Textos filosóficos, críticos, comportamentais e sobre arte da escrita, sucesso e auto-ajuda.
Professor Doutor Silvério
Blog: "Comportamento Crítico"
Professor Doutor Silvério
Silvério da Costa Oliveira é Doutor em Psicologia Social - PhD, Psicólogo, Filósofo e Escritor.
(Doutorado em Psicologia Social; Mestrado em Psicologia; Psicólogo, Bacharel em Psicologia, Bacharel em Filosofia; Licenciatura Plena em Psicologia; Licenciatura Plena em Filosofia)
E-mails encaminhados para doutorsilveriooliveira@gmail.com serão respondidos e comentados excluindo-se nomes e outros dados informativos de modo a manter o anonimato das pessoas envolvidas. Você é bem vindo!
Deste o século
XIV, com John Wycliffe na Inglaterra, o movimento de reforma religiosa ganhava
os seus contornos, para por fim eclodir de modo a não poder mais ser contido no
século XVI com Martinho Lutero. Vários nomes se destacaram antes e depois de
Lutero, tais como: John Wycliffe, Jan Hus ou John Hus, Girolamo Savonarola,
Thomás Müntzer, Ulrich Zwingli, João Calvino. Não foi um movimento de um só,
mas sim de múltiplas individualidades. Se antes havia somente uma única Igreja
na Europa, agora passamos a ter várias denominações distintas e todas cristãs,
defendendo para si o direito da interpretação correta e verdadeira do
cristianismo. É neste contexto que há de surgir a contrarreforma da Igreja
Católica Apostólica Romana. Cabe lembrar, no entanto que no ano de 1054 d.C. já
havia ocorrido o Grande Cisma do Oriente, criando uma separação entre duas
denominações cristãs, a Igreja Católica Apostólica Romana e a Igreja Católica
Apostólica Ortodoxa, sendo a época da disputa e desentendimento, a primeira
comandada pelo Papa em Roma e a segunda pelo patriarca em Constantinopla, que
mutuamente se excomungaram.
A Contra-Reforma
religiosa (século XVI), ou reforma católica, ocorre como uma reação à Reforma
protestante e o crescimento das regiões que se convertiam a esta causa. O Papa
Paulo III convocou o Concílio de Trento (O concílio durante sua atividade, foi
presidido por três papas: Papa Paulo III, Papa Júlio III e Papa Pio IV), que se
reuniu entre 1545 e 1563 (1545-1547, 1551-1552 e 1562-1563).
Nestes três
encontros na cidade de Trento foram adotadas medidas visando fixar os
princípios da religião cristã católica e de combater o avanço do
protestantismo. Dentre as decisões ali tomadas, citemos: a proibição da venda
de indulgências; a criação do index de livros (Index Librorum Prohibitorum),
objetivando a proibição da circulação e leitura de determinados livros; afirma
a infalibilidade do papa. Segundo as decisões obtidas pelo Concílio de Trento,
os ensinamentos válidos na Igreja não constam somente na Bíblia e sim, também,
na tradição da Igreja. Foi confirmado o livre arbítrio do humano diante do
pecado original. Reforçou a importância e a manutenção dos sete sacramentos.
Afirmou que as orações podem ajudar na salvação e no tempo de permanência do purgatório,
aliás, afirma a existência do purgatório. Entendeu que o Papa e a Igreja têm o
poder para perdoar. Afirma a importância dos concílios, do papa e da Igreja no
tocante a correta interpretação da Bíblia. Decretou que o bispo deve morar na
diocese pela qual é responsável, não podendo ser responsável por mais de uma
diocese.
Dentre as
resoluções importantes tomadas no Concílio de Trento, temos também: Afirmar a
transubstanciação durante a eucaristia, ou seja, a transformação do corpo e
sangue de Jesus Cristo no pão e no vinho; afirmar o celibato; afirmar a
veneração dos santos e da virgem Maria; aprovar o estatuto da Companhia de
Jesus; afirmar a tradução da Bíblia feita por Jerônimo para o latim como sendo
a tradução oficial da Igreja; manter o latim como língua na missa e na Bíblia;
organizou e disciplinou o clero, criando seminários para a formação de padres e
estipulando uma idade mínima para ser padre (25 anos) e bispo (30 anos); afirma
que o papa é o “pastor universal de toda a Igreja”, fortalecendo deste modo a
hierarquia; foi também criado um novo catecismo para o ensino da fé cristã;
além de outras medidas.
Além do Concílio
de Trento, foi fundada em 1534 a Companhia de Jesus, os jesuítas (soldados de
Cristo), por Inácio de Loyola, que se tornaram responsáveis por divulgar a
Igreja católica por todo o mundo, em particular na recém descoberta América.
Também foram criados seminários para aperfeiçoar a formação dos sacerdotes. E também
tivemos a tentativa de silenciar o clamor das reivindicações protestantes por
meio da Santa Inquisição, esta exerceu maior perseguição em regiões onde
imperava ainda fortemente o catolicismo, tal o caso de Portugal, Espanha e da
Itália.
As medidas
adotadas pela Igreja Católica para se contrapor à Reforma protestante não foram
obrigatoriamente no sentido de uma mudança e do reconhecimento das
reivindicações propostas pela reforma, no lugar de tal, houve uma reafirmação de
posicionamentos teológicos, adotando medidas para validá-los e defende-los.
Estas decisões e propostas se ativeram basicamente a dois grupos: disciplina e
doutrina. A afirmação de que a salvação se dá pela fé e também pelas obras.
A contra-Reforma
foi uma nítida e forte manifestação de defesa da Igreja Católica Apostólica
Romana contra a Reforma e a perda de territórios e crentes para as novas
religiões cristãs reformadas. Houve aqui uma ênfase na disciplina e na doutrina
da Igreja, visando a moralização da mesma e a mudança de hábitos contrários à
prática cristã primitiva e que eram percebidos como corrupção por parte do
clero, no entanto, anunciar mudanças e estas de fato ocorrerem são coisas bem
diferentes. As mudanças morais no clero e na hierarquia da Igreja não ocorreram
de modo imediato e comportamentos não condizentes com as práticas cristãs
primitivas, bem como dignos da acusação de corrupção do clero feita pelas
Igrejas Reformadas, continuavam presentes. As pessoas não mudam por um passe de
mágica ou por decisões tomadas por um grupo e apresentadas por escrito em um
papel timbrado, as mudanças comportamentais e sociais tendem a ocorrer
lentamente e, por vezes, ocupando mais de uma geração.
O problema de
ataques homicidas nas instituições de ensino não é algo recente e muito menos
se iniciou no Brasil. O primeiro de que temos notícia ocorreu nos EUA no ano de
1927, na cidade de Bath, Michigan. Nesta ocasião um ex-funcionário da escola,
Andrew Kehoe, fez uso de explosivos colocados na escola, matando um total de 45
pessoas, dentre as quais estavam 38 crianças. Já em nosso país, o primeiro
ataque ocorreu em uma escola no ano de 2002, na cidade de Taiúva, São Paulo.
Nesta ocasião, um ex-aluno adentrou armado na escola e atirou em direção aos
alunos que ali estavam, o que resultou na morte de três pessoas e em várias
outras feridas. Já o caso emblemático mais famoso depois deste primeiro
incidente ocorreu em abril/2011, no bairro de Realengo, na cidade e Estado do
Rio de Janeiro. O evento consistiu de um homem armado, ex-aluno, Wellington Menezes
de Oliveira, de 23 anos, que entrou em uma escola municipal e conseguiu matar
12 estudantes e ferir outros 22.
Nos EUA o ataque
recente mais emblemático foi o de Columbine, Colorado, ocorrido em abril /
1999, com o uso de armas de fogo, tendo um total de 15 mortes (incluindo os
dois agressores) e 24 feridos. As investigações no Brasil apontaram que os
responsáveis pelo atentando de Suzano, SP, se inspiraram no caso de Columbine.
Guilherme Taucci
Monteiro, 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos, foram os agressores,
ex-alunos, na escola estadual Professor Raul Brasil, no município de Suzano,
São Paulo, em março/2019, sendo que Guilherme Taucci Monteiro é tido como o
idealizador. Usavam um revólver 38, arco e flecha, uma besta (um tipo de arco e
flecha), coquetéis molotovs, uma machadinha e um dispositivo em uma mala que
simulava uma bomba. Foram 10 mortes, incluindo os dois agressores e 11 feridos.
Organizadores de novos ataques após esta data tendem a usar de algum modo
(e-mail, avatar, etc.) o codinome de “Taucci” numa referência direta a um dos
perpetradores do massacre de Suzano SP.
No Brasil, o caso
mais recente (abril/2023) foi o ocorrido em março/2023 na escola estadual
Thomazia Montoro, na Vila Sônia, Zona Oeste de São Paulo, SP. Resultou na morte
de uma professora de 71 anos e em quatro feridos. O ataque foi executado por um
aluno de 13 anos de idade. Neste ataque não foram usadas armas de fogo, e sim
uma faca.
O ambiente escolar
em todos os níveis de ensino (creche, escola, universidade) tem sido palco, não
de hoje, de várias situações que envolvam agressões físicas e verbais e mesmo o
assassinato gratuito de estudantes, professores e demais funcionários, seja por
meio do uso de arma de fogo, faca ou outro instrumento que possa ferir ou
matar. Além disto, temos também a propagação de notícias falsas sobre a
iminência de um novo ataque, seja por meio de pichação nas instalações
escolares ou em mensagens colocadas em redes sociais, ameaças estas muitas
vezes encobertas pelo anonimato. Tornou-se comum avisar que irá ocorrer um tal
evento. Nos avisos dados, por vezes falsos avisos, são determinantes datas que
tenham um significado, seja o aniversário de um grande líder político cujo nome
seja associado a genocídio, ou a algum atentado famoso ocorrido no passado.
Muitas vezes, o objetivo destes avisos é somente criar sensacionalismo e
pânico. Atônitos, presenciamos por meio dos veículos de mídia a realização de
massacres e banhos de sangue no ambiente escolar.
Podemos nos
perguntar, também, quanto às possíveis motivações que levariam uma ou mais
pessoas a cometerem estes atos de agressão, no entanto, as respostas
resultantes de tal pergunta seriam muito variadas e complexas, ou mesmo,
difíceis de serem determinadas com a precisão necessária. Pesquisas na área
tendem a apontar algumas possíveis causas que podem ser responsáveis por tais
ataques, dentre as quais cabe aqui citar: 1- problemas de saúde mental por
parte dos agressores (histórico de problemas mentais, tais como: depressão,
ansiedade, transtornos psicóticos, etc.), 2- Assédio e Bullying ocorridos no
passado com o agressor (no passado esta pessoa poderia ter sido levada a uma
situação de alienação e mesmo exclusão social no ambiente escolar), 3-
Facilidade no acesso e conhecimento sobre o manejo das armas escolhidas para o
evento, 4- Possível influência motivadora exercida por meio de grupos
extremistas ou determinadas ideologias (cujo contato possa ter sido facilitado
pela internet, darknet e redes sociais). Podemos falar aqui, portanto, em
problemas de saúde mental, bullying / assédio escolar, dificuldades ou
problemas familiares, traumas vividos no passado pelo agressor, nutrir um
sentimento de ter sido excluído ou marginalizado socialmente, sofrer influência
de culturas vinculadas à violência, desejo de fama, desejo de vingança.
Cada caso de
agressão é único e resultado de uma combinação também única de fatores ali
envolvidos que acabaram por levar àquele desfecho. Para entender as motivações
vinculadas a algum caso particular é necessário conduzir uma investigação
especifica e detalhada sobre as circunstâncias ali envolvidas.
Ocorrido um fato
de tal magnitude, diversas consequências podem estar presentes, envolvendo
todas as partes constantes no evento. Deste modo, as pessoas presentes na
escola no momento do ataque podem desenvolver traumas emocionais, apresentarem
lesões físicas ou mesmo virem a óbito, os alunos podem posteriormente ao evento
terem baixo rendimento escolar ou comprometimentos em sua vida pessoal. As
pessoas envolvidas no evento podem ter dificuldades em reassumir a sua rotina
na instituição. Pode também gerar por parte da comunidade a perda da confiança
nas instituições de ensino. Pode haver também gastos com tratamento médico e
psicológico. Os sobreviventes, familiares e amigos podem passar pelo sentimento
de luto pela perda das pessoas que conheciam, traumas emocionais que requeiram
tratamento e acompanhamento psicoterapêutico. Já para a sociedade, em
particular a comunidade envolvida no evento, temos a maior preocupação com a
segurança, sentimento de ansiedade quanto à nova ocorrência trágica, prejuízo
para a credibilidade da escola no tocante à segurança, prejuízos na rotina
diária daquela instituição de ensino. A sociedade, por sua vez, passa a ter uma
maior preocupação com a segurança e o receio, também, com a ocorrência de novos
eventos deste nível.
Grupos políticos
com suas pautas ideológicas se aproveitam da situação para tentarem a aprovação
de leis coerentes com suas crenças, como tal é o caso das campanhas de
desarmamento, que tentam associar a venda de armas legais com ataques muitas
vezes perpetrados com armas ilegais, ou, armas outras que não as de fogo. Temos,
por exemplo, o slogan “Livros sim! Armas não!”, apregoando que a proibição, ou
maior restrição a comercialização de armas legais, levaria ao fim desta e de
outras situações de violência urbana. Ocorre que por vezes tais ataques não são
efetivados por meio de armas de fogo e sim por outros instrumentos, tais como:
explosivos, facas, bestas, etc.
Todos concordam
sobre a necessidade de se incrementar políticas públicas de proteção ao
ambiente escolar, a divergência passa a ocorrer, no entanto, quanto a quais
políticas seriam as mais adequadas e quais outras não estariam se aproveitando
do medo gerado pela situação para a aprovação de leis vinculadas a uma pauta
ideológica previamente definida e indiferente a existência ou não de ataques no
ambiente escolar.
Muitas vezes os
ataques as escolas são perpetrados por alunos ou ex-alunos e os motivos
alegados tendem a direcionar para uma vingança em relação a situações
constrangedoras de bullying pelas quais os atuais agressores teriam passado.
Quando um atentado destes é perpetrado com êxito, por vezes ao final do mesmo
os próprios autores do atentado cometem suicídio. O suicídio já estava dentro do
roteiro exaustivamente planejado pelos autores antes da execução do ato.
Algumas medidas
preventivas ocasionalmente são tomadas quando diante da ocorrência de um ataque
ou da ameaça do mesmo ocorrer. Geralmente tais medidas incluem a abertura de
investigação por parte da polícia de situações envolvendo a possibilidade de um
ataque (mensagens veiculadas nas redes sociais, jogos violentos, aplicativos,
pichações no ambiente escolar, etc.), reforço no policiamento próximo a
unidades escolares, disponibilização de canais para recebimento de denúncias,
etc.
Há quem cogite um
“efeito contágio” que atuaria depois da realização de um ataque a uma unidade
de ensino em algum lugar do mundo, sendo a mesma amplamente noticiada pelos
meios de comunicação e gerando, deste modo, a inspiração ou mesmo a motivação
para que pessoas ou grupos em outros locais possam empreender situações
semelhantes.
Criou-se também o
receio de que aplicativos e jogos disponíveis na Internet ou mesmo a troca de
mensagens por meio de redes sociais, possa de alguma forma incentivar e
produzir tais ataques. Há também quem defenda que por trás da maioria dos
ataques concretizados ou em preparação encontra-se a presença de grupos na
Internet ou mesmo redes sociais de trocas de ideias e informações onde o ataque
possa ser preparado, estimulado e mesmo orientado. Também há os que defendem
que na motivação básica dos que praticam tais atos se encontraria motivos tais
como: misoginia, homofobia, racismo e xenofobia. Também muitas vezes tais
agressores são associados a grupos extremistas radicais.
O discurso
endossado por educadores e especialistas em segurança, política e
ideologicamente de esquerda, tem sido culpar a extrema direita pelos sucessivos
ataques, bem como, a Internet e grupos neonazistas. A este suposto extremismo
de direita, associam o discurso de ódio e a cooptação do aluno por grupos radicais
neonazistas que defenderiam uma pauta marcada pela ideia da supremacia branca e
masculina, valorizando o preconceito, a discriminação e o uso indiscriminado da
força. Seria um discurso de encorajamento a atos agressivos e violentos no
ambiente escolar. Dentro deste discurso temos a narrativa de que tais atos
criminosos estariam associados ao discurso de ódio e a propagação de uma
cultura das armas. Interessante que é o mesmo discurso que se mostra contrário,
afirmando ser ineficaz, a maior presença de um policiamento ostensivo e armado
próximo ao ambiente escolar, muitas vezes considerando, mesmo, como ofensivo a
presença de policiais armados próximos ao ambiente escolar.
Alguns estudos e
comentadores do tema buscam traçar um perfil do agressor. Ao buscar traçar um
perfil deste agressor, encontram alguns indícios que levam a um perfil onde
temos geralmente indivíduos jovens do sexo masculino, brancos, com baixa
autoestima, não populares no ambiente escolar, com uma presença mais acentuada
em relações virtuais pela internet. Geralmente tais indivíduos não possuem
perspectiva ou propósito definido para sua vida no momento presente e futuro.
Pode haver, também, uma sensação de pertencimento a algum grupo mais radical ou
a identificação com algum personagem ficcional ou real que tenha praticado atos
violentos, como o próprio caso de um ataque a uma instituição de ensino. O
óbvio é que na ausência de uma cadeia de comando vinculada ao lucro ou a
vingança e penalização por parte de um comportamento não aceito em uma
organização, como o que pode ocorrer na Máfia e no crime organizado em geral, o
que temos é um desequilíbrio emocional ou mesmo algum tipo de transtorno mental
presente, mesmo que não tenha sido anteriormente diagnosticado. Ser alvo de
bullying jamais seria a causa única de um tal comportamento, mas pode atuar
como elemento catalizador e motivador. Também a exposição a comportamentos
violentos desde a mais tenra idade, seja em sua própria casa ou na região em
que vive, pode ter um efeito que contribua em alguma medida para tal desfecho.
A rigor devemos
afirmar não existir fundamentação teórica para montar um perfil deste tipo de
agressor e que um perfil montado com base em dados aleatórios e não devidamente
comprovados tende a ser perigoso, pois, se por um lado podemos classificar como
perigosos alguns alunos que na verdade não o são, por outro lado, tendemos a
deixar de lado potenciais agressores. Sem maiores dados, tal esforço pode ser
visto como reducionista e perigoso. Os atuais estudos nos apresentam que não há
um perfil social ou psicológico de agressores, seja por meio do uso de facas,
armas de fogo ou outras ferramentas que denotem a presença de violência, o que
temos nestes casos ocorridos nas escolas é um conjunto de fatores, os quais,
quando presentes em sua totalidade, tendem a propiciar ao sujeito a tomada de
uma decisão, uma escolha individual, que o leva a praticar tal ato.
Ao contrário de
crimes passionais, crimes motivados unicamente por vingança ou raiva, o que
temos aqui via de regra é uma situação exaustivamente preparada e cujo objetivo
se dá com a consequente notoriedade ao aparecer na mídia, seguido pelo
sentimento de obter o reconhecimento de seu valor pelo grupo ou comunidade ao
qual o indivíduo se sente inserido, não necessariamente na realidade, mas sim
em sua fantasia.
Analisando os
casos ocorridos no Brasil temos que situações de uso de armas de fogo, ou facas,
ou outras, dentro do ambiente escolar visando atacar alunos, professores e
funcionários, não é algo que possua uma resposta simples ou causa única, como
também não possui uma solução simples, imediata e única. Constitui um problema
social complexo e no qual temos uma multiplicidade de fatores envolvidos, vão
desde o bullying sofrido no passado pelos agressores, até o possível perfil
sociopsicológico mais violento e agressivo destes sujeitos. Nestes agressores
em geral temos o histórico de problemas de saúde mental, incluindo depressão,
ansiedade, transtornos psicóticos, entre outros. Passa também pelas possíveis
estratégias de segurança e prevenção que possam vir a ser adotadas diante deste
grave problema social, bem como, pelas relações sociais e afetivas ocorridas dentro
do ambiente escolar entre todos os seus atores (alunos, professores,
funcionários). As relações sociais e familiares dos agressores, seu vínculo
emocional e sua sensação de pertencimento ou não a um determinado grupo também
deve ser analisada.
Já os sobreviventes
irão passar por momentos sociais e emocionais muito difíceis, como, por
exemplo, o estresse pós-traumático. Não são somente as pessoas mortas ou
fisicamente feridas que sofrem as consequências de um tal evento, mesmo pessoas
que não estiveram presente no local no momento do evento irão vivenciar um
drama particular, como no caso dos familiares das vítimas e daqueles que mesmo
não tendo sofrido consequências físicas, estavam presentes no local e poderiam
tê-las sofrido.
Para crianças o
problema é maior, podendo afetar o desenvolvimento cognitivo, emocional e
social, a não superação deste evento traumático tende a proporcionar o
desenvolvimento de uma sintomatologia de modo continuado com impacto marcante
na vida da pessoa.
Quando pensamos em
estratégias para lidar com a situação, precisamos ter em mente que esta cena já
foi repetida diversas vezes por todo o Brasil, bem como, em muitos outros
países. Não há uma solução fácil ou mesmo definitiva, pois, envolve estados
emocionais e patológicos, vínculos sociais e familiares. A curto prazo, no
entanto, alguma solução precisa ser dada e levando em consideração que a
tendência é que este problema continue a se repetir nos próximos anos. A ideia
de ampliar os mecanismos de segurança nas escolas é paliativa, pois, não atinge
as causas do fenômeno, mas pode reduzir a probabilidade da ocorrência do mesmo.
Estratégias de segurança devem, portanto, serem adotadas, que podem envolver o
projeto arquitetônico de futuros prédios destinados à escola, a presença de
algum tipo de alarme ou aplicativo de fácil uso para comunicar a ocorrência e
pedir ajuda, a uma maior presença de segurança armada no entorno da escola,
colocação de um sistema de câmeras de segurança na escola, reforçar a segurança
nas entradas de acesso a escola, treinamento de todos (seguranças,
funcionários, professores, alunos) para como se comportarem diante de um evento
deste nível.
Cabe entender, por
exemplo, que o agressor planejou o ataque em seus mínimos detalhes por muito
tempo e que ao final do mesmo pretende se suicidar. O objetivo é proporcionar o
maior número de vítimas e conseguir notoriedade com a ação. Por tal motivo, este
indivíduo não está propenso ao diálogo ou negociação. Cabe às pessoas no local
fugirem ou, se não for possível, se trancarem em alguma sala bloqueando as
entradas com algo bem pesado, ou ainda, se as duas primeiras opções não forem
possíveis, se esconderem e saírem totalmente da vista do agressor. Se nenhuma
destas opções for possível e a pessoa estiver próxima do agressor, suas
melhores chances estarão em atacar e neutralizar o agressor, pois, previamente
o agressor já pretende matar a todos, e se você nada fizer será morto pelo
agressor. Quanto ao pessoal treinado para segurança, cabe eliminar a ameaça,
tendo em mente que pelos motivos que levam ao ataque, este indivíduo não irá se
entregar e se ferido for, irá preferir cometer suicídio, algo presente desde o
início do planejamento do ato.
A solução pode ser
encontrada na prevenção e intervenção precoce diante da demonstração de
problemas mentais graves, em combater o bullying e assédio no ambiente escolar,
em proporcionar um ambiente que favoreça o diálogo e a inclusão social entre os
alunos, professores e funcionários, dentre outros fatores também importantes.
A Reforma
religiosa (século XVI), também conhecida por Reforma protestante, exerceu forte
influência sociocultural na história mundial que se irradiou pelos mais
diversos campos, passando pela política até a economia. Os comentadores do
período não têm dúvidas em afirmar ser Martinho Lutero (1483-1546) o iniciador
da reforma, no entanto, não há pleno consenso quanto a data de seu início. Há
os que consideram como marco inicial da Reforma o momento histórico no qual
Lutero afixou na porta da Igreja do castelo de Wittenbeng as suas 95 teses
contra a prática da venda de indulgências, em 31 de outubro do ano de 1517.
Outros há que preferem como marco do começo da Reforma o ano de 1530, com a
“confissão de Augsburgo”.
Todos concordam,
no entanto, que há outros pensadores importantes que antecederam Lutero na
defesa de reformas religiosas dentro da Igreja Católica Apostólica Romana, como
tal é o caso de: John Wycliffe (1320 a 1328-1384), Jan Hus ou John Hus (1369,1372
ou 1373-1415), Girolamo Savonarola (1452-1498). E outros pensadores que atuaram
na Reforma após Lutero ter afixado suas 95 teses, em 1517, como tal é o caso
de: Thomás Müntzer (1490-1525), Ulrich Zwingli (1484-1531), João Calvino
(1509-1564). Já na Inglaterra, temos o rompimento com a Igreja Católica em
1534, quando o rei Henrique VIII assume a autoridade da Igreja de seu país,
criando a Igreja Anglicana.
Portanto, desde
o século XIV tivemos pensadores alertando para a necessidade de uma reforma da
Igreja e pagando com a própria vida por tal empreitada. A Igreja Católica foi
alertada que algo estava profundamente errado e teve tempo e oportunidade para
mudar, mas preferiu calar e mesmo matar aqueles que ousavam abertamente
questionar, deste modo não resolveu as insatisfações e problemas e abriu espaço
para um movimento que resultou em uma cisão que não pode ser contida.
Todos estes
pensadores tem um núcleo comum em suas reivindicações, que se encontra junto a
corrupção do clero e o afastamento da Igreja de seus fundamentos históricos e
primitivos. Não havia de início uma clara tentativa de romper com a Igreja
Católica e sim de reforma-la, foi na medida da oposição e intransigência da
Igreja que acabou ocorrendo o rompimento definitivo.
O contexto no
qual a Reforma eclode é o do Renascimento e Humanismo, que começa na região da
Itália e abrange os séculos XIV, XV e XVI. Há o resgate de antigos textos
gregos e a tradução para o latim, bem como, posteriormente para as línguas
nacionais. Ocorrem mudanças profundas na Europa, tanto no nível político com o
surgimento dos Estados nacionais absolutistas; como no nível cultural, onde
ocorreu um deslocamento da ênfase antes colocada em Deus, para o homem, uma
mudança do teocentrismo medieval para uma forma de antropocentrismo. A economia
também muda, de uma economia agrícola baseada na servidão presente na Idade
Média, para o início do mercantilismo, marcando os primórdios do surgimento do
capitalismo. Novos interesses políticos surgem e o comércio se desenvolve
largamente. Também temos um desenvolvimento nas artes, na literatura, nas
ciências e na filosofia. Tudo isto somado a invenção da imprensa de tipos
móveis.Lutero
foi favorecido em sua empreitada pela invenção da imprensa de tipos móveis por
Gutenberg no século XV (entre 1439-1440).
Neste novo
contexto que começava a surgir e a apontar para mudanças futuras, a Igreja
Católica se apresentava como representante do antigo sistema feudal. Em um
mundo em transformação que começava a valorizar as diferenças que constroem as
nacionalidades, como o idioma e a cultura, a Igreja fazia presente uma antiga
ideia de universalidade, contrária à fragmentação em Estados nacionais. A
Igreja também era a maior proprietária de terras na época, cobrava o dízimo e
outras taxas, além de exercer influência política sobre os príncipes e seus
territórios, o que há um só tempo desagradava estes príncipes, como também
gerava a cobiça pelas terras da Igreja e pelo dinheiro que escoava de seus
territórios (taxas, dízimos, indulgências, etc.) para Roma. Alguns comentadores
consideram que a Igreja Católica era proprietária de um terço das terras na
região da Alemanha e de um quinto das terras na França. Aliás, o idioma adotado
oficialmente pela Igreja, o latim, dava a aparência, para os príncipes, de
estar lidando com um Estado estrangeiro e rival. Por sua vez, a nascente
burguesia se ressentia pela doutrina então adotada pela Igreja sobre o lucro
justo e a condenação da usura (cobrança de juros por empréstimos e acúmulo de
dinheiro).
Tivemos presente
alguns momentos mais radicais, como a destruição de objetos vinculados ao luxo
e obras de arte em fogueiras, bem como a proibição do jogo, da bebida e das
festas,por
Savonarola e seus seguidores. Savonarola se apresentava contrário à
libertinagem do clero e buscando uma educação condizente com a fé cristã. Bem
como, também, a revolta dos camponeses encabeçada por Müntzer, por melhores
condições de vida.
Lutero e outros
mais se opuseram à venda de indulgências (pagar para comprar o perdão de seus
pecados e a salvação); a simonia (venda de coisas vinculadas à religião, sejam
supostas relíquias ou cargos eclesiásticos); o nicolaismo (apesar da imposição
do celibato, os religiosos se relacionavam com mulheres e tinham filhos, fossem
esposas e famílias não oficiais, ou prostitutas).
Defenderam a
tradução da Bíblia para o idioma falado pelo povo na sua região; que a missa
fosse proferida não em latim, mas sim na língua do povo da região; a abolição
do celibato entre os religiosos; que a salvação se dá pela graça de Deus e que
a única autoridade válida em questões de religião se encontra nos escritos
sagrados. Alguns irão defender a importância das obras, outros, como Lutero,
somente pela fé e a graça de Deus, e alguns (Calvino) irão destacar a
predestinação dos que serão salvos.
O protestantismo
não é algo que surja pronto e acabado de uma só vez, teve a participação de
vários líderes religiosos, bem como a influência de outros pensadores a margem
do movimento, como o caso de Erasmo de Rotterdam, dentre outros. Existem várias
divisões discordantes entre si dentro do movimento da Reforma, de modo que este
movimento não nasce uno, e sim múltiplo, e como tal se apresenta ainda nos dias
atuais.
Interessante
notar que para a Igreja Católica Apostólica Romana há uma enorme ênfase na autoridade
representada por uma pessoa a frente de um determinado cargo ou de uma
instituição, autoridade esta que deve ser respeitada e acatada diante de
qualquer tentativa individual de questionar ou interpretar a religião ou os
escritos sagrados. Neste caso, mesmo comentadores mais antigos tem primazia
sobre a verdade no tocante a alguma divergência com relação ao texto sagrado,
trazendo, deste modo, a autoridade dos escritos dos primeiros padres da Igreja
e de outros autores medievais. Já no protestantismo não há outra autoridade que
não seja a Bíblia e cada qual pode ler e interpretar o texto sagrado, deste
modo, podemos também afirmar que a Igreja Católica há de valorizar e muito o
coletivismo, onde decisões são tomadas em concílios e baseadas nas opiniões
emitidas pela tradição, já o protestantismo há de valorizar o individualismo e
a autoridade do texto sagrado interpretado pelo próprio indivíduo, pois, temos
o sacerdócio universal e não a dependência de autoridades outras.