Por: Silvério da Costa Oliveira.
Marco Minúcio Felix
Marco Minúcio Felix (viveu entre 150-270), ou Marcus Minucius Felix, nasceu em Cirta, na Numídia, norte da África (atual Constantina, na Argélia) e foi escritor e advogado. Pouco se sabe sobre sua vida e raros são os dados biográficos que possuímos de modo confiável. Mesmo a data de seu nascimento e morte não pode ser afirmada com plena certeza. Dele conhecemos somente a obra “Otávio” (Octavius), no qual se desenrola um diálogo entre dois personagens, sendo um cristão e outro pagão, enquanto um terceiro personagem, em verdade o próprio autor, Marco Minucio, que é um dos personagens do livro, se apresenta como juiz da contenda. Houve um erro de catalogação e a obra “Otávio” foi incorporada à obra de outro autor e assim ficou até o século XVI.
Na obra “Otávio”, no transcorrer do diálogo, não somente é empreendida a defesa da fé cristã, como também são abordadas questões deveras importantes, tais como: a existência de um deus único e providente, a razão e a fé na religião cristã, a liberdade, a esperança, a vida cristã como algo heroico. Pela leitura da obra nos deparamos com a problemática relação existente à época entre de um lado o cristianismo e de outro as demais religiões existentes e aceitas no Império Romano. Na obra e por meio do discurso do personagem Otávio, é apresentado uma síntese do pensamento de diversos filósofos gregos no tocante à deus e este conclui que há uma evolução natural do politeísmo para o monoteísmo, já previsto, dentre outros, mesmo em Platão. Usando como argumento a ordem do universo e a natureza humana, busca provar a existência de uma providência divina. Por mais importante que seja a razão, filosofia e ciência para conhecer o mundo, torna-se também importante em virtude de nossas limitações, fazermos uso da revelação.
O personagem Otávio faz uma referência ao templo construído por Salomão ao Senhor e se questiona se Deus haveria de habitá-lo. Mas já que os céus e a Terra são obra de Deus e não podem contê-lo, Deus há de habitar no interior do humano, o qual foi feito a sua imagem e semelhança, sendo este sim o templo de Deus. Não devemos focar na exterioridade e sim no íntimo do humano, lugar da morada de Deus. Deus mora em um templo vivo e não de pedra.
No diálogo fica nítida a posição de Marco Minucio Felix, no tocante a que tudo que teve um início terá um fim e que os filósofos em parte defenderam esta ideia, mas buscaram esta ideia da pregação dos profetas do Antigo Testamento. Seguindo a tradição de outros padres apologistas, defende que os filósofos devem o conhecimento verdadeiro que apresentam, do conhecimento anterior do povo hebreu.
Também fica claro a defesa da ressurreição da carne, dogma este que a época parecia incompreensível aos humanos cultos não cristãos. De fato, podia-se aceitar a imortalidade da alma muito mais facilmente do que a ressurreição da carne proclamada pelos cristãos.
No livro o autor defende dogmas que fazem parte do credo cristão, em oposição às crenças presentes nas religiões então aceitas no Império Romano. Defende o monoteísmo, onde temos que existe somente um Deus e não vários, como então presente nas diversas crenças politeístas. Defende que este Deus único é o criador e Senhor de tudo. Defende a ressurreição da carne e a vida eterna do corpo e alma. Também ridiculariza e antagoniza alguns filósofos, tais como Sócrates e os céticos. Sócrates é chamado de palhaço de Atenas pela sua confissão de nada saber, bem como de demônio mentiroso. Já aos céticos, os ridiculariza dizendo que continuem duvidando. Vemos uma hostilidade aos filósofos e também ao credo politeísta, mas tentando não ser explícita ao ponto de afastar o leitor culto, conhecedor da filosofia e partidário das religiões então aceitas.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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