Textos filosóficos, críticos, comportamentais e sobre arte da escrita, sucesso e auto-ajuda.
Professor Doutor Silvério
Blog: "Comportamento Crítico"
Professor Doutor Silvério
Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.
(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)
E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!
OLIVEIRA, Silvério da Costa. “Discrinto” (discr-into ou
into-discri = discriminação + intolerância): Discriminação e intolerância como
base para os fenômenos do assédio moral, harassment, ijime, whistleblowers,
mobbing e bullying dentre outros.. Rio de Janeiro: [s.n.], 2013. xx p.
Disponível em: <www.doutorsilverio.com>.
Acesso em:
Sobre o autor
Silvério da Costa Oliveira é Doutor – Ph.D. e Mestre em Psicologia;
Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia, possui a Licenciatura
Plena em Psicologia e a Licenciatura Plena em Filosofia, possui a Licenciatura
pelo MEC em História e Sociologia, autor de vários livros e artigos,
conferencista. Sua formação está estruturada sobre três pilares: a Filosofia, a
História e a Psicologia.
Título: “Discrinto” (discr-into ou into-discri = discriminação +
intolerância): Discriminação e intolerância como base para os fenômenos do
assédio moral, harassment, ijime, whistleblowers,
mobbing e bullying dentre outros.
Procura-se fornecer uma melhor
denominação em língua portuguesa para o fenômeno abordado em distintas
pesquisas por distintos nomes, tais como: assédio moral, harassment, ijime,
whistleblowers, mobbing e bullying dentre outros. Entende-se que tais fenômenos
são formados basicamente pela junção da discriminação e da intolerância e que todos
se assemelham entre si em sua base de origem. Discute-se tal fenômeno e
explica-se como o mesmo se desenvolve e o significado dos diversos nomes dados
nas pesquisas que o abordam.
Por: Silvério da Costa Oliveira.
O título deste
pequeno artigo, “Discrinto”, é uma proposta de mudança de nome para um fenômeno
bem antigo, se bem que as pesquisas sobre o tema sejam recentes, bem como o
maior interesse dado pela mídia. O fenômeno aqui abordado recebe diversos e
distintos nomes de acordo com o recorte dado pelos pesquisadores ao tema, mas
em essência o fenômeno é o mesmo, o que muda é o local onde o mesmo ocorre, a
faixa etária das pessoas envolvidas, a cultura predominante, enfim, o recorte
dado pelos pesquisadores que tende a favorecer a um determinado termo cunhado
por um grupo, visando salvaguardar os direitos autorais sobre a pesquisa.
Quando fazemos uso de um termo, fazemos uso de toda uma pesquisa anterior,
citando os nomes dos pesquisadores que foram os primeiros a usar o termo
fazendo pesquisa nesta área, deste modo, pesquisadores que usam um determinado
termo tendem a evitar usar outro pelo simples fato de o outro fazer referência
a outros pesquisadores e outras pesquisas sobre o mesmo fenômeno, em verdade,
temos aqui mais uma “reserva de mercado” do que distintas coisas sendo
pesquisadas.
Quando
proponho o termo “Discrinto”, penso que o mesmo é apropriado em língua
portuguesa por fazer referência direta a dois conceitos profundamente presentes
em todo este fenômeno, independente do nome que tenha sido anteriormente dado
ou do local onde o mesmo se dá, pois, por tal termo entendemos a combinação da
“discriminação” com a “intolerância” e seu resultado é um somatório de
agressões gratuitas e uma série de humilhações impostas a uma pessoa ou um
grupo por outras pessoas ou grupos, de modo repetitivo, contínuo, freqüente,
intencional e voluntário.
Entendo que
este fenômeno, por onde podemos claramente vislumbrar agressões gratuitas
físicas e mentais, humilhações, hostilidades diversas, intimidação, perseguição
e outras coisas ruins e nada dignificantes da condição humana, está imerso em
um mar de discriminação e intolerância, as quais se apresentam como base para
os fenômenos que recebem por meio dos pesquisadores diversos nomes de acordo
com a abordagem da pesquisa e o enfoque mais específico dado a uma determinada
nuance do problema, bem como, questões envoltas em valores culturais que tendem
a variar conforme a sociedade, deste modo, por meio da pesquisa francesa, por
exemplo, temos o conceito de assédio moral, focado no ambiente de trabalho e
onde temos um desnível de poder entre as partes, sendo este assédio visto de
modo mais sutil, disfarçado, levando a vítima a ter dúvidas se de fato sofre
assédio ou se é incompetente ou louca.
Nos últimos
anos este fenômeno tem ganhado cada vez mais presença na mídia e em pesquisas
ocorridas ao redor do mundo, sendo que cada grupo de pesquisadores tem feito um
recorte próprio neste fenômeno, selecionando uma determinada parte para
desenvolvimento de seus estudos e dando um nome particular ao fenômeno a partir
do enfoque dado à pesquisa, deste modo, este fenômeno tem sido abordado de
diferentes maneiras e recebido distintos nomes, tais como: assédio moral,
bullying, cyberbullying, mobbing, etc.
Nas pesquisas
norte-americanas temos o termo harassment, que se apresenta como um outro nome
para o assédio moral, onde temos aqui ataques repetitivos, intencionais e
voluntários visando atormentar a vítima.
Já o ijime, é
como o fenômeno se apresenta dentro dos estudos e da cultura japonesa, sendo
algo presente tanto no ambiente escolar, como também do trabalho, com a
variação que nesta cultura ainda é visto como algo aceito e necessário para
manter-se a uniformidade e evitar o individualismo visto como nocivo pela
cultura japonesa.
O termo whistleblowers,
por sua vez, traz a tona o problema gerado quando aqueles que trabalham em
áreas consideradas sensíveis, como, por exemplo, saúde e militar, tendem a
exercer sua cidadania alertando a população em geral sobre coisas muito erradas
que ocorrem em seus ambientes de trabalho, como, por exemplo, corrupção,
violações da lei ou de normas importantes à segurança, práticas desonestas no
serviço público, comportamentos apresentados por empresas ou associações que
tendam a ocasionar dano a natureza, saúde, segurança, propriedade e a sociedade
em geral. Claro está que denunciar o sistema, seja ele qual for, ocasiona
represarias e o indivíduo acaba sendo a vítima. Neste caso específico, as
agressões sofridas visam primeiramente silenciar o indivíduo, bem como evitar
que outros façam o mesmo.
Não poderíamos
deixar de falar na modalidade estudada com o nome de mobbing, pois pela mesma
os pesquisadores oriundos em geral dos países nórdicos (Suécia, Dinamarca,
Finlândia), da Suíça e da Alemanha entendem o comportamento agressivo e hostil
de um grupo para com uma pessoa isolada ou outro grupo menor, deste modo,
podemos ver o mobbing como um comportamento grupal presente no ambiente escolar
e do trabalho, no qual temos perseguições coletivas e violência subjetiva e
física. O termo mobbing tem sido usado quando se trata de um grupo atacando uma
pessoa ou outro grupo específico, de forma contínua, freqüente e repetitiva.
Por fim, temos
a menininha de ouro da mídia nos tempos atuais, o bullying, termo presente em
pesquisas de origem norte-americana e que de início focavam mais o ambiente
escolar, onde um ou mais meninos ou meninas tidos como valentões escolhiam uma
ou mais vítimas (as pesquisas apontam em média cerca de três vítimas por cada
molestador) para agredir e humilhar de modo repetitivo e freqüente, geralmente
tais alunos são escolhidos por serem vistos como diferentes do grupo e sem
condições de se autodefenderem, não podendo responder em pé de igualdade ao
agressor. O termo bullying acabou sendo usado mais em pesquisas envolvendo o
ambiente escolar, crianças e adolescentes. Hoje, as pesquisas sobre bullying
incluem outros ambientes além do escolar e o termo é freqüentemente usado para
agressões no ambiente de trabalho.
Por
cyberbullying entendemos o somatório dos ataques feitos com o uso dos meios de
informática, tais como mensagens eletrônicas, vídeos, fotos, textos e criação
de sites na Internet ou o uso das comunidades e redes sociais para infernizar a
vida de uma pessoa ou grupo, depreciando, humilhando, difamando, ameaçando e
organizando situações extremamente desagradáveis para a vida de tais pessoas.
Por sua vez o
termo assédio moral esteve mais presente em pesquisas envolvendo adultos em
seus ambientes de trabalho.
Citei algumas
variações com seus respectivos nomes, dentre outros, presentes neste fenômeno,
mas cabe destacar e frisar que não importa o nome que seja dado, o que temos
sempre presente de modo repetitivo, freqüente e constante é a discriminação de
uma pessoa ou grupo de pessoas por serem as mesmas consideradas de alguma forma
como diferentes e a intolerância diante destas pessoas, desta diferença e desta
situação. A intolerância diante do diferente é tamanha que a este é negada a
possibilidade de existência, devendo ser isolado, negado e afastado
violentamente do grupo, neste caso vale tudo, desde zombarias a agressões
físicas abertas ou sutis e veladas.
Todas as
pessoas são diferentes, todos têm a sua individualidade, a qual deve ser
respeitada, no entanto, a grande maioria tem medo de ser diferente e prende-se
a idéia de ser igual a todos os demais integrantes de seu grupo social. Uma
forma de unificar os laços sociais e afetivos presentes entre os integrantes de
um grupo social é contrapor seus integrantes a outros que sejam diferentes do
grupo, ao afirmar esta diferença, destacando-a, reforçar a ilusão de igualdade
presente no grupo social. Deste modo, tanto a um indivíduo, como também a um
grupo social minoritário que seja considerado diferente podem advir
conseqüências bem desagradáveis, gerando dor, sofrimento e mesmo a morte.
Neste fenômeno
temos de destacar o aspecto repetitivo do mesmo que o irá diferenciar de
situações outras, onde mesmo havendo agressões a um indivíduo ou grupo não há
razões que o justifiquem incluir como parte integrante do fenômeno em análise.
Presente ao fenômeno teremos a possibilidade de agressões físicas que podem
aumentar em intensidade até provocar danos expressivos ou mesmo a morte da
vítima, temos também a presença de situações onde haja explícita ou implícita
intimidação, presença de ameaças, depreciação, exclusão de participação em
atividades do grupo, etc.
O que faz com
que alguém seja vítima é o fato desta pessoa ou grupo social ter determinadas
características que sejam desvalorizadas ou, ao contrário, supervalorizadas e
que gerem inveja por parte do grupo social dominante. Deste modo, o alvo
escolhido para vítima pode ser uma pessoa muito gorda ou muito magra, muito
alta ou muito baixa, que faça uso de alguma coisa que a torne diferente (óculos
de grau, aparelho nos dentes, colete ortopédico, etc), com características de
personalidade que a coloquem em um extremo de timidez e introversão ou seu
completo oposto, pessoas consideradas pelos padrões vigentes como muito feias
ou muito belas, pouco ou muito inteligentes, em relação à média.
Vítimas podem
desenvolver transtornos, apresentar tentativas de suicídio ou tentativas de
vingança contra aqueles tidos como agressores. Temos diversos episódios de
pessoas que após terem sofrido episódios nos quais foram constantemente
molestados, humilhados e ridicularizados, tentaram se vingar adquirindo armas e
atacando diversas pessoas, ocasionando verdadeiros massacres aparentemente sem
sentido.
Querendo
admitir ou não, este fenômeno se apresenta para a vítima como a imposição de
forte agressão e crueldade deliberadamente direcionada para ela por outra
pessoa ou grupo social com o claro objetivo de fazê-la sofrer emocional e
fisicamente, criando relações de poder onde a vítima é percebida como exercendo
um papel social inferior, fraco, vulnerável e com possibilidade de manipular
menos e mais fracos instrumentos de poder que seus agressores.
Quanto aos
agressores, estes podem agir sozinhos ou em grupos. Pesquisas apontam que
grupos de meninas e mulheres tendem mais a optar por comportamentos que levem a
exclusão social da vítima escolhida, é comum neste grupo a utilização de
boatos, a intimidação por meio de insultos sussurrados ou risos no grupo diante
da vítima, destruição da reputação social da vítima, tentativas de afastar
outras pessoas do convívio da vítima. Já em meninos e homens é mais comum a
agressão física e verbal direta. Claro está que a forma como o grupo agride
está diretamente associada à cultura e época histórica em que as pessoas vivem,
conforme as mulheres e homens vão se assemelhando culturalmente em nossa
sociedade, também seus comportamentos agressivos tendem a tornarem-se mais
parecidos.
Podemos falar
de um determinado perfil de personalidade que esteja mais propenso aos ataques
no ambiente escolar e de trabalho, se bem que basta ser considerado diferente
do grupo dominante para ser alvo dos mais degradantes ataques. Como perfil
básico das vítimas podemos citar: timidez, ansiedade, insegurança, falta de
habilidades sociais, dificuldade de se impor perante o grupo, medo dos
agressores e recusa em denunciá-los, baixa auto-estima. Claro está que grupos
sociais específicos também são alvo constante de ataques, como, por exemplo:
etnias, religiões, preferências sexuais, obesidade, etc.
Para muitas
pessoas que mantêm a ilusão do grupo de iguais, ser diferente é uma ofensa
imperdoável que merece ser punida da forma mais violenta e horrenda possível,
para que não haja margem de dúvida que tal comportamento não é aceitável e mais
importante ainda, para deixar claro que os agressores são iguais entre si,
normais dentro de seu grupo, e não são semelhantes ao que é diferente. Este,
por afirmar a diferença, reforça a ilusão da igualdade e irmandade dentro do
grupo.
Para
entendermos este fenômeno é necessário a compreensão dos três atores presentes.
Os protagonistas desta tragédia social são (1) quem maltrata e agride, (2) a
vítima que sofre as agressões e (3) os espectadores do drama. Para mudar esta
situação e acabar com tal comportamento inaceitável é necessário trabalhar em
cada um destes personagens, propondo novas formas de lidar com situações
complexas, com seus próprios sentimentos e com o comportamento e atitude
expressado pelas demais pessoas. É preciso que os espectadores parem de
assistir calados e indiferentes a estas cenas grotescas de abuso, humilhação,
agressão e violência gratuita. É preciso que toda a sociedade diga não a tais
comportamentos agressivos e degradantes.
Aqui, por
“discrinto”, com os diversos e distintos nomes que fragmentos deste fenômeno recebem
em distintas sociedades e culturas por meio de pesquisas e abordagens dadas por
pesquisadores diferentes, temos, antes de mais nada, uma patologia social do
isolamento e da solidão. A mais eficaz defesa que se pode ter contra tais
fenômenos é a formação de grupos de amizade, de alianças construtivas, o
encontro de solidariedade. Quanto mais só a pessoa estiver, mais vulnerável aos
ataques ela estará, deste modo, estar em interação com o grupo, ter contatos
sociais e manter amizades diversas funciona como uma vacina profilática. Os
agressores em geral tendem a tentar isolar suas vítimas, privando-as da
solidariedade de outras pessoas e destruindo possíveis alianças que esta possa
ter, alimentando a rivalidade entre grupos e permitindo ataques sem defesa ou
intervenções externas. Alianças certas e uma eficaz rede de comunicação são
fortes armas contra a discriminação e a intolerância em todas as formas em que
se apresentar.
Pergunta: Você já foi vítima, autor ou
participante de alguma cena de forte discriminação e intolerância a uma pessoa
ou grupo social?
Bibliografia
CALHAU, Lélio Braga. Bullyng:
O que você precisa saber: Identificação, prevenção e repressão. 2. ed. rev.,
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MALDONADO, Maria Tereza. Bullyng
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MOREIRA, Dirceu. Transtorno
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o Preconceito, a Violência e a Covardia entre Alunos. Rio de Janeiro: Objetiva;
Fontanar, 2010. 188p.
ZAWADSKI, Mary Lee; MIDDELTON-MOZ, Jane. Bullyng: Estratégias de sobrevivência
para crianças e adultos. Trad. Roberto Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed,
2007. 152p.
Assédio moral no local de
trabalho. Rio de Janeiro: SinproRio – Sindicato dos Professores do Município do
Rio de Janeiro e Região; NUCODIS/DRT-SC, [2010].
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
Escritor, Filósofo, Psicólogo.
Doutor (UERJ) e Mestre (UFRJ/FGV) em Psicologia; Professor universitário.
(Respeite os Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto
– Todo autor tem o direito de ter seu nome citado junto aos textos de sua
autoria)
Pensei em ocupar
os três reinos, animal, vegetal e mineral, mas por fim optei por destacar o
arco-íris no lugar do terceiro elemento simbólico em virtude da força do
símbolo no tocante ao que me proponho a aqui explicar. E devo lembrar também
que para alguns há a lenda de que no final do arco-íris encontra-se um pote de
ouro (mineral), bem, no nosso caso faremos alusão a esta fortuna adjetivando
nosso arco-íris como sendo cor de rosa. Claro esta também que existem nomes
técnicos para alguns dos quadros clínicos que irei abordar aqui, como, por
exemplo, psicopatia ou sociopatia, no entanto, pretendo discorrer de forma mais
alegre e menos técnica sobre pessoas com as quais todos nós convivemos no nosso
dia-a-dia, mesmo que nem sempre percebamos as nuances mais sutis de seu
comportamento.
Pensemos aqui
o termo camaleão de modo semelhante ao adotado pela cultura popular quando esta
utiliza o termo em referência a camuflagem e mudança de cor de tais animais,
adaptando-se e confundindo-se com o meio, tornando-os menos visíveis, como uma
característica de algumas pessoas, as quais seriam percebidas socialmente como
pessoas volúveis e maleáveis no tocante ao seu comportamento e a facilidade de
adaptá-lo ao ambiente no qual transitam. Tal termo pode ter uma conotação
negativa, assemelhando-se a falsidade, ou uma conotação positiva,
assemelhando-se a flexibilidade, de qualquer modo, este termo está presente
coloquialmente em linguagem figurada visando adjetivar qualidades de algumas
pessoas. O camaleão humano é um especialista em se confundir com a paisagem,
qualquer que seja a paisagem.
O camaleão, figurativamente
falando, também pode ser visto como um predador humano, um predador social, que
sabe se disfarçar de modo a que as demais pessoas não percebam suas verdadeiras
intenções. Camaleões humanos mudam sua cor para se adaptarem a ambientes ou
situações, estratégia que os ajuda a passarem despercebidos e poderem agir
impunemente. Estamos diante de um caçador, de um predador em busca de sua presa
e se não ficarmos atentos seremos nós a vítima. Sua aparente inocência pode
esconder grande agressividade.
Camaleões são
predadores de pequenos insetos e camaleões humanos são predadores de outros
humanos. Eu sou profissional naquilo que faço, o camaleão humano também, só que
ele é profissional da enganação, esta é a grande diferença, enquanto os demais
profissionais querem mostrar pela sua boa imagem o que de fato são, este busca
mostrar quem não é por meio de uma falsa imagem que esconda sua verdadeira
natureza, atividade e interesses. Tais pessoas são muito boas em fingirem ser o
que de fato não são, por sua vez, as pessoas em geral, mesmo profissionais
como, por exemplo, psicólogos e policiais, não são muito boas em perceber de
fato quando alguém está mentindo, mesmo acreditando que são capazes de o
fazerem. As pessoas procuram monstros horríveis e não cordeiros encantadores e
o camaleão sabe ser o que bem quiser na hora em que assim o desejar. Pior ainda
se levarmos em consideração que a grande maioria das pessoas acredita piamente
que o comportamento privado pode ser previsto a partir do comportamento
demonstrado publicamente, o que é um ledo engano do qual o camaleão sempre se
aproveita.
Gentileza e
simpatia na dose certa e quando necessário for irão muito bem encobrir uma
outra esfera não tão agradável de ser observada. Camaleões quando querem
possuem uma capacidade natural de demonstrarem publicamente que são pessoas
sedutoras, agradáveis, sinceras e honestas, atraindo para si a confiança e por
vezes paixão das demais pessoas. As pessoas esquecem ou simplesmente não sabem
que gentileza não é um traço de caráter e sim uma decisão consciente que pode
ser usada para manipular o comportamento de outras pessoas.
Não somente no
sentido criminoso podemos entender tais seres, pois os mesmos estão presentes
mesmo nas mais inocentes interações sociais. Um bom exemplo histórico para um
camaleão social, se formos buscar uma contribuição na Grécia antiga, seria o
general e também estadista Alcebíades, cuja influência perpassou vários
Estados, cada qual a sua vez, começando pela cidade Estado Atenas, depois
Esparta, em seguida a Pérsia e por fim retornando a Atenas, sempre agraciado
pelos seus concidadãos nas cidades onde esteve.
No camaleão
humano encontramos o mero prazer da enganação pela enganação e não pelo medo de
ser pego sendo o que de fato é, pois a enganação torna-se não somente
lucrativa, mas também prazerosa. Nosso camaleão humano é um predador social,
mas não necessariamente um criminoso ou algo semelhante. Pode ser alguém
estritamente dentro dos padrões das leis vigentes naquele momento histórico no
Estado no qual vive, o que tem maior relevância aqui é que seu interesse
primário se dá consigo próprio, não havendo qualquer outra consideração com
outras pessoas que venha a ocupar um lugar de primazia sobre si-próprio. Em
geral o camaleão humano, quando não adentra em atividade puramente ilegais,
tende a prosperar e ser bem sucedido e admirado pelos que com ele convivem. Camaleões
humanos não sentem remorsos ou preocupação genuína e desapegada por outras
pessoas, nem se intimidam diante da possibilidade de sofrerem conseqüências
danosas decorrentes de seus atos.
Altamente
manipulares, charmosos e sedutores, atraem para si, se assim desejarem, a
companhia de pessoas interessantes e socialmente valorizadas. Mesmo aqueles que
são por eles enganados e ludibriados, por vezes ainda sentem a sua falta, pois
sua presença era importante emsuas
vidas, proporcionando-lhes excitação e alegrias. Um camaleão humano não se
sente culpado se sua camuflagem nos engana e por meio da mesma tira de nós
alguma vantagem, em verdade, o sentimento aqui não é de culpa ou remorso e sim
de orgulho pela bela camuflagem que resultou em um perfeito engano para o
inseto que foi sua refeição. Tais pessoas podem produzir temor se assim o
desejarem, mas em geral fabricam encantamento nas demais pessoas. Não se trata
de um vilão e sim de um sedutor camaleão que com seu encanto arrebata a todos,
mesmo aos que trai em sua inocência e credulidade.
Camaleões
humanos sabem perfeitamente identificar arco-íris cor de rosa humanos como suas
potenciais vítimas e grandes carvalhos como lugar de inspiração e abrigo de
tempestades sociais. Sabem bem separar o metal sem valor do metal nobre e
valorizado. O camaleão precisa saber com que lida, para saber quem ele próprio
será naquela situação social. O camaleão sabe estudar suas presas e usar de
camuflagem para tornar-se igual ao que as pessoas com quem venha a conviver
gostariam de ter como amigo durante sua infância ou adolescência, busca as
carências e crenças e se adapta às mesmas vindo a preenchê-las como a pessoa
ideal que nós sempre quisemos como amigo.
Podemos também
pensar que algumas pessoas se assemelham a um carvalho, árvore tida como
símbolo da vida e da evolução em direção a patamares mais elevados. Nos lembra
a teoria proposta pelo psicólogo Alfred Adler, na qual o inferior luta em
direção a superação de suas inferioridades, tornando seus pontos mais fracos
nos mais fortes. A planta do carvalho pode nascer pequena, indefesa e
vulnerável, mas com o passar dos anos se torna em um grande, forte e vigoroso
carvalho. O grande filósofo Sócrates foi um carvalho humano e como ele, muitos
outros, alguns famosos, outros anônimos.
Carvalhos
humanos não se curvam facilmente diante de um vendaval, continuam altivos e
firmes em seus postos lutando pelo que acreditam ser a verdade e os valores que
aceitam como justos. Carvalhos não abandonam o que fazem para meramente salvar
suas próprias vidas, pois acreditam que antes precisam salvar seus ideais, fugir
não faz parte de sua rotina de vida. Com calma e resistência, deixam claro a
todos que não irão desistir, independente do ataque que possam vir a sofrer.
Carvalhos um dia terão sua história contada, senão por outro motivo, pela
bravura na perseverança em seus ideais.
Um velho
carvalho sabe tudo sobre camaleões e arco-íris cor de rosa, bem poderia ser um
ou outro se o quisesse e por vezes se questiona se não seria melhor ser um
arco-íris cor de rosa humano do que um velho carvalho bem preso as suas raízes,
aos seus ideais e formação. Sabe bem que poderia ser um camaleão, mas escolhe
ser um carvalho e do alto de suas ramagens vê o embuste da camuflagem do
camaleão.
Algumas
pessoas se fossem se metamorfosear em algo, este algo seria um arco-íris cor de
rosa, pois, lembro que o arco-íris é no contexto bíblico do Antigo Testamento o
símbolo da promessa de deus, Javé, de que não ocorreriam outros dilúvios.
Arco-íris cor de rosa humanos são pessoas que querem ver a bondade no mundo,
sentido e significado nas coisas aleatórias, em verdade, trata-se aqui da
maioria das pessoas com suas crenças em um mundo ordenado por meio de uma
vontade superior e que buscam um sentido em deus ou em uma divindade superior
para explicar mesmo as coisas que carecem de sentido e são totalmente
indiferentes à bondade ou maldade, ao que você faz ou deixa de fazer, a quem
você é ou foi nesta vida.
Algumas
pessoas parecem colocar lentes cor de rosa, pois vêem o mundo somente por um
prisma que exclui a maldade e em todos conseguem ver bondade e amizade,
tornando-se vítimas potenciais de predadores astutos. Algumas pessoas de fato
escolhem acreditar que há bondade em todos a sua volta. O mundo no qual vivemos
tem a ver com nossas crenças, de fato, nossas crenças determinam o mundo no
qual vivemos e podem ser usadas facilmente contra nós. O irônico da questão é
que pensamentos positivos e otimismo nos fazem mais felizes e tornam nossa vida
física e emocionalmente melhor, no entanto, simultaneamente nos proporcionam
maior facilidade para sermos vítimas de predadores de todos os tipos que tendem
a se aproveitar de nossa inocência e de nosso desejo de não querer ver a
crueldade grotesca presente em algumas pessoas. Ser otimista e ter pensamentos
positivos nos tornam mais saudáveis e felizes e disto não há dúvidas, mas
simultaneamente nos tornam também mais vulneráveis.
Todas estas
pessoas vivem em um mesmo mundo? Apesar de fisicamente o mundo ser o mesmo para
todos, cada qual vive no mundo pertencente ao conjunto de seus saberes e
crenças. O mundo percebido por um camaleão humano não será de modo algum
idêntico ao percebido por um carvalho ou por um arco-íris cor de rosa. Claro
está que alguns destes mundos são mais amplos do que outros e que algumas
visões da realidade nos tornam mais propensos a sermos vistos como vítimas em
potencial por predadores sociais. Uma visão mais ampla da realidade, somada a
fortes valores morais e sociais, pode também gerar sofrimento ao grande
carvalho, diante da visão da estupidez humana e da vastidão do conhecimento ainda
não alcançado. Penso que para nós o importante é sabermos que as pessoas são
diferentes, que possuem um grande potencial para ser desenvolvido e que nem
sempre são aquilo que aparentam ser.
Também
importante é termos consciência que mesmo que não saibamos, podemos hoje estar
caminhando potencialmente em direção a sermos vítimas de algum predador social
e que, portanto, para nossa própria sobrevivência, temos de ter cuidado com
nossas crenças e inocência.
Arco-íris cor
de rosa humanos teimam em afirmar que a desgraça sempre ocorre com o outro e
nunca com elas próprias, acreditam que podem ter controle sobre o que de bom ou
ruim ocorre em suas vidas e seguem rituais irracionais para obterem o que
desejam e preservar a integridade do que acreditam ser e ter. O carvalho pode
ser grande e imponente, mas está firmemente preso as suas raízes, por sua vez,
o camaleão é ágil e se movimenta com facilidade nos mais diversos terrenos
sociais em um mundo onde predominam pessoas arco-íris cor de rosa. São modos de
vida e de interação social que quando devidamente compreendidos nos permitem um
melhor convívio em sociedade, bem como, uma vida mais ampla e gratificante.
Pergunta: Você
gostou? Com qual personagem figurativo você mais se identifica aqui e quais
aspectos de personalidade ou interação social lhe parecem mais importantes e
significativos? O que mais você gostaria de acrescentar ou falar?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
O ser humano
vazio de valores e impregnado pela influência volátil das mídias apresenta-se
como uma casca vazia, sem conteúdo, sem coisa alguma que o faça digno da
humanidade que a rigor possui.
A nossa
sociedade valoriza a aparência, nada contra, afinal, nossa aparência diz muito
sobre o que somos, fazemos, pensamos e queremos. Sabendo olhar para alguém
vemos muito mais do que esta gostaria que víssemos, no entanto, o fato curioso
está que nossa aparência externa, nossa produção diária, não passa do papel que
embrulha o presente que somos nós. Ocorre, no entanto, que algumas pessoas se
preocupam tanto com o papel de presente que esquecem do próprio presente que
deveria estar nele contido.
Parece que
algumas pessoas são detentoras de um profundo vazio existencial, cuja imensidão
não preenchida assusta mentes incautas e pode proporcionar em algum momento uma
imperiosa necessidade de ser preenchido com algo, seja lá o que for, como se a
dor de uma caixa vazia pudesse ser suprimida ao se encher esta caixa com lixo.
Daí as pessoas se atiram de corpo e alma, com tudo de seu ser vazio em uma
religião de fachada, também vazia em outro nível, convertem-se a isto ou aquilo
outro e para calar a voz interior que diz que tudo aquilo é falso e sem
sentido, buscam a confirmação da veracidade e do sentido na compulsiva
tentativa de converter a outros para o mesmo caminho, agora doravante trilhado
na convicção que pela inundação de novos conteúdos possam aplacar os gritos do
silêncio que emanam da profundidade abismal de seu vazio interior. Se antes
eram fúteis, continuam sendo, mesmo sem o saber.
Como um
elegante manequim bem vestido dentro de uma vitrine de loja, algumas pessoas
mostram uma casca de extrema beleza, produzida com o uso não somente de uma
peculiar combinação genética e de um biotipo socialmente valorizado, mas também
pela contribuição de competentes salões de cabeleireiro e manicure, por
conceituadas lojas de roupas de grife e pelo jovial encanto da juventude dada
de graça e desperdiçada por coisa alguma. Ao olharmos o conjunto não temos como
não admirar tais pessoas, com sua postura e beleza sedutora paga no cartão de
crédito, no entanto, olhando bem nos olhos e penetrando este olhar por esta
janela da alma, sentimos de imediato um sentimento de angústia e medo ao sermos
jogados do alto para o nada sem pára-quedas que reduza a velocidade desta queda
no nada que deveria ser uma pessoa, seus valores, conceitos, experiência,
formação, crenças, superstições, esperanças, motivações, desejos, ambições e
direcionamento.
Casca vazia
humana, lugar onde centra-se e concentra-se a hipocrisia e futilidade
plenamente presente em uma vida não vivida, em uma vida inútil. Sua vida e
mesmo sua morte não passam de um mero número, pois, sua contribuição para a
humanidade é puramente quantitativa e não qualitativa. Irá ajudar a compor as “massas”
acéfalas que compõem o pior do que podemos vislumbrar em um ser-humano. Sem
sentido, quando a juventude se vai o desespero chega e se a isto se soma uma
perda social qualquer, como, por exemplo, um namorado ou algo equivalente, a
inserção em um falso mundo religioso após súbita conversão é praticamente
certa. Aquele ou aquela que sequer sabe quem é, agora pensa, se é que consegue
tal feito, ter encontrado a deus e quer levar a todos para o caminho, ou
descaminho, que este passou a ardorosamente seguir.
Estas pessoas
não conseguem viver sem o uso de algum tipo de muletas emocionais (religião,
drogas, álcool, amor ou sexo obsessivo, etc.), pois, consideram a vida um fardo
por demais pesado para ser por elas carregado, não vêem a beleza, pois, estão
envoltas na dor do medo. Como suportar a vida que elas nunca viveram, que
sempre temeram, ignoraram e fingiram não existir? Para viver não basta ser a
imagem imóvel de um manequim humano vestido com marcas da moda em meio aos
agitos da noite para mostrar-se a sociedade. Para viver de fato é preciso
começar a ser alguma coisa, e esta coisa é você e não meramente a marca de
roupas que você usa para fazer parte de sua tribo. Assumir-se com tudo de bom e
ruim que você é, sem acreditar que sua vida será maravilhosa quando fizer mais
uma cirurgia plástica no nariz que só você enxerga como feio ou anormal para o
seu biotipo.
Não estou
negando o valor ou a beleza da embalagem, muito pelo contrário, reconheço a
beleza do papel que envolve um presente como algo socialmente importante, mas
cabe frisar que trata-se somente do papel de embrulho e por melhor e mais
bonito que este seja, quando desembrulhamos nosso presente, esperamos encontrar
algo dentro da linda embalagem e algo que seja condizente com a beleza da
própria embalagem. Sempre é uma decepção abrir uma caixa vazia, quando
aguardávamos encontrar nela um presente.
Pergunta: O
que vai dentro desta bela casca corresponde à beleza de seu exterior?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Na vida, sair
de um ponto e chegar a outro requer objetivos e por sua vez, a formulação de
objetivos é um sinal de inteligência e criatividade. Para se obter sucesso
nesta nossa vida é preciso traçar um rumo a seguir, ter um direcionamento que
nos proporcione sentido e significado para nossa singular existência. Traçar
objetivos na vida de modo correto é algo que demanda que saibamos de onde
viemos, onde estamos agora e para onde vamos a seguir. Este caminhar por um
caminho previamente escolhido em direção a uma dada meta é também uma
demonstração de sanidade mental, pois, pessoas mentalmente doentes têm
dificuldades em traçar e seguir um rumo satisfatório para suas vidas, de modo
construtivo para si próprias e o social e não de modo destrutivo.
Há, no entanto,
pessoas doentes e que requerem tratamento e orientação em suas vidas, pois,
apesar de saírem de determinado ponto, não chegam a lugar algum. Tais pessoas
parecem que andam em círculos e retornam sempre ao mesmo ponto, sem de fato
apresentarem progresso visível, elas mais parecem um parafuso se prendendo a um
mesmo ponto e tornando-se cada vez mais preso a cada nova volta, giram e giram,
mas não saem do mesmo lugar.
Um parafuso
humano é o que de fato são, muitas vezes em decorrência de um comportamento
doentio ou de um quadro clínico não devidamente tratado, como no caso, por
exemplo, do transtorno obsessivo compulsivo – TOC (conhecido em Psicanálise por
neurose obsessiva compulsiva). Algumas pessoas de fato andam em parafuso, vão para
frente e voltam para trás, não chegando a ponto algum. A solução seria se
tratarem, buscando orientação e ajuda profissional de alguém competente na área
específica de seu problema e que tenha demonstrado resultados positivos no
tratamento e orientação de outros casos similares, no entanto, muitas vezes, se
algum amigo ou meramente conhecido arrisca-se a apontar esta falha em sua vida
não vivida, insistindo na necessidade de ajuda profissional, mais não consegue
além de um rumoroso rompimento de relações. Parece que todos percebem que a
pessoa em questão, por mais virtudes que possa ter, não vai realmente para
frente na vida, menos a própria pessoa em questão.
Quando as
pessoas entram em parafuso sua vida fica deveras confusa e cria-se a aparência
mais do que real de que tudo está girando e que as mesmas coisas estão se repetindo
em nossas vidas, na seqüência constatamos que nossa atividade profissional,
nosso trabalho, passa a ser, também, prejudicado, pois, ou não evoluímos ou
perdemos o emprego, não conseguimos crescer profissionalmente por mais
competentes que possamos ser. Também nos estudos a vida não segue adiante, se
por determinação, sorte ou oportunidade conseguimos a muito custo concluir o
ensino básico (no Brasil é a soma da educação infantil, o ensino fundamental e
o ensino médio) ou mesmo um curso superior, no entanto, daí para frente nada
mais se consegue. Pode, no entanto, parar ainda no ensino médio ou ao chegar ao
ensino de nível superior ficar trocando de faculdade ou adiando infinitamente a
conclusão do curso ou a apresentação de seu trabalho de conclusão de curso –
TCC (uma monografia), não obtendo o diploma. Pode também concluir esta etapa,
sabe-se lá por qual milagre, e até se matricular mais cedo do que outros alunos
em cursos de pós-graduação, como, por exemplo, mestrado em alguma coisa, e
mesmo, alardear para todos os colegas e amigos sobre a possibilidade de cursar
esta pós-graduação, este mestrado, este MBA, e, no entanto, não conseguir ela
própria concluir o curso, talvez por buscar uma perfeição doentia e inexistente
fora de sua louca fantasia.
Em determinado
momento as amizades também são atingidas e por mais duradouras que estas possam
ser, tendem a sucumbir ao efeito parafuso que abarca toda a vida desta pessoa,
que, tal qual um redemoinho no oceano, faz naufragar qualquer embarcação, não
permitindo que coisa alguma viva ali consiga obter um direcionamento que não
seja sucumbir à força do redemoinho sendo levado para o fundo, bem fundo, de
onde nunca sairá. As amizades começam a naufragar, uma a uma, e a pessoa mais
do que doente continua a aceitar condicionalmente suas amizades novas e
antigas. Sinal visível de tal comportamento doentio é tornar os relacionamentos
afetivos explicitamente condicionais ao efeito parafuso e quem não aceitar será
cuspido fora, aliás, devo frisar que verdadeiros amigos não aceitam uma amizade
condicional vinculada a algo doentio que torna uma vida em parafuso.
Mesmo
profissionais da área de saúde não estão livres de verem suas vidas embarcarem
em um redemoinho revolto, de não irem para frente nem para trás, presas a um
movimento rotacional que as mantêm cada vez mais presas onde estão. A solução,
por vezes difícil de aceitar, difícil a ponto de romper amizades com quem
insistir neste ponto, é com certeza a busca de ajuda e orientação profissional.
Cabe a pessoa não meramente entender seu problema, mas fazer algo enfaticamente
para mudar, logo, precisa de uma abordagem mais intervencionista, menos voltada
unicamente ao autoconhecimento de sua patologia e mais voltada para a mudança
de comportamento e cognição. O fato de alguém ser da área de saúde não lhe
impede de tentar elaborar mais certas coisas com acompanhamento de um colega
especialista em mudança de comportamento, afinal, médicos, psicólogos e demais
profissionais que tratam de outros também adoecem e precisam a sua vez serem
também cuidados.
Tais pessoas
em parafuso, com seu comportamento desproporcional aos fatos vividos, chegam a deixarem
chateadas e preocupadas as pessoas com as quais convivem, isto é, se estas de
fato se importam em algum nível com a que está em parafuso. Claro está que o
caminho não é este e a pessoa deveria observar e ver bem o que está fazendo com
a vida, com sua própria e única vida, desperdiçada inutilmente. Cuidado com os
exageros, pois, é importante manter um comportamento adequado aos fatos vividos,
pense bem no caminho que está trilhando em sua vida. Caberia aqui pensar,
dedicando uns bons momentos para refletir sobre a vida e os rumos que você está
dando a ela.
Quando falo em
parafuso, talvez algumas pessoas pensem que a pessoa em questão está “pirando”,
o que vulgarmente falando não fugiria da realidade. Quando a vida está em
parafuso, abre-se espaço cada vez maior para uma depressão violenta ou mesmo
suicídio, além da pessoa poder caminhar nas águas do transtorno obsessivo compulsivo
– TOC (neurose obsessiva compulsiva, para os psicanalistas), da psicose
paranóica ou simplesmente paranóia, do transtorno ou síndrome do pânico, dentre
outros quadros clínicos que podem aqui estar presente em maior ou menor escala.
Na seqüência,
bem pode demonstrar comportamento agressivo, como o de um animal feroz quando
acuado e passar a atacar todos aqueles que estão próximos, seja proximidade
física ou emocional, pois, é preferível enxergar o problema em outro do que em
nós próprios e assim a pessoa continua em parafuso, não chegando a lugar algum
e perdendo aos poucos suas verdadeiras amizades, ficando só, isolada e
mau-humorada acreditando que tudo está girando loucamente ao seu redor, quando
de fato é ela própria que gira e não tudo o mais, mas, vá tentar contar ao
parafuso que é ele próprio que está girando e não tudo o mais, isto fere a sua
percepção e tende a não ser aceito como verdade.
Buscando fugir
dos comentários dos amigos e conhecidos que apontam seu comportamento
irracional e a querem salvar do redemoinho pode muito bem o parafuso humano
valer-se de argumentos que questionem a raiz da veracidade da observação das
outras pessoas e dos fatos narrados e apontados cruamente, preferindo afirmar
que a verdade é relativa, no entanto, a verdade não é relativa, isto é mero
engodo para prejudicar a humanidade.
Com um
comportamento continuamente desproporcional aos fatos, cada vez mais afunda em
seu próprio redemoinho, emocionalmente longe dos chamados preocupantes dos
amigos e conhecidos estarrecidos diante de tal crueldade auto-imposta e
aparentemente aceita incondicionalmente. Tais parafusos humanos precisam fazer
tratamento psicoterápico e uma sugestão possível seria a abordagem
comportamental cognitiva, tais pessoas precisam tocar sua vida para frente e não
ficar em parafuso, como estão agora e sempre, constantemente em tudo o que
tentam fazer e não conseguem.
Pergunta: Você
é ou conhece algum parafuso humano? O que você diria para ajudar ou o que você
pensa sobre o assunto?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Nascimento,
desenvolvimento e morte, esta é a história básica da vida e neste ínterim
alguns indivíduos conseguem desenvolver uma consciência de estarem presentes
como um ser único e vivente neste mundo. Conjuntamente com a consciência de ser
alguém vem à formação de uma identidade e de uma imagem pessoal, esta imagem,
no entanto, sofre transformação durante toda a vida e requer uma adaptação
também na identidade que este ser possui.
Uma criança de
cinco ou dez anos de idade tem uma determinada aparência física, também possui
valores e relações sociais e afetivas que se transformam a cada novo ano, novas
vivências e aprendizado estão presentes, bem como o desenvolvimento natural do
organismo. Aos quinze anos temos uma aparência física e uma idéia do que
sejamos nós neste mundo, na sociedade e família da qual fazemos parte. Nossa
identidade é algo muito importante e está associada à imagem que temos de nós
mesmos e que procuramos mostrar aos demais seres que compartilham conosco esta
existência, no entanto, a vida prossegue e temos de passar por fases distintas
e cada qual com seu nível de profundidade e complexidade, tal é o caso da
infância, da adolescência, da vida adulta e do posterior envelhecimento.
Infelizmente, nem todas as pessoas conseguem se adaptar as mudanças inevitáveis
que cada novo ano nos trás.
Saber encarar
um espelho e gostar de si-mesmo é algo deveras difícil para muitas pessoas e
com o passar dos anos torna-se também mais complicado na medida em que aquele
rosto e corpo que o espelho nos devolve não correspondem mais a uma imagem guardada
em nossa memória e profundamente vinculada a nossa identidade pessoal. Saber
envelhecer requer aprendizagem e também suportar o luto pela morte de uma parte
de nós que deixa de existir, simultaneamente ao nascimento de muitas e
gratificantes coisas novas, como os brotos no tronco de uma velha árvore.
Quando falo em
envelhecer e luto pelo que se perdeu, não me refiro unicamente a assim chamada
terceira idade ou melhor idade, mas refiro-me a todas as perdas, a começar pela
perda da primeira infância quando podíamos brincar despreocupadamente, da perda
de sermos crianças e depois da perda de nossa adolescência, também da perda da
inocência perante o mundo e por aí em diante, afinal, a cada nova escolha
tomada perdemos o resultado das escolhas preteridas. Nós somos hoje não somente
o resultado de nossas escolhas, mas o fruto do que deixamos ou perdemos de ser
quando escolhemos algo outro, algo diverso, deixando para trás caminhos e
atalhos não tomados, não vividos, não percorridos.
Festejar o que
somos hoje ou lamentar o que deixamos de ser também é uma escolha, mas acima de
tudo é preciso coragem para viver e seguir em frente buscando a realização
plena do sentido único de nossas vidas e não nos curvando as perdas inevitáveis
e sofridas do passado. Há o tempo de chorar e o tempo de rir e claro está
também que a vida é um misto de amargo e doce. Saber viver também é compreender
que tudo faz parte e que os momentos importantes não acabam jamais, mas ficam
eternizados em nossa memória. Aquelas pessoas que muito amamos e que um dia
saíram de nossas vidas, em verdade não morreram e nem morrerão enquanto nós
estivermos vivos, pois elas são parte integrante não somente de nossas
lembranças, mas do que somos nós hoje e vivem em nós da mesma forma que nós
viveremos em algumas pessoas significativas após nossa partida.
A tristeza e a
alegria se mesclam em uma mistura toda particular que é a vida, a nossa vida em
sua unicidade. Viva hoje em intensidade, pois este momento é único e também irá
passar. Disto resta afirmar ou re-afirmar que a transformação é uma constante
em nossa vida e a verdadeira maturidade emocional está em sermos capazes de
exercer aceitação diante da inevitabilidade destas transformações. Diante do
espelho não devemos ver somente a nossa imagem e sim o desenvolvimento integral
de um ser em seu percurso pela vida. A transformação é algo inevitável e
constante, nossa aceitação também deve ser.
Pergunta: Diante
da vida, da sua e da nossa vida, o que você pensa e sente sobre mudança,
transformação e aceitação?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Entendo ser
interessante repensar a importância das mídias, em particular dentro dos novos
procedimentos "on line" e os atuais movimentos sociais. Estamos na
iminência de algo novo que irá romper com os atuais paradigmas vigentes e por
isto mesmo fica difícil para esta geração identificar corretamente as dimensões
dos fatos que agora estamos vivendo ou observando. As revoluções do Oriente e
da África, bem como também em Portugal (geração à rasca; ps. no Brasil
diríamos: enrascada ou em dificuldade), tiveram sem dúvida alguma presente em
suas tramas sociais a importância do Twitter, do Facebook e de outras
ferramentas digitais ou mais amplamente falando, da Internet. Penso que podemos
comparar neste caso a Internet, enquanto instrumento presente em tais movimentos,
aos canhões, também enquanto instrumentos, presentes na queda do Império Romano
do Oriente ao derrubar os muros de Constantinopla.
Nos recentes
protestos mundiais presenciados no começo de 2011 ficou claro e patente a
importância das redes sociais visando articular e repercutir de modo
eminentemente mais intenso e organizado os protestos ocorridos em uma dada
região, para outras regiões. Claro também está que não foram às redes sociais
as causadoras ou motivadoras de tais protestos, não foram elas sequer as
sementes para o surgimento de um sentimento de revolta, pois, as condições
sociais e políticas pré-existiam, como, por exemplo, em alguns destes países
temos um profundo autoritarismo proveniente de autoridades que se perpetuam no
governo há décadas, além da presença polêmica e constante dos interesses
norte-americanos nestas regiões do planeta. Os governos eram sabidamente
entendidos pelas populações de seus respectivos países como sendo ruins, coube
as redes sociais unicamente servirem como catalisadoras da reação, permitindo
que fatos ocorridos em um dado local fossem rapidamente levados a outro local,
gerando um efeito cascata em prol de mudanças e sensibilizando a todos para a
importância de movimentos a princípio isolados, no que estes tinham de
potencial em termos de revolta e protesto legítimo.
Os fatos
ocorridos nestes países, em particular no oriente médio, terão repercussão não
somente em questões políticas, mas também em questões de segurança, fazendo com
que os governos revejam seu planejamento diante das atuais e futuras redes
sociais, tentando por um lado desarticular um possível movimento popular
independente com base na proliferação de idéias por meio de tais redes, e por
outro lado, proporcionando estratégias de controle e operacionalização de tais
redes em benefício de políticas governamentais e da manipulação da população
para que venha a acreditar e se comportar de acordo com os interesses
dominantes, como de certo modo já é hoje feito nas mídias tradicionais, como,
por exemplo, a tv e também a mídia impressa (jornais e revistas).
Hoje a
Internet é o único campo realmente democrático e que permite a expressão
genuína de todos para todos, o que a torna extremamente subversiva e perigosa
aos olhos dos mais diversos governos tradicionais, o que irá gerar, ou melhor
dizendo, já está gerando uma seqüência de tentativas governamentais, políticas
e também por meio de agências de segurança, para prover novos procedimentos de
rastreamento e controle de tudo o que se passa hoje na Internet e claro esta
que todos os gestores de empresas que atuam na Internet provendo os mais
distintos acessos estão sujeitos a pressões por parte dos governos visando a
impor controle e castrar vozes anônimas de persistente oposição ou mero
questionamento.
Uma grande
vantagem dos meios disponíveis hoje pela Internet para articulação de um
movimento social forte e independente de qualquer governo se dá diante da
possibilidade que tais instrumentos proporcionam diante de uma rápida
mobilização social com um custo financeiro extremamente baixo e a todos
acessível, livre de burocracias e do peso político sindical por vezes
desnecessário e contra-producente a um verdadeiro movimento de massas
reivindicando direitos básicos. As novas redes sociais trazem consigo novos
atores para a política internacional, que terá de se adaptar aos mesmos,
tentando adestrá-los e extrair o seu potencial destrutivo e renovador.
As relações
tradicionais presentes na estrutura governamental e nos sindicatos são
verticais, onde existe uma linha de comando e poder que deve ser seguida, já
nas novas mídias esta relação é horizontal, onde todos dialogam com todos, o
que é extremamente revolucionário em si mesmo. Uma característica das relações
tradicionais quando comparada às novas mídias é que a verticalização da linha
de comando da primeira a torna mais lenta, enquanto a horizontalização do
comando e do diálogo na segunda a torna eminentemente muito rápida e sem
aparente controle. Diante do exposto, para enfrentar uma ação ou seqüências de
ações efetuadas por grupos em dada rede social, somente estruturando outros
grupos contrários aos primeiros e fazendo uso das mesmas redes sociais, pois,
neste campo só se pode combater a informação emitida por uma rede, de dentro da
própria rede social por meio dos mesmos instrumentos usados.
Falar que as
novas mídias tendem a beneficiar mais a um determinado tipo de governo, seja
este ditatorial ou democrático, carece de sentido, como também carece de
sentido afirmar que os movimentos populares recentes nas quais as novas mídias
tiveram um papel não pequeno representam a ponta do iceberg de uma estratégia
de dominação mundial efetuada por grupos políticos, econômicos ou religiosos.
Em verdade, tais movimentos são totalmente descentralizados e nisto se
assemelham às mídias que utilizam, não podendo as mesmas ser monopolizadas por
uma determinada ideologia (econômica, religiosa, política ou outra), podem, sim,
serem usadas a favor de regimes ditatoriais, como também de regimes
democráticos. O que de fato temos é um empoderamento de pessoas de posse do
acesso rápido e barato a um número realmente muito grande de outras pessoas, o
que se dá pelos mais distintos meios, dentre os quais o Orkut, muito comum aqui
no Brasil, o Facebook, os blogs e sites, as mensagens instantâneas via MSN ou
Twitter e diversos outros meios de divulgação existentes hoje na Internet
mundial. Cabe aqui destacar que estes meios são diferentes se comparamos o Ocidente,
com, por exemplo, a China ou o Japão ou a Coréia, onde os programas e sistemas
reinantes são distintos e competem com marcas ocidentais tais como o Google, o
Blogger e o Wordpress, dentre outras.
O aspecto
catalisador que as novas mídias exercem no social proporciona uma maior rapidez
e aceleração na velocidade de propagação de noticias e eventos, de modo que
torna possível a concretização de fatos políticos que não teriam ocorrido sem
esta rápida difusão descentralizada de uma mensagem. Não diria que as novas
mídias são causa única de uma dada mudança sócio-cultural e política em determinado
país, mas digo, sim, que sem elas as condições reinantes previamente existentes
não teriam como sozinhas propiciar uma mudança dentro do tempo hábil necessário
para sua concretização. Dito de outra forma, as novas mídias não podem ser
responsabilizadas sozinhas como causa de uma revolução popular, mas sem a
rápida difusão e a descentralização da informação por elas proporcionada,
conjuntamente com o empoderamento do indivíduo, que passa a poder falar com
todos, expondo suas idéias independente de quem este seja ou do cargo e posição
social que ocupe, não teríamos, também, uma revolução neste momento histórico
em particular.
Pergunta: Qual
a sua opinião sobre a importância das mídias nos movimentos sociais de grande
vulto?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)
Certas cenas
são de fato impagáveis e destas o seriado Arquivo X, que teve nove temporadas
de 1993 até 2002 mais dois filmes levados ao cinema, está repleto. Neste
momento penso em particular no episódio “A guerra das baratas” e nas cenas por
demais absurdas interpretadas com o máximo de seriedade e profissionalismo por
parte dos atores, como se fosse algo do mais natural possível e com uma
realidade e dramaticidade impecável. Lembro que revi por diversas vezes este
episódio em particular e uma destas vezes com um amigo, também intelectual, o
que acabou motivando, entre risos e ironias, associar as baratas aos
intelectuais, pois, nada pior do que uma barata irônica.
“Cuidado Mulder! Nós não sabemos do que estas
baratas são capazes”.
Bambi
“Be careful. We don’t know what
these cockroaches are capable of”.
Arquivo X –
The X files
Terceira
temporada, episódio número 12
Episódio: A
guerra das baratas – War of the coprophages
Desde que o
mundo é mundo, lá estão as baratas e mesmo se compararmos registros muito
antigos e já fossilizados com as baratas atuais e contemporâneas, veremos que
pouco mudaram. Apesar de haverem tipos diferentes de baratas, todas possuem
traços comuns que as identificam dentro do grupo maior do qual fazem parte. Em
geral solitárias, no entanto, algumas espécies se apresentam como gregárias,
buscando a companhia de outras baratas. Durante o dia se escondem, saindo
somente à noite, a não ser que precisem sair no período diurno buscando
alimento e água ou em virtude de haver neste local um grande excesso
populacional de baratas. As baratas têm uma grande capacidade de adaptação ao
meio ambiente, de modo a persistirem em sua existência neste mundo, não por
milhares e sim por milhões de anos.
Intelectuais às
vezes são como baratas recebendo um jornal dobrado ou uma chinelada daqueles
que não os entendem, não os suportam e mesmo possuem horror e asco de uma
barata tão terrível que sequer gosta de futebol ou da novela da moda e pior
ainda se for uma barata que não goste de bigs brothers. Mas as baratas
persistem, não morrem ou desaparecem, e há tipos diferentes das mesmas, há
aquelas baratas mais ligadas numa leitura e aquelas mais voltadas para a arte
ou o cinema. Em geral baratas intelectuais não são muito sociais, se bem que
haja também espécies gregárias, que buscam, incluso, não somente a companhia de
outras baratas, para escândalo da comunidade “baratesca” e incredulidade dos
demais seres que acreditam estarem vivos. Em verdade, baratas humanas parecem
até que se escondem, em virtude dos locais e horários onde preferem estarem
presentes.
O sonho de
muitos seria exterminá-las e não poucos governos ditatoriais assim tentaram
proceder, no entanto, por mais que os demais seres tentem se livrar das mesmas,
no final, há sempre uma barata perto de você. São irritantes, sempre
contradizendo a veracidade e obviedade dos fatos, em particular dos veiculados
pela mídia televisiva. Basta uma grande nação divulgar com relação a um
terrorista de renome que capturou, matou e jogou ao mar seu corpo, que lá estão
as baratas dizendo que tudo é mentira, farsa e enganação e pedindo para que não
nos atentemos aos detalhes produzidos para enganar a população e sim na visão
geral e global dos fatos e perguntando em seguida pelo corpo de modo irônico e
sarcástico. Ah! Estas baratas, como são chatas querendo com seus barulhinhos
diminutos nos acordar de nosso sono profundo.
Como seria bom
um mundo sem baratas, baratas humanas pensam demais e acabam fazendo com que
outros seres tenham a dolorosa experiência de também pensar, que coisa
horrível! Afinal, é tão bom não pensar...
Mas o pior de
tudo é que baratas humanas são irônicas e nunca sabemos ao certo quando estão
sérias ou brincando, quando estão se auto-satirizando ou satirizando a outros
seres. Rir de uma piada de barata acaba sendo incômodo até para outra barata,
afinal, será que existe realmente algo para rir ou tudo não passa de loucura
puramente insana? Oh! deus, pedem os demais seres, dai-nos um mundo sem
baratas. Enquanto isto, estas coisinhas horrorosas provavelmente pedem em seus
pensamentos mais íntimos: Oh! baratas, dai-nos um mundo sem deus.
Pergunta: Grande
irmão, você já pensou que bacana seria um mundo sem baratas?
Prof. Dr.
Silvério da Costa Oliveira.
(Respeite os
Direitos Autorais – Respeite a autoria do texto – Todo autor tem o direito de
ter seu nome citado junto aos textos de sua autoria)