Por: Silvério da Costa Oliveira.
Tertuliano
Tertuliano (160-220), ou Quintus Septimius Florens Tertullianus ou Quinto Septímio Florente Tertuliano, nasce em Cartago, Tunísia, África, e morre com 60 anos de idade na mesma cidade. Há poucos dados biográficos realmente confiáveis sobre este autor e pouco dele sabemos além de seus próprios escritos, mesmo a data de seu nascimento e morte não é tida como certa. O restante todo que dele sabemos provém da tradição.
Escreveu contra as heresias de sua época, como o gnosticismo, e pelo meio de sua vida se converteu ao movimento Montanismo. O montanismo de início foi aceito pela Igreja, mas posteriormente foi entendido como uma heresia. Quando a Igreja passou a entender o montanismo como heresia, Tertuliano saiu da Igreja e ficou somente no montanismo. Há quem afirme que mais tarde fundou sua própria dissidência do movimento e que esta passou a levar seu nome (tertulianismo) até a época de Agostinho, quando foi reincorporada a Igreja.
O montanismo é um movimento dentro do cristianismo que quando surgiu foi aceito sem maiores problemas, mas pouco depois foi considerado heresia e houve o rompimento com a Igreja cristã. Fundado por Montano por volta de 156/157 ou mesmo em 172, na região da Frígia, de modo que também recebeu a época o nome de “Heregia Frígia”. Se espalhou por várias comunidades cristãs na Ásia, Roma e norte da África, perdurando até o século VIII. Montano era acompanhado por duas mulheres pelas quais o espírito santo falava e o próprio Montano dizia ter o dom da profecia e que havia sido enviado por Jesus Cristo para inaugurar uma nova era. O montanismo afirmava que o fim do mundo estava próximo e uma nova era cristã se iniciava. Pregava um rigoroso ascetismo, o uso de véu por parte das mulheres durante funções sagradas, a castidade mesmo no casamento, jejum durante duas semanas por ano e evitar certos alimentos dentre os quais a carne. Entendiam que não seria possível a absolvição de réus por pecados graves, mesmo passando pelos sacramentos. Também defendiam que os adeptos não fugissem as perseguições e se apresentassem voluntariamente para o martírio.
O entendimento demonstrado por Tertuliano em seus escritos sobre o papel da mulher e o modo que esta deveria se vestir e comportar, bem como sobre a participação do cristão em espetáculos em geral (peças de teatro e representações teatrais inclusas), mesmo como observador, não é algo positivo e pode suscitar polêmica e discordâncias nos dias atuais.
Não buscou a conciliação entre fé e razão, pois, entendia não haver ponto comum entre ambas. Entendia a filosofia como adversária da fé e os filósofos antigos como antecessores dos hereges (patriarcas dos hereges), estando a filosofia na origem dos desvios da fé. Há, segundo seu pensamento, uma verdadeira oposição entre fé e razão.
Há uma frase que mesmo não constando nos escritos de Tertuliano, bem resume suas ideias: “Creio por ser absurdo” (Credo quia absurdum). Claro está que poderia ter escrito e ter se perdido, não chegando aos nossos dias, mas mesmo que não o tenha feito, bem poderia ter escrito esta frase e estaria plenamente coerente com seu modo de pensar.
Segundo o pensamento de Tertuliano, o cristianismo se baseia na fé e não na razão. No cristianismo temos a presença da irracionalidade e não seu oposto. A morte do filho de Deus só é crível porque é contraditória e sua ressurreição somente é certa porque é impossível.
Defendeu a corporeidade de tudo que exista, incluindo aqui a alma e mesmo a Deus. Introduziu o termo “Trindade” (Trinitas) para se referir a Deus, como sendo três pessoas (também introduziu a palavra “pessoa” neste contexto) em um único ser, ou seja, pai, filho e espírito santo. Com sua formação como advogado, teve a oportunidade de escrever defesas em relação ao cristianismo e de introduzir linguagem da área jurídica na religião cristã. Tertuliano pode ser considerado o responsável por desenvolver as bases linguísticas, filosóficas e conceituais da reflexão teológica.
Silvério da Costa Oliveira.
Prof. Dr. Silvério da Costa Oliveira.
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