Produção Capitalista ("Das Kapital, Band III: Der Gesamtprozeß der kapitalistischen Produktion"), 1894.

As relações entre as diferentes formas de capital (industrial, comercial e financeiro) e a análise da distribuição da mais-valia entre diferentes setores da economia. Trata das formas concretas que surgem no processo global da produção capitalista, como a formação dos preços de produção, a distribuição da mais-valia entre diferentes ramos da produção, e as crises econômicas.

9d- O Capital, volume IV: Teoria da mais-valia ("Theorien über den Mehrwert"). Editado por Karl Kautsky e publicado entre 1905 e 1910.

Consiste em manuscritos de Marx que discutem as teorias econômicas de seus predecessores e contemporâneos. Este volume é uma extensa crítica das teorias econômicas dos economistas clássicos que precederam Marx, como Adam Smith, David Ricardo, Thomas Malthus e outros. Marx analisa e critica suas concepções de valor, lucro, e mais-valia, estabelecendo a importância da sua própria teoria do valor-trabalho. "Teorias da Mais-Valia" é frequentemente considerado uma continuação ou um apêndice de "O Capital", pois aprofunda muitos dos temas discutidos nos três volumes anteriores.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

quinta-feira, 18 de julho de 2024

Friedrich Engels

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Engels

 

Friedrich Engels (1820-1895), nasce em Barmen, Prússia (atual Wuppertal, Alemanha), e falece em Londres, aos 74 anos de idade. É considerado filósofo, sociólogo e jornalista. Engels é o mais velho de nove irmãos. Atuou como empresário na indústria têxtil, também teórico revolucionário comunista. Engels abandona seus estudos aos 17 anos de idade para trabalhar na empresa da família, não chegando, portanto, a sequer concluir o que hoje no Brasil chamaríamos de ensino médio.

Seu pai era um rico industrial do setor têxtil (fábrica de algodão, produzia fios de algodão), em Barmen. Engels passa aos poucos a administrar esta empresa, até o momento em que resolve vender a sua parte. Ao assumir, aos 22 anos de idade, em 1842, a direção de uma fábrica da família localizada na cidade de Manchester, na Inglaterra, ficou horrorizado com a condição dos trabalhadores ingleses, o que o direcionou para pensar sobre como melhorar tais condições de trabalho. Esta experiência, bem como seu envolvimento afetivo sexual com uma operária irlandesa e militante política (Mary Burns), com quem passou a conviver de modo mais próximo, o levou a escrever “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, 1845. No transcorrer de sua vida viajou bastante, morou e visitou diversas cidades em distintos países, tais como, na Prússia (Alemanha), Itália, França, Bélgica, Suíça e Inglaterra.

 


Engels teve duas mulheres com quem conviveu boa parte de sua vida, mesmo não sendo com elas oficialmente casado (veio a casar-se com a segunda poucas horas antes dela falecer). Primeiro Mary Burns (1821-1863) e depois sua irmã, Lizzy Burns (1827-1878). Engels conheceu Mary quando trabalhava em Manchester, no ano de 1843. Esta era oriunda da classe operária e apesar de viver em Londres, sua origem era irlandesa. Mary também era militante política e tanto ela como Engels eram contrários à prática e instituição do casamento, de modo a viverem juntos como amantes sem oficializar a relação. Coube a Mary ajudar Engels no entendimento das demandas da classe trabalhadora. Quando esta falece, Engels se envolve em um novo relacionamento amoroso sexual, desta vez com a irmã da falecida Mary, Lizzy Burns, também pertencente à classe operária e da mesma forma que sua irmã, compartilhava com Engels de muitos pontos de vista em comum na esfera política e social. Engels viveu com Lizzy até o falecimento desta, sendo que pouco antes de sua morte, Engels e Lizzy se casaram oficialmente. Ambas irmãs foram muito importantes para o desenvolvimento do entendimento de Engels sobre as reais condições da classe trabalhadora, bem como, puderam proporcionar apoio emocional a Engels no transcorrer de sua vida.

Nos primeiros trabalhos publicados por Engels em jornais, preferiu utilizar o pseudônimo de Friedrich Oswald. Conhece Marx em Colônia, 1842, quando este último era editor da Gazeta Renana, em rápido encontro, mas, em setembro de 1844, na cidade de Paris, durante uma estada de Engels de 10 dias na cidade, puderam desenvolver a amizade que duraria até o final da vida de Marx, tendo Engels em muito ajudado financeiramente a Marx e, após a sua morte, traduzido a sua difícil escrita (somente a esposa de Marx e o amigo Engels conseguiam ler o que Marx escrevia), organizado e publicado suas obras, incluindo o segundo e terceiro volumes de “O Capital”. Engels deixou instruções para a publicação do quarto volume da obra, ensinando a arte de traduzir a letra de Marx para um grupo escolhido para tal finalidade, bem como, deixou instruções para a publicação do quarto volume, já que Engels era a época o único que conseguia decifrar e ler a caligrafia de Marx, para deste modo poder ter acesso aos seus manuscritos.

Engels se auto-intitulava o “segundo violino” em alusão a sua parceria com Marx, sendo este o primeiro, no entanto, cabe deixar claro que, o que se convencionou chamar de marxismo possui muito do pensamento e trabalho de Engels. Artigos publicados e assinados por Marx foram na verdade escritos por Engels. Apesar de ambos amigos se influenciarem reciprocamente e terem os mesmos ideais, há alguma diferença entre o pensamento de Marx e o de Engels, no entanto, para o que se convencionou chamar de “marxismo”, há muito de Engels, já que vários marxistas consagrados achavam de mais fácil entendimento os trabalhos escritos por Engels. Posteriormente, quando da época de Lenin, Stalin e outros marxistas, estes preferiam ler os trabalhos de Engels por os acharem mais claros que os de Marx. Engels foi co-autor, conjuntamente com Marx, de várias obras, incluindo o “Manifesto Comunista”, 1848. Foi o responsável pela publicação, após a morte de Marx, do segundo e terceiro volumes de “O capital”.

Além das obras em co-autoria, temos algumas importantes obras solo de Engels, dentre as quais, cito: "Anti-Dühring" (1878), que criticava as ideias de Eugen Dühring e defendia o socialismo científico, e "A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado" (1884), que aplicava o materialismo histórico às origens das instituições sociais.

Em sua obra “A situação da classe trabalhadora na Inglaterra”, 1845, que Engels escreveu com a ajuda da colaboração de sua primeira esposa, e com sua experiência atuando junto a fábrica do pai, em Manchester, pôde documentar as reais condições dos trabalhadores industriais na Inglaterra da época, dando ênfase na exploração do trabalhador e na injustiça social ali presente, o que pôde fornecer uma base empírica para a elaboração da doutrina comunista de Karl Marx sobre a exploração capitalista do proletariado.

Em sua obra, em co-autoria com Marx, “A ideologia alemã”, 1846, desenvolveu a teoria do materialismo histórico ou dialético, argumentando que a história avança por meio de forças materiais e econômicas e não por meio de pensamento ou espírito, como o propusera Hegel. É na base econômica (também chamada de estrutura ou infraestrutura) que são geradas as crenças, ideologias, religiões, filosofia, política, instituições jurídicas e mesmo, a ciência, formando a “superestrutura” social.

Engels teve um papel vital e significativo na elaboração do “Manifesto comunista”, 1848, em co-autoria com Marx. Neste trabalho é apresentado de modo mais simples, para o melhor entendimento da classe operária que soubesse ler, a teoria sobre a luta de classes, a burguesia e o proletariado, tendo esta última classe um papel revolucionário a representar. Trata-se de um documento fundamental de todo o movimento comunista posterior.

Este também sustentou a família de Marx por alguns anos, enviando dinheiro quando este se encontrava em Londres, também assumiu a paternidade de um filho ilegítimo de Marx, tido com a empregada alemã do casal.

Apesar deste se considerar o “segundo violino”, não é cabível entender a contribuição de Engels como sendo inferior ou menor do que a de Marx para a consolidação do movimento comunista e não podendo, também, a contribuição de Engels ser facilmente separada da contribuição de Marx, já que ambas as obras estão intimamente ligadas e por demais associadas dentro do contexto de sua criação e teorização. O trabalho de Engels não foi, portanto, de modo algum secundário quando comparado ao de Marx. Engels estudou e observou a situação do trabalhador de fábrica em sua época histórica, levantou dados e fez análises, além de produzir diversos textos sobre a questão. Atuou como militante político pró comunismo e participou da organização dos trabalhadores e da divulgação das ideias comunistas por toda a Europa. Teve a oportunidade de participar da formação da “Liga dos justos”, da “Liga comunista”, da “Primeira internacional” e também do “Partido social-democrata Alemão”. Engels, conjuntamente com Marx, se filiaram a “Liga dos justos” e, posteriormente, foram diretamente responsáveis pela mudança de seu nome para “Liga comunista”. Isto, além de outras contribuições significativas ao movimento dos trabalhadores.

Engels, em colaboração com Marx, buscava por uma sociedade sem as divisões de classe, a sociedade comunista, na qual não ocorreria a exploração do trabalhador e haveriam melhores condições de trabalho para todos. O livro “A sagrada família” (que inicialmente chamar-se-ia somente “Crítica da crítica da crítica”), 1844 / 1845, foi a primeira obra em colaboração de Engels e Marx, trabalho no qual ambos apresentam uma crítica contra os hegelianos de esquerda e, mais especificamente, contra os irmãos Bauer. Cabe a estes dois autores criarem o que mais tarde ficou amplamente conhecido como “materialismo histórico” (expressão mais próxima de Marx) ou “materialismo dialético” (expressão mais próxima de Engels), buscando uma interpretação da evolução histórica da humanidade que não fosse pautada na evolução do espírito ou do pensamento ou da consciência e sim, na economia e na história pautada nas relações e modos de produção. Há aqui uma inspiração em Hegel, no que este sustenta como a tríade “tese, antítese e síntese” (Hegel não usou esta expressão, a mesma é usada de modo didático), só que enquanto para Hegel do confronto da tese com a antítese surge algo integrador que possui elementos de ambos enunciados anteriores, a síntese, para Marx e Engels do confronto destes contrários, um há de sobrepujar o outro, assumindo o seu lugar. No caso, a tese pode ser entendida como sendo a burguesia e a antítese, o proletariado, só que ao invés de termos uma síntese, teremos que a primazia da burguesia dará lugar a do proletariado, que passará a ocupar este lugar de destaque e domínio.

Engels e Marx lutaram pela destruição da sociedade capitalista e opressora dos trabalhadores e pela construção de uma sociedade mais justa e sem classes, a sociedade comunista. Em um primeiro momento teríamos uma revolução dos proletários e a implantação da ditadura do proletariado, com a implantação de um estado socialista, tendo os trabalhadores a frente de seu governo, já em um segundo momento teríamos a sociedade comunista, sem classes, sem opressão, cujo principal princípio guia para as relações sociais e de trabalho seria: “De cada um, segundo suas capacidades; a cada um, segundo suas necessidades” (Frase que atua como síntese do princípio comunista exposto por Marx e Engels em "Crítica ao Programa de Gotha" – Também pode ser transcrita como: “De cada qual segundo suas capacidades, a cada qual segundo suas necessidades”).

 

PRINCIPAIS OBRAS DE FRIEDRICH ENGELS

 

1- A situação da classe trabalhadora na Inglaterra ("Die Lage der arbeitenden Klasse in England"), 1845.

Este livro é um estudo detalhado das condições de vida e trabalho da classe trabalhadora na Inglaterra durante a Revolução Industrial. Baseado em observações diretas e dados estatísticos, Engels descreve as péssimas condições de trabalho, moradia, saúde e a exploração sofrida pelos trabalhadores. A obra é uma crítica ao capitalismo industrial e uma das primeiras exposições sistemáticas dos problemas da classe trabalhadora.

2- A ideologia alemã ("Die deutsche Ideologie"), 1846.

Escrito em colaboração com Marx, esta obra critica as ideias dos jovens hegelianos de esquerda (Bruno Bauer, Max Stirner e Ludwig Feuerbach) e desenvolve a teoria do materialismo histórico. Engels e Marx argumentam que as condições materiais e econômicas são a base da estrutura social e política, e que a história é impulsionada pela luta de classes.

3- Manifesto comunista ("Manifest der Kommunistischen Partei"), 1848.

Escrito em colaboração com Karl Marx, este manifesto é um documento fundamental do movimento comunista. Ele delineia a teoria da luta de classes, a necessidade de uma revolução proletária e o papel do comunismo na transformação da sociedade. É uma das obras mais influentes da literatura política e um marco na teoria socialista.

4- Anti-Dühring ("Herrn Eugen Dührings Umwälzung der Wissenschaft"), 1878.

Engels critica as ideias do filósofo alemão Eugen Dühring, que defendia uma versão do socialismo baseada em suas próprias teorias. Engels usa a oportunidade para expor e defender os fundamentos do socialismo científico, abordando temas como filosofia, ciência, política e economia.

5- Dialética da natureza ("Dialektik der Natur"), ano da primeira publicação: 1925 (escrito entre 1873-1883).

Engels aplica os princípios do materialismo dialético à natureza e às ciências naturais. Ele argumenta que as leis da dialética governam não apenas a sociedade e a história, mas também os processos naturais. Esta obra busca mostrar a unidade entre a natureza e a sociedade através de uma visão materialista do mundo.

6- Do socialismo utópico ao socialismo científico ("Die Entwicklung des Sozialismus von der Utopie zur Wissenschaft"), 1880.

Baseado em capítulos de "Anti-Dühring", este panfleto resume a transição das ideias socialistas utópicas para o socialismo científico desenvolvido por Marx e Engels. Ele explica como o socialismo científico se baseia na análise materialista da história e na luta de classes.

7- A origem da família, da propriedade privada e do Estado ("Der Ursprung der Familie, des Privateigentums und des Staats"), 1884.

Engels aplica a teoria do materialismo histórico à análise das instituições sociais. Ele examina o desenvolvimento da família, da propriedade privada e do Estado, argumentando que essas instituições surgiram com a divisão do trabalho e a emergência das sociedades de classes.

8- Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã ("Ludwig Feuerbach und der Ausgang der klassischen deutschen Philosophie"), 1886.

Esta obra é uma crítica ao idealismo alemão, em particular às ideias de Ludwig Feuerbach. Engels discute a transição do idealismo ao materialismo e explica como o materialismo histórico e dialético de Marx e dele próprio supera as limitações da filosofia clássica alemã.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)

terça-feira, 16 de julho de 2024

Antonio Gramsci

 

Por: Silvério da Costa Oliveira.

 

Antonio Gramsci

 

Antonio Sebastiano Francesco Gramsci (1891-1937) atuou como filósofo e escritor, teórico marxista, jornalista, crítico literário, linguista, historiador e político na Itália. Nasce em Ales, na Sardenha, e falece em Roma, Itália. Seus pais tiveram no total sete filhos, sendo Gramsci o quarto. Proveniente de família pobre, enfrentou algumas dificuldades financeiras quando jovem. Gramsci casou-se com Julia Schucht (1896-1980), com quem teve dois filhos. Membro fundador e secretário geral do partido comunista da Itália. Foi deputado eleito em 1924 pelo distrito de Vêneto, Itália. Foi preso na Itália em 1926, condenado a 20 anos de prisão, ficou cerca de 11 anos preso, sendo solto em 1937, quando recebeu liberdade condicional, estando com sua saúde debilitada e após tratamento em alguns hospitais, veio a falecer pouco depois de liberto, então com apenas 46 anos de idade. Em vida não publicou livro algum. Escreveu e publicou alguns ensaios em jornais antes de ser preso e durante a prisão escreveu os assim chamados “cadernos do cárcere”, além de várias cartas. Este material foi posteriormente organizado e publicado após a sua morte.

Seu trabalho tem como foco o que na obra de Marx recebe a denominação de “superestrutura”, ou seja, as ideias presentes na sociedade, a ideologia reinante, as crenças e as diversas doutrinas, sistemas e instituições que compõem todo o pensamento predominante em uma dada sociedade. Para Marx, na sociedade temos a infraestrutura e a superestrutura, a infraestrutura se apresenta como sendo a base econômica da sociedade, composta pelos modos de produção, e as relações de produção e trabalho.


 

Gramsci entende que as condições existentes no oriente são diferentes das do ocidente. Aqui por oriente ele entende particularmente a Rússia, na qual tivemos a revolução comunista de outubro de 1917, mas seu pensamento também se aplicaria às subsequentes revoluções ocorridas na China, Coreia e Vietnã. Estas condições eram específicas e distintas das existentes no restante da Europa e nos países americanos, pois, nestes outros países as condições existentes se mostram bem mais complexas socialmente. Se nos países citados a revolução comunista ocorreu a partir de uma “guerra de movimento”, priorizando a luta armada para a tomada do poder, nos demais países caberia adotar uma “guerra de posição”, estratégia na qual se valoriza a educação das classes subalternas para se obter uma progressiva hegemonia cultural marxista. Primeiro a mudança da mentalidade, atuando na superestrutura social, depois a mudança se daria na infraestrutura, ou seja, nos meios produção e nas relações de trabalho.

Segundo seu pensamento, o que garante o domínio de uma classe sobre outras dentro de uma sociedade não é o aparelho repressor do Estado e sim a hegemonia cultural, que se dá por meio do controle dos meios de comunicação, do sistema educacional e das instituições religiosas. Segundo o pensamento de Gramsci, a revolução comunista e tomada de poder pelo proletariado deve obrigatoriamente ser antecedida por uma mudança cultural de mentalidade das pessoas na sociedade. Gramsci entende que os principais agentes desta mudança cultural de mentalidade do proletariado são os intelectuais com o uso prioritário da escola enquanto instrumento adequado a efetivar tais mudanças.

Uma questão de relevância a ser destacada é o uso dos termos “hegemônicos” e “subalternos” em substituição aos conceitos de “burguesia” e “proletariado”. Tais termos se apresentam como categorias mais abrangentes, capazes de englobar outros atores que ficavam de lado com o uso dos termos tradicionais. A categoria de “subalterno” envolve toda e qualquer classe ou grupo social que se apresente como subalterna a outra, incluindo aqui não somente os proletários, mas também os camponeses, os desagregados, desajustados e marginais, que na linguagem marxista são chamados de “lupemproletariado”. Deste modo, pela categoria de “subalternos” podemos englobar conjuntamente os explorados e oprimidos de um modo mais abrangente do que pela forma como tradicionalmente a luta de classes e a divisão marxista da sociedade nos apresentavam.

Ao abordar o livro “O príncipe”, de Maquiavel, Gramsci entende que o príncipe moderno não é mais uma pessoa e sim um coletivo presente na forma do partido comunista. No livro original, o príncipe se refere a uma pessoa que pode exercer seu poder e influência para reorganizar a Itália, mas Gramsci pensa que as mesmas qualidades presentes ao príncipe podem estar presentes no partido comunista. Deste modo, adapta a interpretação desta obra às lutas políticas e de classes contemporâneas. O príncipe deixa de ser uma figura individual e passa a ser representante de um coletivo. Com isto, Gramsci argumenta sobre a necessidade de haver uma liderança política na luta pela hegemonia. Numa abordagem adaptativa da obra ao contexto social presente na época de Gramsci, este entende que a obra pode ser lida como um guia para o governante adquirir e manter o poder. Cabe ao príncipe ter habilidade, coragem, sabedoria, astúcia e força. Cabe ao partido comunista liderar a transformação social, exercendo liderança intelectual e moral visando criar uma nova visão de mundo que possa desafiar a visão de mundo hegemônica atual. Cabe ao partido propiciar o surgimento de intelectuais orgânicos e apoiar o seu desenvolvimento. Deve o partido usar de estratégias e táticas para alcançar seus objetivos, ter capacidade adaptativa, saber negociar e fazer alianças, bem como, saber usar da propaganda. O partido deve saber usar do consenso e também da coerção, quando necessário for.

Em Gramsci temos alguns conceitos por ele elaborados que se apresentam com originalidade e importância, tais como: hegemonia cultural, intelectuais orgânicos, bloco histórico, filosofia da práxis e a distinção entre sociedade civil e sociedade política. Iremos agora falar destes conceitos, explicando-os resumidamente.

Hegemonia cultural: Não é somente pela coerção econômica que a classe dominante detém o poder, o controle social é mantido por meio do que Gramsci chamou de “hegemonia cultural”, conceito que nos fala na internalização de valores e ideologias da classe dominante por parte da classe subalterna. Nesta visão de mundo temos os valores e as normas sociais que são passados por meio da liderança moral e intelectual, moldando as crenças sociais. A luta pela hegemonia cultural torna-se de vital importância para o movimento revolucionário, de modo que a revolução não pode se restringir a tomada do poder político, ampliando sua esfera para a transformação da cultura e ideologia dominante e para isto é necessário que os trabalhadores desenvolvam uma contra-hegemonia cultural, visando desafiar os valores culturais existentes na sociedade capitalista. A hegemonia cultural é formada por meio de um processo de construção de consenso, do qual participam diversas instituições sociais, tais como a Igreja, as escolas, a mídia e mesmo elementos da cultura popular. A estabilidade social só é mantida por meio deste consenso, já que a longo prazo a coerção sozinha não seria capaz de manter o poder.

Intelectuais orgânicos:  Em Gramsci temos a diferenciação entre intelectuais orgânicos e tradicionais. Os orgânicos surgem de dentro da classe trabalhadora, estando envolvidos na luta de classes visando a transformação social e a construção de uma sociedade sem classes. Já os intelectuais tradicionais pensam serem isentos, mas na prática defendem o status quo hegemônico da classe dominante. Por intelectual Gramsci não entende somente aquele que seja acadêmico, sua visão é bem mais abrangente e inclui todos que possam exercer alguma liderança em algum setor cultural. Toda classe social possui seus próprios intelectuais orgânicos, que surgem do interior da mesma e desempenham um papel importante na construção da hegemonia cultural reinante. Os revolucionários precisam investir na formação de intelectuais orgânicos pertencentes à classe trabalhadora, visando educar, organizar e liderar os trabalhadores para a ação revolucionária e para tal intento, tais intelectuais devem criar uma cultura contra-hegemônica visando contestar as narrativas dominantes.

Bloco histórico: Por tal conceito Gramsci entende a combinação de forças resultantes das estruturas econômicas, sociais e ideológicas, formando uma hegemonia que favorece uma determinada classe no poder, mantendo a ordem social. O que significa que para que haja uma real mudança social é preciso mudar não somente a infraestrutura, mas também a superestrutura social, formada pelas crenças e ideologias, pela religião e diversos valores sociais. Aqui temos, no bloco histórico, uma combinação de forças sociais e culturais que dão sustentação a uma específica ordem hegemônica, são relações sociais, econômicas e culturais.

Filosofia da práxis: Aqui temos uma referência ao marxismo, apontando para a necessidade de enfatizar a prática e a ação humana sobre a história. A filosofia da práxis (marxismo) vai além de ser uma ciência das leis da sociedade, sendo um guia para a ação revolucionária. Também temos uma crítica ao marxismo tradicional, pois, a filosofia da práxis rejeita a visão determinista presente no marxismo, que tornaria as mudanças sociais inevitáveis, já que resultantes de forças econômicas. Para Gramsci são importantes a vontade, a ação consciente e a liderança política na transformação social. As ideias não se apresentam somente como reflexões sobre as condições materiais existentes, mas também atuam como forças ativas na mudança. A filosofia da práxis dá destaque a importância de transformar a consciência e a cultura para que seja possível a revolução comunista, destacando a necessidade de criação de uma nova cultura proletária visando a formação de uma contra-cultura hegemônica. A filosofia da práxis nos traz a unidade entre teoria e prática.

Um importante conceito desenvolvido por Gramsci é o de “sociedade civil”, esta esfera é nova, surgindo a partir da metade do século XIX dentro da sociedade capitalista. A “sociedade civil” é composta por organizações, entidades sociais, sindicatos, partidos políticos, associações de classe e diversas outras auto-organizações que na prática socializam a política. A sociedade civil é parte integrante do Estado e nela ocorrem claras relações de poder, sendo uma arena na qual vemos o desenvolvimento da luta de classes visando obter a hegemonia diante da orientação dada pelo governo ao rumo da sociedade. Ao se pensar nas sociedades ocidentais, complexas, onde temos uma já bem desenvolvida “sociedade civil”, não cabe adotar a luta armada presente na “guerra de movimento” e sim adotar uma estratégia de “guerra de posição”, na qual passamos a encontrar um caminho que se mostra mais viável para a implantação do socialismo a partir da conquista paulatina da hegemonia cultural, ocupando espaços na sociedade e angariando reformas em direção ao socialismo e a uma gradativa mudança de mentalidade social.

Sociedade civil e sociedade política:  Por sociedade política, Gramsci faz referência a todas as instituições que atuam a favor da manutenção do Estado por meio da coerção, como tal é o caso da polícia, do exército e do sistema jurídico. Já a sociedade civil engloba as instituições presentes na vida privada das pessoas, tais como a escola, a Igreja, os sindicatos e os veículos de mídia. É por meio da sociedade civil que a hegemonia cultural é exercida, já que tais instituições ajudam na difusão das ideologias reinantes, obtendo o consentimento das classes subordinadas.

Conforme a sociedade civil for desenvolvendo a capacidade de regular-se a si própria, a tendência é o Estado ir aos poucos desaparecendo, no entendimento do pensamento de Gramsci.

Gramsci propõe como estratégia revolucionária conquistar primeiramente a sociedade civil e depois a sociedade política e, com esta, o Estado. Quando da exitosa construção da contra-hegemonia cultural na sociedade civil, temos conjuntamente as bases para a mudança política de um nível mais profundo e intenso. No lugar de uma luta armada, temos a conquista cultural da sociedade civil.

Guerra de movimento e guerra de posição: Ao se pensar em uma guerra de movimento dentro do contexto filosófico proposto por Gramsci, pensamos na luta armada, no enfrentamento direto entre classes sociais, em uma insurreição armada, em um golpe de Estado, mas para tal mudança rápida ocorrer é preciso estarmos diante de um Estado enfraquecido. A guerra de movimento é uma luta rápida e direta para a tomada do poder, como as revoluções clássicas, que derrubam rapidamente a ordem existente. A guerra de movimento foi exitosa no Oriente (Rússia, 1917), mas não seria vitoriosa, segundo o pensamento de Gramsci, no restante da Europa, onde se faria necessário uma guerra de posição, lembrando as trincheiras usadas na primeira guerra mundial. Temos aqui uma luta prolongada e gradual visando obter a hegemonia cultural dentro da sociedade civil. Aqui temos alianças, construção de uma nova cultura, gradual erosão do poder das classes dominantes, trabalho constante de organização, foco na educação, construção de instituições alternativas. Pela guerra de posição se prepara o terreno no campo ideológico e cultural antes de qualquer outra mudança econômica e política mais profunda.

Estado integral: Por tal conceito Gramsci entende o somatório da sociedade política com a sociedade civil, ou seja, o Estado não é somente um conjunto de instituições voltadas para a coerção, mas também de outras que difundem e perpetuam valores, crenças e tradições pertencentes à classe dominante, criando uma hegemonia cultural. É no Estado integral que temos o campo de batalha no qual as lutas pela hegemonia cultural são travadas e onde se busca manter o controle da classe dominante sobre as classes subalternas por meio da coerção presente na sociedade política e também por meio do consenso gerado na sociedade civil. Na transformação radical da sociedade é prioritário enfrentar e transformar o Estado integral por meio de uma luta política, mas também por meio da construção de uma nova hegemonia cultural e ideológica.

 

PRINCIPAIS OBRAS

1- Cadernos do Cárcere (Quaderni del carcere), 1975. A edição definitiva e mais completa é organizada por Valentino Gerratana e publicada pela Editora Einaudi em 1975.

Coleção de escritos de Gramsci produzidos enquanto estava preso pelo regime fascista entre 1929 e 1935. Os cadernos contêm reflexões sobre a política, a cultura, a história e a teoria marxista. Gramsci desenvolve conceitos-chave como a hegemonia cultural, o bloco histórico e a filosofia da práxis.

2- Cartas do Cárcere (Lettere dal carcere), 1947. Publicadas postumamente em 1947.

Obra que reúne as cartas que Gramsci escreveu durante seu período de encarceramento, principalmente endereçadas à sua família, amigos e camaradas do Partido Comunista Italiano. As cartas revelam tanto seu pensamento político e filosófico quanto aspectos pessoais de sua vida. A edição mais completa é publicada pela Editora Einaudi.

3- Escritos Políticos (Scritti Politici), 1967. Coletânea publicada postumamente em várias edições; uma edição significativa foi publicada em 1967

Coletânea de artigos, discursos e textos de Gramsci escritos antes de sua prisão, focados em questões políticas e sociais da Itália e do movimento operário internacional. Os textos cobrem temas como a organização do partido, a luta contra o fascismo e a estratégia revolucionária.

4- Literatura e Vida Nacional (Letteratura e vita nazionale), 1950. Coletânea publicada postumamente em 1950.

Esta obra reúne textos onde Gramsci analisa a literatura italiana e sua relação com a sociedade e a política. Ele discute o papel dos intelectuais, a importância da literatura popular e a função da cultura na formação da consciência nacional.

5- Os Intelectuais e a Organização da Cultura (Gli intellettuali e l'organizzazione della cultura), 1949. Coletânea publicada postumamente em 1949.

Gramsci explora o papel dos intelectuais na sociedade, diferenciando entre intelectuais tradicionais e orgânicos. Ele argumenta que os intelectuais devem desempenhar um papel ativo na luta de classes e na formação de uma nova hegemonia cultural.

6- Socialismo e Cultura (Socialismo e cultura), 1916.

Gramsci discute a relação entre socialismo e cultura, argumentando que a luta pela hegemonia cultural é tão importante quanto a luta política e econômica. Ele enfatiza a necessidade de uma cultura proletária que possa desafiar a hegemonia da classe dominante.

7- Notas sobre Maquiavel, sobre a política e sobre o Estado moderno (Note sul Machiavelli, sulla politica e sullo stato moderno), 1949. Publicadas postumamente em 1949.

Gramsci oferece uma análise detalhada das obras de Maquiavel, especialmente "O Príncipe", e utiliza suas teorias para discutir questões contemporâneas de política e teoria do Estado. Ele investiga como as ideias de Maquiavel podem ser aplicadas na construção de um novo tipo de liderança revolucionária.

 

Silvério da Costa Oliveira.

 


 

Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.

Site: www.doutorsilverio.com

(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)